Militares são cúmplices de Bolsonaro na tentativa de melar as eleições, diz membro do Observatório da Extrema-Direita

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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"Forças Armadas estão ao lado do Bolsonaro, operando para que as eleições transcorram de acordo com a vontade deles"

Há uma série de indícios de que os militares ficarão ao lado de Jair Bolsonaro em eventual tentativa de golpe na eleição de outubro de 2022. É o que avalia o cientista político da FGV e membro do Observatório da Extrema Direita, Guilherme Casarões, em entrevista exclusiva à TVGGN [assista abaixo].

“Não me parece um cenário mais tranquilo do que a gente viu em 2018. E mesmo no quadro atual, em que todas as pesquisas apontam que Lula está à frente, com chances de ganhar no primeiro turno, eu não contaria com isso. Aliás, não contaria com nenhuma tranquilidade política até outubro”, advertiu o especialista.

“Se a gente entende bem a tática da extrema-direita, eles vão tentar melar o processo eleitoral a todo custo. Cabe muita vigilância até lá.”

Frente a derrota iminente, Bolsonaro tem repisado falsamente que não há transparência nem segurança no processo eleitoral, e conta com uma facção das Forças Armadas para criar uma suspeição contra as urnas. Eles têm defendido uma “contagem paralela de votos”, com um único objetivo: tumultuar eventual vitória de Lula.

Leia também: Xadrez de como será o golpe da urna eletrônica, por Luís Nassif

O GOLPISMO DOS MILITARES

Nas últimas semanas, cresceu a tensão entre as Forças Armadas e o Tribunal Superior Eleitoral, que convidou a instituição subordinada ao Executivo para participar do comitê de transparência das eleições. Desde então, os militares pressionam para fazer mudanças no sistema eleitoral que o TSE vem considerado desnecessárias.

“Existe conjunto amplo de indícios de que os militares são cúmplices direto do presidente Bolsonaro nesta construção de uma narrativa de fraude eleitoral e de criar condições para que as eleições de outubro não se realizem ou não transcorram de maneira correta”, analisou Casarões.

Para o cientista político, Bolsonaro e os militares golpistas estão “insuflando a militância a tentar virar o jogo de maneira violenta, como já vimos em outros lugares – a invasão do Capitólio, no 6 de janeiro.”

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GOLPE TRAMADO À LUZ DO DIA

Casarões chama atenção para um ponto relevante na conjuntura política atual. Em outros momentos da história, golpes para remover do poder um governo progressista foram precedidos de protestos de massa, impulsionados por movimentos internos financiados por grupos estrangeiros.

Exemplos recentes são as jornadas contra o impeachment, que deu azo a grupos como o MBL, que depois entrou para a política através do voto. “Mas o fato é que agora não estamos mais falando de financiamento oculto a movimentos sociais, mas de um governo que está tramando à luz do dia a sua permanência no poder. Isso é muito preocupante.”

“O que me parece obvio é que, ao contrário dos EUA, onde a gente viu as Forças Armadas se colocando terminantemente contra qualquer tentativa de golpismo presidencial, na tentativa do Trump, infelizmente as Forças Armadas estão do lado do Bolsonaro operando nas sombras e à luz do dia também para que as eleições transcorram de acordo com a vontade deles e não dentro da vontade democrática.”

Jair Bolsonaro e Alexandre de Morais. O atual presidente do TSE também presidente inquéritos no STF que atacam o coração do bolsonarismo. Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil

A REAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

Na visão de Casarões, o Poder Judiciário, sobretudo por meio do Supremo Tribunal Federal, tem dado sinais de que reconhece a gravidade da crise. Desde 7 de Setembro de 2022, quando o bolsonarismo ensaiou um fracassado atentado à sede do STF em Brasília, os ministros estão de olho e conversando com a cúpula das Forças Armadas para esfriar a temperatura.

“O problema é que a militância bolsonarista tem a convicção de que o grande inimigo da Nação chama-se STF, mais precisamente Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Toda a contenda com Daniel Silveira, a prisão do Francischini e outros deputados, por espalharem fake news, acabou gerando um acúmulo de ódio contra essas figuras, numa tensão institucional sem precedentes. Não temos nada parecido desde o AI-5.”

Questionado se a democracia brasileira será capaz de resistir ao golpe a caminho, Casarões é realista. “Eu não acredito que nossa democracia tenha condições de segurar sozinha um presidente golpista, tresloucado, sem que a sociedade dê um recado muito claro de que está ao lado das instituições. Porque os militares aparentemente – ou pelo menos a parte mais vocal das Forças Armadas – estão do lado do presidente. É um perigo real, com o qual vamos lidar daqui pra frente.”

Assista:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. Guerra híbrida já era:
    Há indícios claros de que o jogo democrático está encerrado. As tropas (no sentido real, não no figurado) estão se preparando para uma ação em pinça. A crença de que uma vez deflagrado o golpe, os golpistas não teriam o necessário apoio internacional para se sustentarem no poder não passam mais do que uma crença.
    O Governo Biden demonstra abertamente uma falta de compromisso com os apregoados valores democráticos. A notícia veiculada por Tucker Carlson da Fox News de que Biden foi convencido a não apoiar Lula (https://www.brasil247.com/midia/tucker-carlson-ancora-mais-conhecido-da-fox-vem-ao-brasil-e-diz-que-bolsonaro-convenceu-biden-a-nao-apoiar-lula) não surpreende. Biden demonstra estar mal equilibrado internamente e passou a se comportar como fera acuada. Não hesitará em prestar apoio público a golpistas: aqui, na Colômbia, no Chile, além dos “suspeitos” de sempre: Cuba, Venezuela, Nicarágua.
    A guerra híbrida, na surdina, iniciada em 2012, já é uma guerra ampla, geral e irrestrita, sem pudores. Maria Christina Fernandes (do Valor Econômico) demonstra, com argúcia, que a escolha de Braga Netto para a vice de Bolsonaro não foi motivada para angariar um mísero voto a mais, e sim, apenas para contestar as eleições (https://www.brasil247.com/brasil/escolha-de-braga-netto-diz-que-bolsonaro-que-contestar-e-nao-vencer-as-eleicoes-aponta-maria-christina-fernandes). A vida de Lula está em perigo.

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