
Será Zanin um político violonista?
por Francisco Celso Calmon
Chegou com apoio considerável da esquerda, indicado por um presidente esquerdista, será que vai tocar pela direita?
Fracassamos novamente em não buscar a história do Zanin?
Não houve RH para levantar o seu pretérito como cidadão, como estudante e profissional.
Um bom parâmetro numa seleção é saber do candidato a sua participação no movimento estudantil. Geralmente é revelador!
O Lula priorizou o sentimento de gratidão.
Limitou-se a essa motivação e, sem saber, fez uma indicação de um reacionário político e conservador dos costumes?
Dá muita tristeza e decepção só em admitir a hipótese?
A unanimidade ou quase do STF saudou com entusiasmo a sua indicação, já sabiam de quem se tratava?
Foi ornado como garantista, agora perguntamos: garantista de quê? Dos valores burgueses?
Desprezar o princípio da insuficiência, foi, a meu juízo, o cartão de visita para os pobres, foi um sinal de punitivismo.
Defender a PM de sua atuação violenta e ilegal contra o povo guarani kaiowá no Mato Grosso do Sul, votando na companhia de Nunes Marques e André Mendonça e do relator Gilmar Mendes, foi outro sinal.
No ensejo, jovem ministro, leia as recomendações da Comissão Nacional da Verdade, entre as 29 a de número 20 – a desmilitarização da polícia.
Ainda na mesma semana, Zanin foi contrário à equiparação das ofensas ao segmento social LGBTQIA+ como injúria racial, e também contra a descriminalização da maconha para uso pessoal.
Seus votos formam um naipe de um perfil ideológico, sobre o qual, mesmo não querendo, não dá para passar pano e não ficarmos preocupados da indicação dele ter fortalecido o lado podre do sistema de justiça.
Foram meses com a sua provável indicação exposta a gregos e troianos, e parece que os gregos estão aplaudindo e os troianos amargando a traição.
Na cara do gol, Lula errou e ainda fez gol contra?
O sentimento de gratidão é um dos mais dignos, contudo, quando um profissional é contratado e bem pago, como Zanin o foi, e desempenha com sucesso a causa, há que parabenizar e agradecer, contudo, não carece de um honorário extra, como a de uma cadeira vitalícia no último degrau do Judiciário – a Corte Suprema.
Houve um pacto tácito para o retorno do Lula à política, como ocorreu com o fim da ditadura, com a eleição indireta e o § 1º do artigo primeiro da lei da anistia?
São indagações que atormentam as reflexões de parte da esquerda, a que não está disposta ao “sim senhor, obedeceremos todos”.
Qual o percentual de acerto das indicações do Lula e da Dilma para o Judiciário durante os seus mandatos? Dez por cento?
Critérios errados ou carma – para quem acredita?
Segundo o Globo, Zanin afirmou a interlocutores que essas críticas representam um “hiperpoliciamento” de suas manifestações no tribunal. Ele enfatizou que acredita que essas críticas estão sendo utilizadas para pressionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao perfil do futuro ministro que ocupará a segunda vaga no STF.
Não retrucou tecnicamente e, sim, como sagaz político de direita, que se protege, desviando e colocando o foco em outro ponto, qual seja a outra vaga no STF.
Ao fazê-lo, alerta aos três êmes (mídia, militares, mercado) para resistência a uma indicação de perfil garantista e de esquerda.
Como me disse o magistrado Paulo Calmon em certeira síntese: Zanin está votando como o seu suposto antagonista Moro votaria se ministro fosse.
A pressão contrária a uma mulher negra, com todas as credencias para integrar com louvor o Supremo, já está em curso.
O movimento dele, Zanin, neste xadrez de mudanças de cadeiras no sistema de justiça (Judiciário e PGR) é intencional.
Renovar o sistema ou continuar com o mesmo perfil político-ideológico?
Os movimentos socias atingidos por esses votos do Ministro Zanin poderiam solicitar uma audiência com ele e o colocar a par da realidade que vivem, das suas angústias e esperanças.
O PT nunca deu a devida importância na escolha de membros do Judiciário. Poder que, perante à história, sempre esteve a serviço das classes dominantes, sempre homologando golpes, sempre, senão toda, na meia covardia, se é que existe.
O preço desses erros foi muito caro, haja vista as condenações e prisões de Zé Dirceu, Genoíno, dos tesoureiros do PT, com consequências deletérias na militância e na sociedade.
O processo do chamado mensalão foi a primeira etapa do golpismo, que não cessou, ainda há conspiração em curso.
Não é cedendo que se afirma a democracia social, é fortalecendo a esquerda democrática em todos os poderes da União e na organização basal da sociedade.
Não creio mais em erros e apedeutismos, mas em conveniência política a serviço de uma estratégia que se ilude com a conciliação de classes.
A nós, militantes históricos, é imperativo declamar: a história ensina, mas é necessário vontade para aprender e coragem para colocar em prática.
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.
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É dificil para nós, observadores externos, entendermos certas escolhas. Não sabemos o que se passa nos bastidores da indicação de um ocupante para o STF. Só podemos especular ou simplesmente dizer que Lula errou novamente.
Lula fez a indicação mal tomou posse, num cenário adverso, sem maioria parlamentar e numa complexa articulação de uma base de apoio mínima no Congresso. Não poderia correr um risco de sofrer o desgaste de uma rejeição do nome indicado. Meu palpite é que, muito mais do que gratidão, Lula preferiu não correr certos riscos num primeiro momento.
Sobral Pinto, sem querer fazer comparações, era um conservador em todos os sentidos. No entanto, virou uma lenda pela defesa implacável do Estado Democrático de Direito. Zanin tem o mérito de ter exposto as entranhas do “lawfare” no Brasil.
A vitória eleitoral do Lula não muda o fato de que a nossa democracia é frágil e permanece sitiada. Militares 100% golpistas, muitas células neofascistas entranhadas no judiciário, nas polícias,no MP e outras instituições do Estado. Elite financeira pronta a desestabilizar ao menor sinal de que seus interesse estão ameaçados, com a grande mídia trabalhando na sua agenda. A esquerda perdeu a sua capacidade de ampla mobilização, enquanto a direita aprender a ocupar as ruas. Lula caminha num pântano, cercado de areia movediça. Mas a história pessoal dele sempre foi a de “comer o angu quente pelas beiradas”, com uma habilidade ímpar. Não temos outra alternativa a não ser confiar na sagacidade do Lula. Mesmo com muitas decisões frustrante pra nós, que sempre esperamos mais.
Talvez a próxima indicação para o STF seja mais ousada. A conferir.
Quando as candidaturas se assanharam para a cadeira do supremo, nós aqui, da turma do gargarejo, ficamos a dar palpites: o Zanin foi tão dedicado; precisamos de uma mulher no supremo; um juiz afrodescendente; e a conversa continuou sob o discreto silêncio de Lula. De cá, a turma do gargarejo opinava e torcia. De minha parte achei que o Lula não seria tão óbvio (para não dizer tolo) em nomear o Zanin para um cargo tão especial e vitalício, por um tempo tão longo, que Zanin embora competente no seu mister, ainda não contava com a vivência necessária para exercer. Até comentei que se o Lula quisesse acertar, poderia guindar o ministro Benedito Gonçalves do STJ ao supremo, e se quisesse ser muito grato poderia nomear o Zanin para a vaga do STJ. Ele estaria preenchendo com sabedoria os dois postos. Mas Lula, suponho, tem a síndrome do pobre. Acha bonito o culto, rico e bem nascido porque a ele faltou essa condição. É nesses que ele confia. Vejamos que se por gratidão, tirando o Delgatti, não haveria Zanin, eis que o advogado dedicado já havia esgotado todos os seus recursos. Entretanto, Lula em vez de gratidão, deu para o Delgatti uma banana (com casca) enquanto abençoou o Zanin com a sua gratidão seletiva. Amarguemos as escolhas do Lula , agora sem chorar, pois que as conseqüências sempre recaem sobre ele mesmo.