O depoimento de Freire Gomes e a digital de Bolsonaro na tentativa de golpe

Dolores Guerra
Dolores Guerra é formada em Letras pela USP, foi professora de idiomas e tradutora-intérprete entre Brasil e México por 10 anos, e atualmente transita de carreira, estudando Jornalismo em São Paulo. Colabora com veículos especializados em geopolítica, e é estagiária do Jornal GGN desde março de 2014.

Oitiva do general do Exército aponta também a participação do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello em trama golpista

O Comandante do Exército, Marco Freire Gomes. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O general do Exército Marco Antonio Freire Gomes frisou que o relatório da Comissão de Fiscalização do Exército não identificou qualquer fraude ou vulnerabilidade no sistema eletrônico de votação e que nem ele, nem os demais Altos Comandantes do Exército corroboraram com a intentona golpista.

A afirmação foi feita durante depoimento sobre a tentativa de golpe de Estado, que culminou no ataque aos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Durante sua defesa, Freire Gomes afirmou que, desde a formação da Comissão de Fiscalização do Exército até o fatídico dia da invasão às instituições, o Exército teria mantido uma posição institucional, imparcial, sem interferir no processo eleitoral.

Ao contrário, os Comandantes das três Forças Armadas; Exército, Marinha e Aeronáutica, teriam sido atacados por sua posição, citando a Carta ao Comandante do Exército Brasileiro.

Para o comandante, seria uma forma de pressionar sua adesão ao Golpe de Estado e que não considerava lícito tal declaração. Tais ataques teriam sido feitos “de fora” contra os Comandantes que não concordavam com o golpe, e passaram a receber ataques pessoais.

Embora tenha negado participação nas reuniões que trataram da intervenção militar que anularia as eleições presidenciais de 2022 e levaria autoridades do Judiciário à prisão, Freire Gomes confirmou que esteve presente em reuniões no Palácio do Planalto após o 2º turno das eleições onde o então presidente Jair Bolsonaro teria proposto a aplicação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e Estado de Sítio ou Defesa, mas que havia se posicionado contrário.

Ainda declarando não ter recebido a minuta do golpe, Freire Gomes apontou que uma das versões do documento apreendido com o ex-ajudante geral da presidência, Mauro Cesar Cid, e o ex-Ministro da Justiça, Anderson Torres, havia sido lida nesses encontros pelo assessor Filipe G. Martins.

O decreto da Operação de Garantia da Lei e da Ordem teria sido rechaçado pelo então chefe da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos Almeida Baptista Júnior por ausência de suporte jurídico. Já em sua oitiva, o brigadeiro afirmou que o general chegou a comunicar que prenderia Bolsonaro caso ele tentasse colocar em prática um golpe de Estado.

Freire Gomes também assumiu ter recebido informações privilegiadas de Mauro Cid por meio do aplicativo UNA, como a confirmação de que empresários do agronegócio financiavam as manifestações em frente aos quartéis por não reconhecerem a vitória de Lula nas urnas.

Contudo, o militar foi taxativo quanto à sua oposição a qualquer tentativa de intervenção militar. Para ele, nenhuma dessas iniciativas estariam respaldadas juridicamente e Mauro Cid havia confidenciado tais detalhes devido a sua “proatividade”, com quem mantinha uma relação “protocolar”.

O Comandante Gomes confirmou ter recebido de Mauro Cid áudios do General ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a intenção de utilizar o artigo 142 para impedir a posse de Lula, porém havia considerado não ser uma declaração relacionada às Forças Armadas, já que Pazuello estava na Reserva e havia sido eleito deputado federal.

Quando questionado sobre a inação do Exército em remover os manifestantes das portas dos quartéis, Gomes declarou “ausência de suporte jurídico”, pois possuíam apenas o poder de Polícia Administrativa de preservação de patrimônio público e daqueles que trabalhavam nas instalações militares.

Ainda sobre os acampamentos nos quartéis, justificou sua assinatura na nota “Às instituições e ao povo brasileiro” não como um incentivo, mas como uma mensagem de pacificação à população e às instituições.

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1 Comentário

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  1. Sei não! É um pouco estranho terem faltado ao chamamento da razão a Bolsonaro, nas várias outras oportunidades que se sucediam sem parar, durante os quatro anos de seu governo. O que não nunca faltou foram oportunidades, como: no descaso com a pandemia, com a importância da vacina, no descaso com a ciência, no descaso com o desmatamento e mineração ilegal, no descaso com a suspeita de corrupção para compra de vacinas, para instalação dos hospitais de campanha, para a venda de oxigênio e outros, não menos graves e não menos comprometedores. Então, o que fica parecendo é que: com a excessão do plano golpista, tudo estava dentro da normalidade; com a excessão do plano golpista, a democracia era plena; com a excessão do plano golpista, a farra do quase livre acesso as armas acontecia de vento em popa; com a excessão do plano golpista, as rachadinhas + a cocaína na frota aérea presidencial + os mais de 50 imóveis negociados pela familia + o escândalo das jóias + todo o negacionismo e todas as denuncias relacionadas com o esvaziamento de importantes órgãos federais, que são fiscalizadores e acusadores dos que praticam malfeitos.

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