“Os crimes digitais vieram para ficar”, diz doutora em Direito Penal

Apesar dos esforços governamentais e do BC, Brasil é o segundo país com mais tentativas de golpes na internet na América Latina

Crédito: Envato / rawf8

O Brasil é o segundo país com maior número alvo de crimes cibernéticos na América Latina e, de acordo com um levantamento do Datafolha, em parceria com o Fórum de Segurança Pública, constatou que criminosos cometem 4.678 tentativas de golpes financeiros em canais digitais por hora.

Para entender este cenário, o programa TVGGN Justiça da última sexta-feira (6) contou com a participação de Carla Rahal Benedetti, doutora em Direito Penal pela PUC, e  Paulo Condutta, coordenador da Comissão de Cibersecurity e do Grupo de Trabalho ‘Ações de Conscientização sobre fraudes da ABBC (Associação Brasileira de Bancos).

Para Carla, os crimes digitais vieram para ficar, especialmente porque as autoridades, profissionais do Direito e pesquisadores estarão sempre um passo atrás dos criminosos. 

“A evolução tecnológica avança numa rapidez que o direito não acompanha, né? Que a sociedade também não acompanha e que é inevitável. Práticas ocorrem por segundos, frações de segundos na rede. Na internet e em todas as plataformas que a gente pode considerar, existe a possibilidade com a outorga do Ministério da Economia, do Ministério da Fazenda”, comenta a convidada.

A doutora em Direito Penal acrescenta ainda ser necessário muito afinamento e lapidamento para que os profissionais da área consigam formular políticas de prevenção amparadas por Lei. 

Condutta explica que a maior tentativa de crimes digitais é uma forma de angariar fundos que se mostra uma alternativa ao assalto a agências bancárias, tendo em vista a série de barreiras adotadas pelos bancos para coibir crimes. 

O meio digital facilita ainda o acesso às informações dos usuários, essenciais para ludibriar a vítima. Os bancos, em contrapartida, tentam antecipar as fraudes e criar medidas para coibi-las.   

“A gente vem aqui com um trabalho muito grande, primeiramente empurrado e provocado pelo próprio Bacen [Banco Central], que define uma série de controles e normativos de segurança que todas as instituições devem aplicar nos seus meios digitais. Mas o principal objetivo também que a gente tem, o próprio meio digital e financeiro, ele demanda uma segurança adicional. Então, a gente vem investindo ativamente para buscar ali estar sempre à frente do bandido. É algo difícil”, pontua. 

Crimes digitais

Paulo Condutta afirma que há um esforço de diversos órgãos governamentais no combate aos crimes digitais, a exemplo das delegacias da Polícia Civil e Militar, atualmente capazes de investigá-los e identificar os bandidos. 

Porém, a atuação dos criminosos surpreende. Um dos crimes mais comuns é a instalação de aplicativos no celular dos usuários que dão aos bandidos o controle sobre o dispositivo. 

Mas o próprio especialista quase foi vítima de um golpe ao tentar devolver um notebook comprado em uma loja de varejo. “Quando eu dou a minha mensagem que eu queria devolver, no dia seguinte aparece um Uber aqui na frente de casa para pegar o computador. Já estava tudo embalado, eu vou levar para o motorista e ele fala: ‘Mas vem cá, a Samsung tem alguma loja no meio da comunidade?’ Eu falei que achava que não. Ele falou: ‘Então eu tenho a impressão que estão dando um golpe no senhor aí’”. 

Responsabilidade

Outro tipo de golpe comum, de acordo com os convidados, é abertura de contas em nome das vítimas. Mas, nessas e em outras situações, o banco tem a obrigação sim de reparar e até indenizar os consumidores. 

“Os bancos têm sido, sim, responsabilizados a depender se houve uma fragilidade em relação à própria atuação deles. Por exemplo, se alguém adentrou na minha conta num determinado banco e obteve ali uma retirada, um furto de valores, o banco tem que se responsabilizar. É o que a gente chama de responsabilidade objetiva. Ele deve indenizar, sim, a vítima. Então, toda vez que houver uma falha no sistema de proteção do banco, no sistema de serviços do banco, ele acaba sendo responsabilizado pelo dano causado à vítima”, explica Carla Rahal.

Para evitar cair em golpes, especialmente aqueles em que o criminoso se passa por uma pessoa próxima à vítima para pedir dinheiro, a recomendação dos especialistas é que sejam combinadas previamente frases de segurança, para que os envolvidos possam confirmar a identidade de quem está enviando as mensagens.

Confira o debate na íntegra no canal da TVGGN no Youtube ou no link abaixo:

LEIA TAMBÉM:

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Os bancos apostaram na digitalização de seus serviços para economizar diminuindo a quantidade de empregados e de agências. Eles tem acesso a recursos econômicos e tecnológicos que os seus clientes não têm e nunca terão. Os sistemas informatizados dos bancos armazenam todos os dados do perfil de cada cliente, incluindo idade, operações costumeiras e informações de geolocalização destas, mas não filtram e bloqueiam todas as transações que poderiam ser consideradas suspeitas. Os banqueiros preferem gastar algum dinheiro em propaganda do que investir no reforço dos seus sistemas virtuais de análise em tempo real das transações efetuadas por pessoas vulneráveis (especialmente idosos). O maior crime não é aquele cometido pelos punguistas virtuais e sim pelos próprios bancos com ajuda dos juízes que acolhem de maneira acrítica a alegação de culpa dos clientes vulneráveis (como se eles fossem iguais aos Bancos, apesar da relação assimétrica ser mais do que evidente).

  2. Não há a mínima possibilidade de acabar com os piratas enquanto existir ILHA DO TESOURO DO PIRATA. Os paraísos fiscais. São eles inibem os Estados convencionais a aplicar penalidades aos próprios piratas ou de outros, pela falta de cultura de honestidade. A única ferramenta que demove o ladrão é a censura social. Impossível de ser posta em prática num mundo de capitais tão fluídos. Com ILHAS DE PIRATAS espalhadas em todo o planeta.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador