Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).

Universidade é diferente de escola e de empresa, por Augusto Rocha

O tripé Ensino, Pesquisa e Extensão vem sendo instado a produzir também a inovação, inserindo esta nova dimensão.

Universidade é diferente de escola e de empresa

por Augusto Cesar Barreto Rocha

               Este texto não terá uma conclusão absoluta, pois é fruto de uma conversa interrompida. Como é difícil compreender a instituição Universidade. Existem faz séculos, são reguladas por leis rígidas, formam profissionais em todas as áreas do conhecimento, são fundamentais para o desenvolvimento, e, corretamente, são exigidas de uma modernização constante, com professores que ficam mais velhos a cada ano e alunos com aproximadamente a mesma idade, ingressando periodicamente. Ao mesmo tempo, nem todos entendem o quanto são fundamentais para a construção do futuro.

               O tripé Ensino, Pesquisa e Extensão vem sendo instado a produzir também a inovação, inserindo esta nova dimensão. Se, por um lado a inovação é fundamental, por outro, como transformar um não empresário em um empresário? Como respeitar as áreas onde a inovação não é o aspecto central, como as humanidades em geral, mas que possuem caráter fundamental na formação de um país?

               Perdemos, na última semana, o Prof. Ennio Candotti, que foi Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), dirigia ativamente o Museu da Amazônia (MUSA) e ainda elaborava planos formais para o futuro da Amazônia, que não teremos a oportunidade de apreciar. Tive a honra de ter compartilhado várias reuniões com ele – um democrata – onde deliberávamos sobre este difícil encontro da inovação com a Amazônia.

               Seguimos nas universidades, com estruturas formais contando detidamente quantas horas o professor passa na sala de aula (como numa escola), com Portarias e práticas que dificultam ou impedem a reposição de professores que se aposentam ou morrem, com pouco ou nenhum orçamento para formação após o Doutoramento, como se o professor virasse um “iluminado” e não precisasse mais estudar. Há ainda uma ânsia, esperando que o professor tenha a condição de: ensinar, fazer pesquisa, publicar em periódicos Qualis A, fazer extensão, orientar alunos em TCC, PIBIC, Dissertação, Tese, Estágio Supervisionado, Monitoria e por aí vai – tudo ao mesmo tempo.

               Neste contexto, a inovação ora me soa como uma piada, ora como a grande oportunidade, dependendo do dia, interlocutor e do quanto ele entende da lógica e das métricas que norteiam uma universidade ou um empreendimento. Como, em sã consciência, um administrador de empresa esperaria que o mesmo profissional tenha as seguintes características simultâneas: criativo e organize a burocracia, que lide com as depressões do orientado, faça palestras e delibere com a imprensa, a sociedade, o empresário e fique atento aos prazos, nos diversos colegiados e reuniões sem fim, com um marco legal que diz tudo que ele deve fazer – e não ao contrário. Isso em 40h semanais, onde tem que lecionar – como se isso fosse apenas um detalhe secundário. É isso que se espera numa universidade.

               Não há jurídico, não há escritório de projetos, não há secretaria, não há quase nada – nem computadores, nem projetores e, por vezes, nem água, nem papel higiênico. Mesmo assim, dentre as 20 instituições nacionais que mais registram patentes, 17 são universidades públicas. Com tudo isso, a última moda é atacar a liberdade de cátedra. Precisamos urgentemente enfrentar as mazelas institucionais que estão destruindo o ensino e precarizando a pesquisa nacional. Antes de tudo, a Universidade não é escola – mas tem ensino e possui jovens que deveriam ser apoiados para o futuro, com laboratórios que estivessem no futuro, mas seguem no passado.

               A perda do Prof. Ennio e das nossas conversas interrompidas, antes pandemia, e não retomadas depois dela, deixa a falta de uma resposta nunca construída, mas a última certeza de nossos diálogos: ciência básica verdadeira leva a inovação. Ensino verdadeiro leva a Pesquisa, que leva a inovação, no tempo certo e com os recursos apropriados. Temos este potencial, mas precisamos dar foco, alocar orçamento, priorizar as pessoas e parar de apequenar a grandeza nacional.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador