Engenharia sob ataque dentro de seu próprio Conselho
por José Manoel Ferreira Gonçalves
No final de 2022, pouco depois de ter lançado um “clube de serviços” baseado no banco de dados de profissionais devidamente registrados em seu sistema, o CREA de São Paulo sofreu um ataque cibernético que não apenas paralisou as atividades da entidade, como colocou em risco a privacidade e a segurança de parte considerável da engenharia brasileira.
O fato revela o quão temerária tem sido nos últimos anos a gestão do CREA-SP, cujo atual presidente, após fracassar na intenção de se eleger deputado nas últimas eleições, agora pretende assumir o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, o Confea.
Em Brasília, o pré-candidato faz campanha aberta, antes mesmo do início do processo eleitoral, transmitindo a falsa ideia de que o Conselho que dirige é o mais organizado e confiável.
Política e falta de transparência dão o tom hoje em uma autarquia que deveria estar zelando pela fiscalização de obras, abrindo fronteiras para a qualificação profissional, tratando a tecnologia como aliada – e não sendo vítima dela.
O tal clube de serviços do CREA-SP é um exemplo dessa desfaçatez. Sob o argumento de assegurar descontos para os profissionais – descontos esses que podem ser promovidos por conta própria pelas empresas, sem a necessidade de fazer um contrato com o órgão de classe –, o Conselho abriu um edital convocando empresas para fazer parte de um “clube” de benefícios.
Em troca, o CREA-SP disponibiliza os dados dos profissionais e exige das empresas que só deem descontos para quem estiver em dia com as anuidades, o que demonstra a intenção de tornar público o nome de quem esteja em atraso.
Assim que o dito clube de serviços começou a ser divulgado, hackers entraram em ação. Até hoje não foi divulgada a origem desse ataque, nem mesmo o tamanho do vazamento. Mas, ao que tudo indica, com o clube, uma porta de entrada para pessoas mal intencionadas foi aberta, propiciando a oportunidade para a execução de um crime cibernético.
O clube de serviços promete zerar anuidade, abrindo mão de importantes receitas, e dando a terceiros o acesso aos dados dos profissionais registrados no sistema. Apenas os profissionais em dia com sua anuidade é que acessam as vantagens oferecidas pelo clube. Porém, os terceiros têm acesso a todas as informações, inclusive dos profissionais com dívidas ou restrições.
Em virtude desse quadro, abusivo e discriminatório, ajuizamos uma ação popular contra o presidente do CREA-SP, contestando o edital de chamamento público que estabeleceu o clube de descontos.
Entendemos que a falta de transparência e acordos que não se justificam estão por trás de todas essas falhas. O CREA-SP está a serviço dos profissionais, da engenharia e da tecnologia, e não a serviço de negócios estranhos às suas finalidades!
José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro e presidente da FerroFrente, Frente Nacional pela Volta das Ferrovias.
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