Polícia e MP do Rio começam a usar delação premiada contra milícias

Crimes da milícia de Itaboraí começam a ser revelados a partir do depoimento de ex-integrantes. Delação premiada chegará ao caso Marielle e à milícia de Rio das Pedras?

Jornal GGN – A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro vêm conseguindo desvendar crimes praticados por grupos paramilitares do Estado a partir do uso da delação premiada. É o que informa reportagem especial do jornal EXTRA, nesta segunda (9), que sintetiza o acesso a cerca de 20 depoimentos de ex-integrantes da milícia de Itaboraí.

A reportagem deixa uma dúvida: as autoridades teriam interesse ou seriam capazes de aplicar o instituto da delação premiada com os presos do caso Marielle Franco? Seria possível negociar um acordo de cooperação com o miliciano e vizinho dos Bolsonaro, Ronnie Lessa, um dos acusados pela morte da ex-vereadora, por exemplo? Chegariam, assim, a esclarecer a relação da milícia de Rio das Pedras com a família presidencial?

EXTRA indica que, no caso de Itaboraí, a delação tem mostrado eficácia. Com o depoimento de ex-milicianos foi possível encontrar e identificar 18 cadáveres em um “ponto de desova” (ou cemitério clandestino) utilizado pelos assassinos.

Outras histórias vieram à tona, resultando no descortinamento de 13 homicídios até agora. “A estimativa do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP é que, até o fim de 2020, 30 denúncias sejam levadas à Justiça.”

Os delatores, em contrapartida, estão respondendo pelos crimes em liberdade e terão suas penas reduzidas.

Entre os casos revelados está o do mototaxista Jonathas Mendonça, 19 anos. Os delatores revelaram como o jovem foi submetido por à tortuna antes da morte: “cortaram braços e pernas com um machado, arrancaram o coração com um canivete”, levaram o órgão “para o santo” e depois enterraram o corpo.

A chacina que deixou 10 mortos em janeiro de 2019, que teve participação de milicianos e PMs do batalhão local, também entrou no acordo de delação. Quatro milicianos e um PM respondem pelo crime.

Redação

1 Comentário

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  1. Seria engraçado senão fosse trágico.

    É isso mesmo? O GGN, um baluarte da defesa do estado de direito, que se insurgiu contra os usos e abusos do instituto chamado delação premiada (que chegou a ser chamado aqui de extorsão, termo que eu concordo), inclusive pelo aspecto contraditório do Estado se “associar” a criminosos para “desvendar” crimes que não é capaz de elucidar, e que foi cúmplice na omissão e/ou no descaso quando era possível fazê-lo (principalmente por se tratarem de vítimas que não repercutem, a exceção de uma ou outra Marielle)?

    Teremos agora um novo festival X9 S/A, só que nos patamares mais baixos da pirâmide do crime. Uma nova bolha jurídico-econômica. Advogados a po$to$.

    E claro, não percamos de vista o que essa nova modalidade pode oferecer com o lançamento de suspeição sobre os mesmos bagrinhos de sempre ou pior, de inocentes.

    Se nos andares da elite muita gente foi de “ralo”, tendo sido incluída para agradar o inquisidor que manobrava o torniquete da “roda”, imagine no andar de baixo como serão as comprovações dos delitos por esses meios de prova controversos?

    Quando gente boa como o pessoal do GGN busca iluminar as trevas fazendo uma tocha com a CRFB/88 aí estamos perdidos!

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