Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Da desmitificação à responsabilização sobre Dino lançada por Lula, por Francisco Celso Calmon

Do capitalismo ao socialismo, em algum momento, haverá uma ruptura, cuja forma vai depender da correlação de forças políticas

Ricardo Stuckert

Da desmitificação à responsabilização sobre Dino lançada por Lula

por Francisco Celso Calmon

“Pela primeira vez na história deste país conseguimos colocar na Suprema Corte deste país um ministro comunista, o companheiro Flávio Dino”, declarou Lula num evento com a juventude. 

Já tivemos ministros de viés esquerdista, como o Ministro Hermes Lima e o Ministro Evandro Lins e Silva, participantes do governo João Goulart e ambos fundadores do PSB. Entretanto, autodeclarado “comunista, graças a Deus”, é o primeiro.

Todo marxista é comunista, mas nem todo comunista é marxista.

Ser adepto do Manifesto Comunista filia-se na corrente comunista, ser marxista é ser adepto da concepção materialista da história e do materialismo dialético, como compreensão do mundo e ferramental de análise.

Ser comunista marxista ou ser comunista graças a Deus não os distingue quanto a serem anticapitalistas e favoráveis a que os meios de produção tenham caráter social e não privado.

Ambos comungam contra à exploração e opressão dos trabalhadores pela classe capitalista, detentora dos meios de produção privados, através dos quais se apropriam da mais valia do trabalho.

O processo para a construção do comunismo passa necessariamente por uma fase de transição, onde as condições para a sociedade ideal são erigidas. Fase esta denominada, pelos autores da teoria, de socialismo. Alguns países vivem essa experiência.

Como assinalado por Marx e Engels no Manifesto Comunista, a primeira fase da revolução operária é a elevação do proletariado à classe dominante e à conquista da democracia.

Do capitalismo ao socialismo, em algum momento, haverá uma ruptura, cuja forma vai depender da correlação de forças políticas nacionais e internacionais.

Na fase de transição é prevista a saída do reino da necessidade para o reino da liberdade, portanto, pressupõe a superação do domínio de uma classe sobre outra.  

Havendo essa superação, a necessidade do Estado deixa de existir, visto ser ele necessário para garantir a dominação de uma classe sobre outra. 

Comunismo compreendido como “uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”, (Manifesto Comunista).

Nesse approach se assemelha à Parusia dos cristãos e ao Nirvana dos budistas, cada qual com o seu método para alcançar a sua utopia.

A demonização do comunismo, que nunca existiu concretamente em nenhum país, só causa temor àqueles que querem a manutenção de um sistema, em essência, predatório da natureza e do homem (O homem é o lobo do homem, Thomas Hobbe).     

Como as demais utopias, tem o papel relevante de dar sentido à vida, um norte à luta de classes pelos trabalhadores.

O comunismo é a sociedade sem classes, sem Estado opressor, onde todas e todos serão saciados, serão irmãos uns dos outros, não mais lobos famintos pelo lucro da mais valia.

É muita responsabilidade do ministro Dino ser o comunista na Suprema Corte.

Cada decisão sua refletirá os princípios e postulados da ideologia comunista, com ou sem as graças de Deus? E os comunistas brasileiros o terão como seu representante no STF?

Mutatis mutandis, o lance do Lula foi genial, por um lado, quebrando o uso pela extrema-direita do comunismo como um espantalho, e o colocando no seu devido pedestal, de uma utopia humana tão idealista como a Parusia e o Nirvana, por outro, colocando nos ombros da Flávio Dino ser digno dessa alcunha.

Se foi uma tirada de sutil ironia aos anticomunistas fóbicos, também teve e terá efeitos para um debate cultural e ideológico, sem medos, sem preconceitos, debaixo da guardiã Constituição.

Na apresentação do manifesto comunistas, de 1848, é escrito: Que partido não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a pecha infamante de comunista?

E assinala: é tempo de os comunistas exporem, abertamente, seus objetivos e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do expecto do comunismo.

Lula vem descontruindo mitos, axiomas, dogmas, tabus, e abrindo para a sociedade o debate.

Entretanto, apesar da sua coragem, a sociedade organizada em partidos, movimentos sociais e sindicais, não vêm, lamentavelmente, correspondendo.  

Quando a terra é fértil, aduba, semeia, rega e floresce. Os trabalhadores são como a terra fértil, a teoria é como a semente, a formação é a rega, o florescer é a organização para a práxis da luta de classes.

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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