Ataque ao filme de Gentili não era cortina de fumaça, mas estratégia da campanha bolsonarista, diz antropólogo

Campanha contou com a participação de setores de esquerda e progressistas que engrossaram o coro dos que acusavam o filme de fazer "apologia do abuso infantil"

Há indícios de que grupos bolsonaristas organizados nas redes sociais orquestraram o ataque público ao filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, disponível na Netflix. Para o doutor em antropologia pela UFRJ e podcaster Orlando Calheiros, que monitora o ecossistema bolsonarista na internet, a campanha contra o filme – que contou com adesão das esquerdas – foi uma ação estratégica para reposicionar Jair Bolsonaro junto aos conservadores, numa tentativa de fazer frente ao avanço de Lula nas pesquisas entre evangélicos.

Roteirizado pelo comediante Danilo Gentili e estrelado por Fábio Porchat, a obra teve um trecho divulgado há alguns dias na internet, gerando comoção por supostamente incitar a prática de pedofilia. Os criados afirmam que a intenção da cena, ao contrário do que foi alegado pelos bolsonaristas, era de ser crítico ao abuso infantil.

O Ministério da Justiça agiu prontamente censurando o filme da Netflix, mas a plataforma se recusou a cumprir a notificação e apenas mudou a classificação indicativa da produção para maiores de 18 anos.

O campo da esquerda saiu dividido. Uma parte endossou a campanha contra o filme, enquanto outra parcela tratou a situação como uma cortina de fumaça para esconder os problemas do governo Bolsonaro, bem na semana que em um novo reajuste nos preços dos combustíveis foi anunciado.

“Não é a primeira vez que vemos uma ação coordenada desse tipo, a velocidade da divulgação e a resposta [do Ministério da Justoça], o contexto – o encontro com lideranças, o avanço de Lula sobre evangélicos. Inclusive, por isso afirmo que não se trata de ‘cortina de fumaça’ mas de estratégia de campanha”, escreveu Calheiros numa thread (ou fio) no Twitter.

Segundo ele, a estratégia foi direcionada para “mostrar o comprometimento do governo e sua capacidade de reagir diante de temas sensíveis para os conservadores.”

O resgate da cena do filme pelos bolsonaristas ocorreu dias após Bolsonaro se encontrar com Silas Malafaia e outras lideranças evangélicas. Na ocasião, o extremista de direita afirmou que as ações do governo são direcionadas pelos religiosos.

“O tema se espalha como fogo em mato seco pelos grupos evangélicos e conservadores, a velocidade das postagens indicaria uma ação coordenada em grupos paralelos. A escolha dos horários também não é aleatória, reforçando minha tese”, comentou o antropólogo.

“Agora, dessa vez, a campanha contou com a participação de setores de esquerda e progressistas que engrossaram o coro dos que acusavam o filme de fazer “apologia do abuso infantil”, dando ainda mais tração a campanha bolsonarista”, acrescentou.

Leia o fio completo abaixo:

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Redação

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