Luzes da ribalta
por Francisco Celso Calmon
Parafraseando a canção da Xuxa, Tá na hora, tá na hora, vamos todos nos calar, e dar espaço a Lula escalar um quadro para a PGR e outro para o STF, que não tragam frustrações às expectativas e arrependimentos, quando nada mais poderá ser feito para consertar.
Lobby, corporativismo, arrivismo, não coadunam com a maturidade que a democracia requer nesta quadra política de cada militante, seja na cúpula, seja na base, após a tragédia e consequências do golpe de 2016.
Não temos o direito de errar, mesmo sem dolo, pois a culpa haverá, afinal, somos responsáveis pelos que indicamos ou perante a outros quando nos calamos.
Eugênio Aragão, consciente de sua responsabilidade como ex-ministro da justiça e ex-subprocurador geral da PGR, publicou um artigo moralmente brilhante e politicamente como um grito de alerta ao Lula.
Abro aspas para o seu texto:
“O risco de indicar um Mr. Hyde achando ser o Dr. Jekyll
Um bom caminho é ignorar pavões e interesseiros.
Uma indicação política é muito mais sensível. Nela, muitas vezes se espera mais que lealdade. Espera-se fidelidade. Fidelidade a convicções e valores ideológicos e programáticos. Afinal, aquele que tem a prerrogativa da indicação foi colocado nessa posição pelo voto de eleitores, atraídos por promessas e perspectivas.”
As escolhas de hoje afetarão diretamente a reconstrução do Estado democrático de direito, sem possibilidade de default, sem poder voltar atrás, sem defesa e correção, cujas consequências irão para além de uma geração.
Não é um texto moralista e nem mesmo subjetivista, são sentimentos e expressões de quem viveu, no front dianteiro, a história da traição ao governo da presidenta Dilma.
O artigo não carece de qualquer correção, mas de uma complementação: o papel que os meios de comunicação se prestam nesse jogo de patrulhamento e lobismo de nomes que lhes pareçam ou mesmo que se comprometam a “agradecer” o serviço quando sentarem na cadeira do poder.
A mídia serve de palco com as suas luzes de ribalta.
Tanto no Judiciário como na PGR, nos governos anteriores de Lula e Dilma, houve não um, mas alguns dedos podres.
Depois não adianta chorar e pedir perdão, o grito de alerta está dado.
Pensem no Brasil antes da corporação, antes das carreiras, antes dos interesses pessoais, antes dos privilégios do cargo. Sejam leais e fieis aos compromissos, como assinala Eugênio no seu artigo.
Quem gosta e é atraído pelas luzes da ribalta estará no lugar errado, órgãos da Justiça requerem dos ocupantes discrição e que se guardem para se manifestarem nos processos.
A história real e ficcional ensina: o risco da dupla personalidade existe, como a do médico e a do monstro.
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.
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