Cesar Locatelli
César Locatelli, economista, doutorando em Economia Política Mundial pela UFABC. Jornalista independente desde 2015.

Economistas apoiam reavaliação da meta de superávit primário, por César Locatelli

Amarrar as mãos do atual governo com metas irrealistas é o caminho mais curto para o fortalecimento da extrema direita autoritária.

Economistas apoiam reavaliação da meta de superávit primário

por César Locatelli

Por que razão o presidente Lula tem se posicionado favoravelmente a uma reavaliação das metas fiscais? Em seus mandatos anteriores, Lula cumpriu os superavits primários com muito maior rigor que seus antecessores. O que há de diferente?

O quadro político-econômico brasileiro atual não pode prescindir da atuação do governo como impulsionador do investimento e como garantidor de políticas inclusivas e socialmente justas. Baixo crescimento, alto desemprego, cortes em gastos da saúde e da educação são os ingredientes potencializam o sofrimento dos mais pobres e levam à destruição da frágil democracia que vivemos.

Forças autoritárias ainda ameaçam a estabilidade democrática de nosso país e amarrar as mãos do atual governo com metas comprovadamente irrealistas e ineficazes é o caminho mais curto para o fortalecimento da extrema direita autoritária.

Esta foi a razão da mobilização de economistas progressistas que lançaram o Manifesto pela reavaliação da meta de resultado primário, reproduzido a seguir e que pode ser subscrito aqui.

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Manifesto pela reavaliação da meta de resultado primário

As declarações recentes do Presidente Lula pela reavaliação das metas fiscais encontram apoio de uma coletividade de economistas, acadêmicos e especialistas em economia e orçamento público, que atuam não só no Brasil, mas também em diversos outros países. Em um contexto no qual forças autoritárias ainda ameaçam a estabilidade democrática do nosso país, o posicionamento do Presidente emerge como um bastião contra o retrocesso, reiterando a importância de políticas inclusivas e socialmente justas. A política fiscal deve ser voltada à promoção do crescimento e desenvolvimento socioeconômico, com responsabilidade ambiental e com estabilidade macroeconômica. A quem interessa que metas fiscais irrealistas não sejam alcançadas?

A adoção de metas de resultado primário excessivamente restritivas e potencialmente inviáveis fortalece aqueles que buscam subverter nossos valores democráticos e os direitos sociais e humanos, que foram consagrados na Constituição Federal de 1988 e reafirmados pelas urnas. Adicionalmente, inviabiliza a expansão quantitativa e qualitativa dos serviços públicos com o intuito de mercantilizá-los. Como se não bastasse, amplia riscos políticos e econômicos, como o acionamento de sanções previstas no Regime Fiscal Sustentável, as ameaças aos pisos constitucionais da saúde e da educação e, dado o irrealismo das metas, até mesmo crimes de responsabilidade que não deixarão de ser cobrados pelos veículos de comunicação, políticos, e economistas próximos do mercado financeiro.

No atual cenário econômico, torna-se imprescindível a priorização do investimento em obras e serviços públicos essenciais e dos programas sociais, em detrimento de uma adesão rígida e dogmática a metas de resultado primário irrealistas. A gestão orçamentária deve prezar pela sustentabilidade fiscal, empregando seus instrumentos para criar as condições necessárias para o crescimento econômico dos diferentes setores de atividade, para alcançar o pleno emprego, para garantir a estabilidade de preços e para fomentar a prosperidade da população brasileira, em especial da parcela mais desfavorecida.

Defendemos uma abordagem fiscal e orçamentária que esteja alinhada com os objetivos de promover o bem-estar social, a justiça econômica e o desenvolvimento sustentável. Rejeitamos metas potencialmente inatingíveis e contracionistas que conduzam a cortes e contenções de recursos para investimentos e políticas sociais e demais políticas públicas, desacelerando a economia e exacerbando as desigualdades. Portanto, com o objetivo de garantir a estabilidade macroeconômica e o progresso e a justiça social, com a preocupação de salvaguardar a democracia, manifestamos a urgência pela alteração da meta de resultado primário para 2024.

Subscrevem este manifesto:

Cesar Locatelli – Economista e mestre em economia

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