Sobre a banalidade do jornalismo pueril

A morte do  cinegrafista da Band está gerando uma verdadeira onde de bobagens ditas pelos seus colegas. Muitos já afirmam que ele foi vítima da “banalidade do mal”.

 

Toda vez que os jornalistas banalizam um conceito sofisticado que foi produzido para um contexto histórico determinado seu conteúdo se perde. É o que está ocorrendo com o emprego  do conceito de Hannah Arendt para descrever a morte do cinegrafista.

 

Não é possível entender a “banalidade do mal” sem levar em conta o “colapso da moral” que ocorreu na Alemanha nazista. Nos anos 1930 a sociedade alemã passou por uma completa inversão de valores. A nova realidade foi sendo metodicamente criada pelo regime nazista: primeiro ocorreu a proibição dos alemães saudáveis se casarem com doentes mentais e judeus, depois os doentes mentais passaram a ser esterilizados e por fim eles começaram a ser exterminados, a “solução final” da questão judaica se valeu das experiências prévias feitas durante o extermínio dos doentes mentais. Durante este período, a Lei alemã  passou a obrigar os agentes estatais a matar como se isto fosse um imperativo moral positivo (e não uma violação da lei moral, que em todos os tempos e lugares diz quase sempre a mesma coisa “não matarás”). Aqueles que se recusassem a matar eram punidos.

 

Não estamos vivendo sob a égide do mal banal, pois não ocorreu uma completa inversão dos valores morais. Muito pelo contrário, a legislação brasileira continua protegendo a vida e a integridade das pessoas e o Estado se obriga a punir sua violação. Além disto, o simples fato dos jornalistas criticarem abertamente a violência urbana sem sofrer qualquer tipo de punição em razão disto (o que certamente ocorreria caso o “colapso da moral” tivesse invertido profundamento o conteúdo dos preceitos legais) é um indício de saúde moral da sociedade brasileira.

 

A pueril insistência dos jornalistas de usar o conceito de Hannah Arendt de maneira inadequada num contexto histórico diferente daquele para o qual ele foi criado não nos ajuda a identificar a fonte do problema do Brasil para que ele possa começar a ser resolvido. Resumindo, a propósito de justificar o problema de uma maneira sofisticada, os jornalistas estão nos impedindo de ver a realidade para extrair dela a solução.

 

Olhem a realidade e não os livros, meus caros pseudo-intelectuais. Foi isto que Hannah Arendt fez quando se debruçou sobre o nazismo. 

 

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

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  1. mas quando a fúria aflora e se desenvolve…
    o que passa a mover o sistema são os exemplos de reação e não preceitos legais……….

    considerando que o exemplo sempre será mais forte do que o preceito, o sistema tanto pode se mover para um lado, bom, como para outro, mau

    a punição exemplar é que regula, equilibra, mas, infelizmente, nunca tivemos

  2. e para esta minha visão…

    web é tão prejudicial quando a mídia tradicional, ou pior……………………..

     

    milhares fugindo da realidade, mesmo que só fazendo merda, encontram outros milhares que incentivam

     

    coisa que não acontecia com a leitura de um jornal, por exemplo

  3. outra coisa fácil de tirar de

    outra coisa fácil de tirar de contexto são os “inimigos”: gente cometendo atos isolados sendo acusados de agirem como um grupo, uma desgraça perpetrada com um rojão de banca de jornal sendo considerada como um assassinato premeditado, pessoas indo à delegacia obter informações sobre companheiros sendo consideradas “manifestantes” ou “black bloc”.

    não me faço de ingênuo, há muitos equivocos por aí do lado de quem vê nas manifestações um respiro do espirito democrático, que anda um pouco sufocado com tanta bomba de gás. Por exemplo, as pessoas que como o jornalista da Globonews sairam logo dizendo que se tratava de uma bomba da PM; ou a defesa incondicional da tática black bloc, que eu pessoalmente não vejo como vantajosa para as mobilizações.

    Mas sinto que as eleições estão deixando muita gente preocupada com a manutenção do poder e dos votos e muito pouco preocupada com qualquer outra coisa, como por exemplo o bom uso do pensamento.

  4. Não vamos esquecer que toda

    Não vamos esquecer que toda esta onda protestos iniciou-se com força mesmo depois que a jornalista da folha levou um tiro de borracha no olho. Jornalista são os novos militares. Os intocáveis. Nunca ví. O que morreu de gente nestes protestos e não causou a mínima comoção. Mas, se for jornalista, é o fim do mundo. 24 horas por dia, 2 em cada 3 textos escritos pela midia toda é por causa do tal cinegrafista. Coitados dos rapazes envolvidos. Nunca terão justiçã. Serão linchados pela mídia, com consentimento/constrangimento da justiça. 

  5. A BANALIZAÇÃO DO TRABALHO DE HANNAH ARENDT

    São exemplos de banalização do árduo trabalho de observação e reflexão profunda de Hannah Arendt. Bastava ver o filme homonimo para ser ter uma ideia do que foi seu vigoroso e corajoso pensamento, a desafiar as aparências, mesmo estando ela e sua comunidade implicadas no delicado objeto. Mas, grande parte dos intelectuais atuais, ou pseudo intelectuais, acham mais fácil pinçar alguns conceitos já prontos e irem aplicando, enquadrando a realidade neles, e de quebra, demonstrando como são cultos.  Acho que o pessoalzinho jovem, talvez orientado por esses intelectuais, também tem deturpado um lindo conceito dela da irrupção da festa no cotidiano, entendendo festa ao pé da letra, na modalidade convencional, assim vimos uns black blocs em festa, cantando uma musiquinha da rede globo. Preguiça e rigidez mental. A compreensão desses pensadores exige estudo, dedicação e reflexão. As gerações criadas por Xuxa não param, não sentam, não se concentram: não maturam as ideias, engolem, decoram-nas e põem-se a praticar no espaço público. É o ovo da serpente já em sua forma mais acabada, acho que na 3ª geração.

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