“Um documento muito íntimo”: Eduardo Gudin publica 150 músicas com letras, cifras e partituras à mão

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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"Obras Completas" reúne grande parte do repertório de Gudin para ser tocado. Realizado, ele está pronto para "começar algo na linha erudita"

Eduardo Gudin. Foto: Luís Vilaça

Conhecido como compositor de sambas, com domínio de violão popular e erudito, o músico Eduardo Gudin se sente um artista “realizado” com seu último projeto. Em outubro passado, quando completou 72 anos de idade, Gudin colocou no ar o site Obras Completas, que dá acesso ao público a 150 músicas com letras e cifras, além de partituras que ele escreveu à mão. “Um documento muito íntimo”, definiu em entrevista exclusiva ao GGN.

“Você saber que seu trabalho está ali, é uma realização interessante. Quem sabe isso pode virar uma coisa física, um volume. Vamos ver. O que fica é a sensação de ter feito aquilo. Eu vi quanto tempo eu perdi, no bom sentido, fazendo todas as músicas que estão ali. Relembrei onde eu estava, o jeito que cada música começou. Essa é a importância para mim. Não chega a ser um ‘eu já posso morrer’, mas me senti realizado”, comentou Gudin, em conversa ao telefone na noite de segunda (28).

Viabilizado por um edital do ProAc LAB, de 2021, Obras Completas disponibiliza cerca de metade de toda a produção da carreira de Gudin em 4 volumes (2 de partituras e 2 de letras com cifras). A pianista Naila Gallotta e a filha Joana Gudin também ajudaram no projeto, com as letras com cifras e a arquitetura do site, respectivamente. Foram necessários ao menos 6 meses para transcrever à mão as partituras.

“Essa coisa de ser escrito à mão é um documento muito íntimo. No fundo, aproveitei algo que foi útil para minha sobrevivência e fiz uma coisa mais definitiva, não efêmera. Mas o mais legal é que as pessoas agora podem tocar a música como ela é, porque muitas faziam um acorde parecido, mas não o certo. Agora eu posso falar: ‘entra lá’. Tinha música que eu mesmo não sabia mais o acorde, tive que ouvir o disco.”

Para selecionar as músicas que entraram nessa primeira leva com letras, cifras e partituras, Gudin disse à reportagem que revisitou os álbuns desde a primeira canção gravada. “O critério foi pela importância das músicas, as principais que foram gravadas. Eu peguei o comecinho, da primeira música, e fui decidindo o que vai e o que não vai. Foi meio aleatório, mas tem praticamente todos os parceiros.”

Eduardo Gudin. Foto: Divulgação/SESC

Ao longo de 56 anos de carreira, Gudin já compôs músicas com vários parceiros ilustres, como Paulinho da Viola, Paulo Vanzolini, Paulo César Pinheiro, Adoniran Barbosa, Arrigo Barnabé, Aldir Blanc, Ivan Lins, Roberto Riberti, J.C. Costa Netto, Francis Hime, Caetano Veloso, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, entre outros.

Com mais de 300 canções no repertório, o músico, que também é violonista e letrista, não descarta adicionar mais letras, cifras e partituras ao site Obras Completas. “Está em aberto. Pode ser que eu pegue mais músicas e vá colocando. De repente, alguma música nova.”

Todas as músicas de seu último álbum, Valsas, Choros e Canções, estão disponíveis no site Obras Completas. Patrocinado por outro edital do ProAc, o disco tem como principal característica “não ter nenhum samba”. “Eu fiquei muito marcado pelo samba, mas eu tenho um lado de orquestra, canções e valsas, e eu quis concentrar tudo num disco só.”

Assim como o Valsas, Choros e Canções, o disco anterior, Eduardo Gudin e Léla Simões (SeloSesc), pode ter shows retomados pelo músico nos próximos meses, pois os lançamentos ficaram prejudicados por conta da pandemia de Covid-19, que proibiu eventos com aglomerações.

Eduardo Gudin agora pretende se dedicar a “escrever um concerto para uma orquestra”. Foto: Arquivo pessoal

“Editais de cultura ajudaram muito. Até para sobreviver a outras coisas horríveis que tivemos junto da pandemia, que foi muito difícil de suportar. Foram quatro anos de loucura”, disse Gudin, numa alusão ao governo Bolsonaro. No álbum de 2022, ele inseriu uma música inédita que foi barrada pela Ditadura Militar.

Agora com o site Obras Completas no ar, Gudin pretende mergulhar na música erudita. Atualmente, ele escreve um concerto para uma orquestra.

“Eu precisava ver isso [Obras Completas] feito para começar algo na linha erudita. É outra forma de compor. Eu estudei muito orquestração, é uma bagagem que tenho. Mas compor direto para orquestra é outro tipo de atividade.

Fora isso, o único projeto de Eduardo Gudin é “ficar vivo e torcer por um Brasil normal”, ou seja, livre de governantes negacionistas na ciência e devastadores na cultura.

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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