Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
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O Novo, a Frente e um Programa: o que se espera para o pós 24 de janeiro de 2018?, por Giovana Paiva

Foto Roberto Parizotto/CUT

Enviado por Ion de Andrade

O Novo, a Frente e um Programa: o que se espera para o pós 24 de janeiro de 2018?

por Giovana Paiva 

Não devemos desanimar, mas também não podemos deixar de achar esse momento muito confuso.

Inicialmente, havemos de constatar que não temos mais um projeto ou referências de modelos de sociedade. Faz tempo que o muro de Berlim caiu, as máscaras de algumas sociedades também caíram e estamos por aí, tentando construir um novo, que não se sabe o que é. Por outro lado, as pessoas continuam à mercê de bombardeios diários de informações que desqualificam a política, os partidos e os políticos. 

Como enfrentar isso? A própria circunstância do golpe nos leva a sinalizar com uma possibilidade de saída… Só temos Lula! Se Lula for candidato, ganha; se for preso, se torna herói; e se morrer, se torna mártir. Temos a principal liderança da esquerda mundial!

No seu discurso da Paulista, após a sentença de sua segunda condenação, Lula falou de sua trajetória, mas se referiu principalmente a um futuro que se realizará com ou sem a sua presença. Demonstrou ter consciência de sua existência para a política brasileira e afirmou o reconhecimento de sua missão. Como Gandhi ou Mandela, sabe que muitos dependem dele e defenderá a democracia até o último dia de sua vida. Ele tem consciência de que errou, e, por isso, acreditamos que se empenhará em construir essa nova perspectiva de enfrentamento. Provavelmente uma Frente de partidos e organizações políticas e sociais que o terá como candidato, tendo colado a si um nome viável para ser vice ou, caso sua candidatura seja inviabilizada pelos golpistas, essa mesma pessoa será seu substituto numa candidatura a Presidente da República.

Porém, cabe a nós refletirmos: será essa possibilidade a nossa única saída? Será justo com Lula depositarmos tantas esperanças nele? Para muitos, ele já fez mais do que se esperava e é limitante pensar o futuro que será feito sem ele. De qualquer forma, é fato que nenhum modelo de Lula se aplica sem Lula, porque estamos lidando com um fenômeno único da atualidade, e que pode, certamente, interferir nesse futuro.

Queremos destacar também que, até agora, a militância na rua não resolveu nada. A militância a ermo não serve pra nada e o que deve angustiar não pode ser a necessidade de ter uma multidão presente nas ruas. Enquanto fizermos isso, estaremos adiando a imperativa necessidade de exigir um projeto de sociedade e um programa de ações que possam ser pactuados entre todos que sejam de centro esquerda e que queiram a democracia e o desenvolvimento justo da sociedade de volta. Portanto, é fato também que essa multidão precisa de um programa que a oriente a fazer o trabalho que lhe é devido, organizar as bases e orientar sua ação para respeitar as organizações que já existem.

Após esse dia 24 de janeiro, muito desse projeto já está delineado: é a luta de classes. Não temos mais o que ceder, nem fazer acordos ou concessões. Temos um programa histórico, basta sistematizar, atualizar e colocar numa mesa para decisões. Aceita quem quiser, fica quem concordar. Com essa definição, o nosso salto será outro e bem maior, mesmo que tenhamos que recuar e perder muito mais nesse momento de retrocesso. Aí, sim, a multidão nas ruas fará sentido.

Não vemos também necessidade de nós, multidão, termos que nos preocupar com as relações dos que conduzem os partidos, sindicatos, frentes e demais organizações. Com a burocratização e centralização em que operam, eles se tornaram quase impermeáveis. E não é de agora, pois desde 2006/2007, quando os Movimentos Sociais lançaram sua Plataforma por uma Reforma Política (http://polis.org.br/acoes/plataforma-dos-movimentos-sociais-pela-reforma-politica/), os partidos ignoraram e mesmo o PT bombardeou com outra proposta. Então, como devemos esperar que essas estruturas “se curem”? Há de se fazer algo novo? O que? Podemos constatar inicialmente que os modelos de partidos, sindicatos, centrais que temos precisam ser reinventados. E, embora tenhamos consciência de que essas estruturas são imprescindíveis, é fato que a multidão tem desacreditado de partidos, de sindicatos e de políticos. E ainda inferimos que se insistirmos nesse modelo, não aproveitaremos com inteligência a onda de mudança e resistência que se avizinha. A multidão que está sedenta para agir parece que compreendeu que a grande maioria dos dirigentes dessas estruturas não se sintonizaram com o que a sociedade quer. A multidão não quer mais se deixar levar por uma estrutura que se retroalimenta de poder e que se transformou em espaços que mais servem a si do que à sua causa. 

No nosso entendimento a sociedade e o processo histórico já estão reinventando esse novo. Alguma coisa poderá despontar nas próximas eleições. Apostamos no surgimento de caras e jeitos novos de se fazer política e aí, quem sabe, haverá mais poder distribuído. A genialidade de Lula sobrepujará suas limitações e como único líder deste tempo, ele nos apresentará algum caminho que se somará ao que precisamos construir. O próprio PT já está participando desse novo que está surgindo. Os demais partidos dessa Frente, a Igreja Católica e os Movimentos Comunitários e Colaborativos também. Já existe muita coisa acontecendo fora do plano institucional, partidário, que estamos habituados a ver. Só não ver quem fica nas ruas apenas como multidão.

 

 

6 Comentários

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  1. A saída era o Requião se filiar ao PT e se lançar candidato ao

    A saída era o Requião se filiar ao PT e se lançar candidato ao Planalto com o apoio do Lula!

  2. oi ???
    “…Temos um programa histórico, basta sistematizar, atualizar e colocar numa mesa para decisões. Aceita quem quiser, fica quem concordar. ”

    Desculpe mas eu bem queria ler este programa ou mesmo ter uma referência em algumas palestras, artigos, falas ou o que quer que seja. Até onde eu sei, tal programa não existe, não pelo menos no lulismo. Ciro mostrou algumas ideias, Bresser Pereira fez um manifesto, mas Lula e o PT até agora sentaram em cima do recall eleitoral do Lula e do fracasso tremendo do neoliberalismo de Temer (melhor seria dito, da aliança PMDB/PSDB) e estão basicamente pedindo um cheque em branco. Em momento algum se comprometeram com algo, nem mesmo o tal plebiscito revogatório das mudanças atropeladas de Temer, que para mim é o bê-a-bá de qualquer programa, eles põem a mão no fogo. Enfim, existe muito sentimento (para usar uma palavra que está na moda entre os pós-modernos, muita empatia) e apelo à emoção mas raciocínio ou mesmo estratégia e planos, eu não tenho visto ainda. Não é à toa que o povo olha a tudo perplexo e não reage. Se quem tem que dar a direção não aponta para nada, as pessoas vão fazer o que ?

    1. pense fora da caixinha

      o autor usou o sentido figurativo. O plano é o velho plano que em 1977 as esquerdas agregaram a disputa pelo voto numa democracia, abrindo mão da guerra armada na luta de classes. Em 2016 as elites mostraram que estão descontentes com o plano e não aceitaram a voz das urnas. Agora em 2018 partiram para o tudo ou nada pois sabem que o retorno de lula não será apenas o retorno do PT, mas o acirramento da guerra pelo aprofundamento dos valores democráticos e republicanos. Ontem eles mostraram o quanto estão empenhados e desesperados colocando em xeque o poder judiciário, o único que talvez restasse da velha ordem republicana. Mas mostraram que nem lá existe cidadania.

      31/julho/2016 ficará para a história como o dia que a direita brasileira rasgou a constituição

      24/janeiro/2018 será o dia que as elites abandonaram a cidadania, rasgaram o contrato social democrático e estabeleceram o jogo aberto de luta de classes. O que vem em frente é a luta pela reconciliação a um projeto republicano de sociedade. Não será para iniciantes nem para medrosos. A luta será na arena politica da rua e não mais nos gabinetes!

      1. pense….

        Não existe mais espaço para ‘sentido figurativo’. Queremos ações e idéias colocadas no papel. Sobre Empresas Nacionais? Sobre Soberania? Sobre Nacionalismo? Sobre Controle do Estado? Sobre Eleições Obrigatórias? Sobre Empregos? Sobre Economia? Sobre o Lugar do Brasil no Mundo? Não existe mais espaço para Salvadores da Pátria ou Messias. A Esquerda capitaneada pelo PT ainda tem o discurso de Proteção da Malha Social. É obrigatório saber de todo o restante. Não existe mais espaço nem tempo para fantasias e figurações. Ações e Consequências. É Imperativo o Poder nas mãos do Povo. Nada mais. 

  3. Luta de classes? Não pode ser

    Luta de classes? Não pode ser séria uma análise que faça tal proposição. Como muitos simpatizantes de Lula e seu partido, a autora não parece estar enxergando direito o cenário nacional, que de fato não é simples. Ele não é preto/branco: quem apoia ou gosta de Lula é bom e patriota, quem não gosta ou está contra ele, é mau e traidor da Nação. Tampouco a pseudodicotomia esquerda x direita é suficiente para enquadrar as pessoas que se dispõem a participar da vida nacional. Enquanto ficarmos presos a essas fórmulas desgastadas, não progrediremos em um entendimento da situação e na capacidade de formular planos de ação minimamente efetivos para a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento – algo de que TODOS os governos da “Nova República” ficaram muito distantes, os do PT inclusive.

    Naquela célebre entrevista em Paris, em 2005, Lula apresentou o argumento que decepcionaria muitos dos que receberam com esperança a chegada do PT ao poder. Segundo ele, o PT apenas fizera “o que todos faziam”. Ora, foi exatamente para fazer diferente que milhões o apoiaram em 2002. E, convenhamos, como ser diferente, com Henrique Meirelles dando as cartas na formulação da política econômica e monetária? Não é irônico que ele esteja de volta ao comando da área, com Temer?

    O PT e seu líder-símbolo estão colhendo o que plantaram. Em vez de desfilar ressentimentos e bradar convocações para confrontos, até mesmo físicos, como alguns desvairados estão fazendo, prestariam um serviço maior se fizessem uma autocrítica séria e honesta e tratassem de repensar e reinventar a prática política, com uma reforma em regra da atual estrutura político-partidária-institucional, num esforço de renovação sem o qual o Brasil não avançará.

    Em tempo, é preciso admitir que é amargo ver certos próceres de outros partidos – tucanos, principalmente – debochando do País, livres, leves e soltos, quando também já deveriam estar engaiolados, pois evidências de seus atos criminosos não faltam. 

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