Jornal GGN – O jornal The New Yorker publicou na quinta (9) um artigo de esfarela mais um pouco a imagem de Jair Bolsonaro no exterior, usando como contexto suas ações na pandemia de coronavírus.
O texto cita especialistas brasileiros que projetam uma imagem muito clara de como o despreparo e a falta de vontade do presidente da República em lidar com a covid-19 de maneira séria, custou e continuará custando milhares de vidas que poderiam ser poupadas.
Num País que viveu mais de 3 séculos de escravidão, ainda hoje marcado pela desigualdade social, a necropolitica de Bolsonaro tem alvo certo: a população negra, mais pobre, periférica. São eles os que não conseguem fazer isolamento social porque vivem em moradias precárias; não conseguem cumprir com as medidas de higiene porque não têm saneamento básico adequado. O “fique em casa” não funciona para aqueles que precisam batalhar diariamente para por comida na mesa.
Para o The New Yorker, Bolsonaro “zombou” da gravidade da doença desde o começo e “criou sozinho o caos” no qual o País se encontra. “Menosprezou a severidade [da covid-19], apesar das evidências esmagadoras de seu perigo; desafiou publicamente as medidas de isolamento social, caminhando entre multidões e apertando as mãos, e incentivando outros a fazê-lo; brigou com um e demitiu outro ministro da Saúde, e minou os esforços dos demais líderes do país.” Até a frase de Bolsonaro – “Desculpe, algumas pessoas vão morrer. Eles vão morrer. Isso é vida. Você não pode parar uma fábrica de automóveis por causa de mortes no trânsito” – ficou registrada na matéria do veículo internacional.
O New Yorker destacou, porém, que não é qualquer vida que Jair Bolsonaro anda desprezando. “(…) com o aumento das taxas de infecção no Brasil, surgiu uma imagem mais clara de cujas vidas o presidente aparentemente considera descartáveis. No início do surto, o maior número de casos ocorreu em bairros ricos – os únicos lugares com acesso a testes. Com o tempo, trabalhadores da necrópole de Vila Formosa, o maior cemitério da América Latina, notaram uma aceleração nas mortes de pessoas nas periferias da cidade. Agora, a taxa nas favelas e periferias é oficialmente dez vezes maior que a média no resto do país. Mais da metade dos casos do Brasil está na região sudeste, onde cerca de dez milhões de pessoas vivem em casas não conectadas a redes de esgotos, e cerca de sete milhões não têm acesso à água corrente.”
“A desigualdade no sistema de saúde do Brasil também é extrema. Sessenta por cento dos leitos de UTI no estado de São Paulo estão em três de suas regiões mais ricas e apenas vinte e cinco por cento da população nacionalmente tem seguro de saúde privado ou pode pagar. A disparidade resultante por raça nas taxas de mortalidade relacionadas ao coronavírus é flagrante: negros em São Paulo têm sessenta e dois por cento mais chances de morrer de covid -19 do que brancos”, resumiu.
O jornal ouviu de Raquel Rolnik, professora de planejamento urbano da Universidade de São Paulo e ex-relatora especial da ONU em moradias adequadas, que Bolsonaro afundou o Brasil ainda mais na miséria social quando assumiu o poder e parou de investir em habitações. “Desde os anos 1960, o custo da moradia no Brasil está além do alcance do trabalhador médio. ‘O mantra deve ser ‘ficar em casa”, disse Rolnik, mas ‘no caso do Brasil, para ficar em casa, é preciso ter uma casa para começar’. Quando assumiu o cargo, Bolsonaro dissolveu o Ministério das Cidades, que havia investido setecentos e oitenta bilhões de reais em imóveis por mais de uma década, muitos deles em imóveis públicos para brasileiros de baixa renda. ‘Agora é deserto novamente’, disse Rolnik.”
“A relutância de Bolsonaro em pressionar pelo isolamento e sua vontade de deixar os vulneráveis morrerem, acrescentou Rolnik, é emblemático de sua maior ‘filosofia absolutamente pró-morte e prática da necropolítica’.”
A historiadora Lilia Schwarcz deu sua contribuição ao texto frisando o terraplanismo que também é inerente ao bolsonarismo. “Schwarcz argumenta que a falta de desejo do governo de intervir em nome dos pobres moradores de favelas negras e povos indígenas é uma continuação de uma era anterior na história do país. Muitos dos seguidores de Bolsonaro acreditam que os ganhos dos últimos trinta anos para os brasileiros negros, como um sistema de cotas projetado para dar mais acesso aos estudantes negros à educação, estão privando outros brasileiros das oportunidades a que têm direito”, resumiu o jornal.
“No Brasil, onde os seis homens mais ricos detêm a mesma quantidade de riqueza que a metade mais pobre da população, o fardo desproporcional da crise para os negros e pardos pobres desafiou a ilusão profunda e popular do país de ser uma sociedade igual e sem raça”, acrescentou o The New Yorker, que também abordou a questão da população carcerária no contexto da covid-19.
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