
Crítica e autocrítica, tese e antítese, dualidades fundamentais numa democracia juvenil
por Francisco Celso Calmon
Não façamos marola para Lula não ultrapassar o centro, mas mantemos o contraditório, sem o qual atrofia a democracia e anatematiza a dialética.
Para que o presidente possa gerir com o seu primado compromisso de ser honesto com o povo, é mister ouvir elogios e críticas.
No segundo governo Lula e no atual o presidente já estimulou a necessidade da crítica, das pressões populares, e ele já demonstrou que tem por método excitar e ouvir os contrários para decidir, principalmente em temas mais técnicos.
Graças aos alertas críticos o governo já reviu e está revendo políticas de seus ministros, como a da reforma do ensino médio, assim como alguns nomes de primeiro e segundo escalões, e a luz amarela para os terceiros e quartos níveis ainda sob domínio de bolsonaristas.
A crítica só incomoda àqueles que só apreciam os aplausos. O corre que os aplausos têm valor quando também há a desaprovação, porque a unanimidade é super exceção no mundo dos interesses diferentes, contrários e as vezes antagônicos.
Quando Lula, à guisa de acalentar o Haddad, o protege das críticas à esquerda, fica parecendo que o Ministro está precisando desse escudo do presidente.
Inibir as análises de viés de esquerda não faz parte da boa pedagogia, pode ter o efeito deletério na base, pois passa a fortalecer os militantes do “sim, senhor”, do maniqueísmo, do raciocínio digital, zero ou um, on ou off, e, sem contestação, pode ser levado a sentir-se onipotente.
Dilma voltou a ter um título de presidenta, está feliz e confiante em bem desempenhar a missão no Banco dos BRICS, contudo, a redenção ao golpe de 2016 ainda não ocorreu. Nem mesmo simbolicamente quando a passagem da faixa deveria ter sido por ela. O significado político seria de um valor transgeracional. A passagem realizada do mosaico social do Brasil foi bonita, emocionante, porém sem transcendência política.
Dilma confirma o exemplo de guerreira que não se abate e está sempre pronta a novos desafios em prol do que acredita.
Como seu companheiro no Colina e na VAR, cada vitória dela é um pouco nossa também, pois fomos de uma geração-68 de luta e somos produtos de uma mesma história.
Em 2005 foi a militância de esquerda que foi às ruas em defesa do mandato de Lula, quando da sua prisão foi a militância à esquerda que demonstrou força contrária e depois fixou moradia no acampamento Lula livre em Curitiba, em frente à PF, na qual estava encarcerado.
Foram também militantes esquerdistas que agregaram no final da campanha pela reeleição da Dilma e contribuíram para a diferença da vitória.
É comum fartos elogios para os que almejam cargos, legítima ambição, todavia, as críticas e os elogios dos que não nutrem esses interesses têm um diferencial.
Sempre se espera acertos, contudo, temos que tornar normal, como exceção, falhas, se humanos somos.
Os que mantêm a utopia de um Brasil democrático e de justiça social lutam com as armas da crítica e nas mobilizações do apoio das ruas.
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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