O Ministério da Justiça, em medida anunciada nesta terça-feira (15/3), ordenou à plataforma de streaming Netflix que retire do seu catálogo o filme “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, do humorista Danilo Gentili, devido a uma cena em que se faz uma piada sobre pedofilia.
No texto da decisão, o ministério explica que ela foi tomada “tendo em vista a necessária proteção à criança e ao adolescente consumerista”, e informa que a Netflix tem um prazo de até cinco dias para cumprir a ordem, caso contrário sofrerá uma multa diária de R$ 50 mil.
Na cena em questão, um inspetor de escola, interpretado pelo ator Fábio Porchat, tenta praticar um ato sexual com dois menores de idade. Todo o filme é inspirado em um livro homônimo de Danilo Gentili.
O curioso do caso é que a campanha que levou à suspensão do filme foi realizada por grupos bolsonaristas desde a tarde desta segunda-feira. Porém, este mesmo filme enfrentou suas primeiras polêmicas há cinco anos atrás, e naquela ocasião esses mesmos grupos bolsonaristas defenderam ferozmente o filme, chegando a exigir (e conseguir) a censura a um jornalista.
Aconteceu com o jornalista Diego Bargas, que acabou sendo demitido da Folha de São Paulo depois que publicou uma crítica negativa ao filme. Na ocasião, o próprio humorista se sentiu contrariado pela opinião de Bargas e usou as redes sociais para pedir ataques ao jornalista.
A reação foi grande, especialmente de grupos bolsonaristas, que naquela época consideravam Gentili um aliado do então deputado e candidato presidencial Jair Bolsonaro. Um dos que atendeu ao chamado foi o pastor bolsonaristas Marco Feliciano, que chegou a posar com o cartaz promocional do filme – recentemente apagou aquele post e alegou que, na ocasião, não viu a cena de alusão à pedofilia, porque teve que atender o celular bem naquela hora.
Além da polêmica com o jornalista, o caso pode ter relação com uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.
Nesta mesma segunda-feira em que os bolsonaristas “ressuscitaram” o filme de Gentili, Moraes decretou uma determinação que obrigava o Ministério da Justiça a dar informações sobre a extradição de Allan dos Santos.
Pelo Twitter, a jornalista e doutoranda em Linguística Letícia Sallorenzo fez uma thread na qual chamou a atenção para o surgimento da polêmica sobre o filme logo depois da publicação da decisão de Moraes. Isso porque a posterior indignação do Ministério da Justiça, seguindo a movimentação dos grupos bolsonaristas, parecia contraditória, já que a responsabilidade pela classificação etária do filme de Danilo Gentili é do próprio Ministério – e uma das reclamações dos grupos bolsonaristas é que a indicação do filme na Netflix é para público a partir de 14 anos.
Mas não há contradição. A acusação tem o intuito de afetar Alexandre de Moraes, pois ele era o Ministro da Justiça na época em que o filme foi classificado – durante o governo de Michel Temer.
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