Ministério de Justiça ordena que Netflix retire filme de Danilo Gentili por piada sobre pedofilia

Victor Farinelli
Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN
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Em 2017, bolsonaristas defenderam o humorista e chegaram a pressionar a Folha para que demitisse jornalista que publicou crítica negativa ao filme. Caso pode ser represália ao ministro do STF Alexandre de Moraes

Visita de Jair Bolsonaro ao programa de Danili Gentili (Foto: Alan Santos/PR)

O Ministério da Justiça, em medida anunciada nesta terça-feira (15/3), ordenou à plataforma de streaming Netflix que retire do seu catálogo o filme “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, do humorista Danilo Gentili, devido a uma cena em que se faz uma piada sobre pedofilia.

No texto da decisão, o ministério explica que ela foi tomada “tendo em vista a necessária proteção à criança e ao adolescente consumerista”, e informa que a Netflix tem um prazo de até cinco dias para cumprir a ordem, caso contrário sofrerá uma multa diária de R$ 50 mil.

Na cena em questão, um inspetor de escola, interpretado pelo ator Fábio Porchat, tenta praticar um ato sexual com dois menores de idade. Todo o filme é inspirado em um livro homônimo de Danilo Gentili.

O curioso do caso é que a campanha que levou à suspensão do filme foi realizada por grupos bolsonaristas desde a tarde desta segunda-feira. Porém, este mesmo filme enfrentou suas primeiras polêmicas há cinco anos atrás, e naquela ocasião esses mesmos grupos bolsonaristas defenderam ferozmente o filme, chegando a exigir (e conseguir) a censura a um jornalista.

Aconteceu com o jornalista Diego Bargas, que acabou sendo demitido da Folha de São Paulo depois que publicou uma crítica negativa ao filme. Na ocasião, o próprio humorista se sentiu contrariado pela opinião de Bargas e usou as redes sociais para pedir ataques ao jornalista.

A reação foi grande, especialmente de grupos bolsonaristas, que naquela época consideravam Gentili um aliado do então deputado e candidato presidencial Jair Bolsonaro. Um dos que atendeu ao chamado foi o pastor bolsonaristas Marco Feliciano, que chegou a posar com o cartaz promocional do filme – recentemente apagou aquele post e alegou que, na ocasião, não viu a cena de alusão à pedofilia, porque teve que atender o celular bem naquela hora.

Além da polêmica com o jornalista, o caso pode ter relação com uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.

Nesta mesma segunda-feira em que os bolsonaristas “ressuscitaram” o filme de Gentili, Moraes decretou uma determinação que obrigava o Ministério da Justiça a dar informações sobre a extradição de Allan dos Santos.

Pelo Twitter, a jornalista e doutoranda em Linguística Letícia Sallorenzo fez uma thread na qual chamou a atenção para o surgimento da polêmica sobre o filme logo depois da publicação da decisão de Moraes. Isso porque a posterior indignação do Ministério da Justiça, seguindo a movimentação dos grupos bolsonaristas, parecia contraditória, já que a responsabilidade pela classificação etária do filme de Danilo Gentili é do próprio Ministério – e uma das reclamações dos grupos bolsonaristas é que a indicação do filme na Netflix é para público a partir de 14 anos.

Mas não há contradição. A acusação tem o intuito de afetar Alexandre de Moraes, pois ele era o Ministro da Justiça na época em que o filme foi classificado – durante o governo de Michel Temer.

Victor Farinelli

Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN

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