Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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A grande ilusão do carnaval… por Izaías Almada

A grande ilusão do carnaval…

por Izaías Almada

…A gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho pra fazer a fantasia, de rei ou de pirata ou jardineira e tudo se acabar na quarta feira. A felicidade do pobre parece…

Pois é: temos Neymar, o loiro, na Rússia e algumas crianças brasileiras engaioladas nos Estados Unidos da América, temos um Trump imbecil e covarde, mas temos também um ministro das relações exteriores não menos covarde e imbecil.

Temos Lula, futuro prêmio Nobel da Paz, preso e Temer (impossível qualificar) solto e, mais do que nunca, traidor da pátria, com aquela sua simpática expressão de porta de armazém.

Temos trabalhadores na cidade, no campo e no mar que saem de madrugada de casa para ganhar muitas vezes um salário de merda e um bando de deputados que vendem o Brasil, safadamente sentados em suas cadeiras no Congresso, com salários e mordomias nada modestos e muitos deles envolvidos em maracutaias financeiras e propinas inconfessáveis.

Temos juízes de futebol e juízes de fancaria. Uns, dizem os filósofos do futebol, nos prejudicaram contra a Suíça, outros fazem vistas grossas a determinadas contas bancárias na Suíça.

O Brasil consegue a cada dia que passa ou mesmo de 20 em 25 anos superar-se em mostrar para o mundo que esse negócio de democracia só é bom no país dos outros (e olhe lá!), mas nos nossos 8.500 mil quilômetros quadrados e muito bem orientados por mentores norte americanos (sempre eles) somos nós que construímos a “nossa”. Democracia, claro…

Para isso, foi preciso apenas rasgar a constituição mais uma vez e dar um golpe em 2016, menos violento, sem usar os militares e seus tanques nas ruas, mas suficiente para calar os que se pretendem nacionalistas e sinceramente democratas, esquerdistas ou não (há ainda quem fale por aí em comunistas como pessoas do mal, tamanha a ignorância sobre a história da humanidade em geral e a do Brasil em particular).

O pretexto? A corrupção.

Os ingredientes para “combatê-la”? Vamos lá:

Juntem-se alguns jornais e revistas semanais, escreva-se uma telenovela intitulada “Operação Lava Jato” a ser exibida pelo principal canal de televisão do país, com capítulos semanais ou mensais, de acordo com a reação da audiência, e leve tudo isso ao forno do Superior Tribunal Federal, com orientação para seus cozinheiros carregarem naquela pimenta que só arde nos olhos dos outros.

Os 52 capítulos aqui até apresentados, cujos títulos se pretendem sempre engraçadinhos, mas que na verdade são de dar sono em anfetaminas já ultrapassaram o prazo de validade e o único efeito que produziram para a sociedade foi, propositadamente, confundir alhos com bugalhos, isto é, destruir reputações e mandar muitos inocentes para a cadeia, deixando a verdadeira bandidagem solta. Pior: colocar a indústria brasileira na lona.

A Petrobrás, transformada numa espécie de prostíbulo, vende suas meninas dos olhos a quem pagar mais, desde que o resultado desse indecente rufianismo faça caixa suficiente para continuar a corrupção dos moralistas de Curitiba e seus parentes, dentro e fora da empresa.

Então, caro leitor, está bom ou quer mais?

Bem no espírito de muitos daqueles que vestiram a camisa amarelinha em passeatas e panelaços há dois ou três anos, alguns torcedores debocharam e humilharam uma cidadã russa dentro do seu país criando mais um vexame internacional.

E lá estava a camisa amarelinha da CBF, é da CBF, Confederação Brasileira de Futebol, que tem como um de seus diretores alguém que lembra determinado helicoca, digo helicóptero, cujos donos até hoje não foram incomodados pela turma da novela de Curitiba.

Está o amigo leitor seguindo esse meu tortuoso raciocínio? É tudo a mesma sopa, como diria o jornalista Mino Carta. Alguns chamam de neoliberalismo, outros colocam toda a culpa em cima de um só partido político e seu presidente de honra que veio do interior pobre do Pernambuco, porque pobre na presidência da república tem que necessariamente ser corrupto, não é mesmo? Se as provas não aparecem é porque ele é muito esperto e não deixou pistas… Argumento típico dos ignorantes que mal sabem do que estão falando.

Não… Todos são inteligentes, bem informados. Pelo menos é o que pensa a vestal de Curitiba e um grupelho de procuradores que só faltam dependurar uma melancia no pescoço e saírem nus pelas ruas do país. Afinal, a justiça precisa de muitos holofotes para que possamos identificá-la.

O complexo industrial/financeiro assumiu as rédeas do capitalismo neoliberal e quem não se enquadrar na nova ordem mundial leva chumbo do grosso, exceção para russos, chineses e outros países que tenham armamento nuclear.

Países como o Brasil deverão voltar, se possível, à condição de fornecedores de matéria prima e ter a maioria da sua população dopada com bobagens: “fait divers”, hipócritas campanhas contra a corrupção, onde os verdadeiros corruptos se salvam todos, exceto alguns exemplos impossíveis de ser escondidos, trabalho semiescravo, classes médias idiotizadas, governos medíocres e subservientes e talvez…

Tristeza não tem fim, felicidade sim…

 

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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