Desigualdade no Brasil aumenta quatro anos consecutivos reduzindo em 17% renda dos 50% mais pobres

Renda dos 10% mais ricos aumenta 2,55% e do 1% mais rico, 10,1%; Em apenas dois anos, o Brasil passou a ter mais 6,2 milhões vivendo com menos de R$ 233 por mês

Jornal GGN – O alto nível de desemprego por um longo período é o principal fator responsável pelo aumento da desigualdade no país, levando 23,3 milhões de brasileiros a faixa da pobreza – grupo dos que vivem com menos de R$ 233 por mês. A informação é de reportagem do jornal O Globo, com base nos resultados do estudo do economista da FGV Social Marcelo Neri.

O pesquisador aponta que o Brasil vive o mais longo período de aumento da desigualdade da sua história, superando o pico registrado em 1989, alimentado pela inflação galopante da época.

Seu trabalho mostra ainda que em 17 trimestres seguidos, pouco mais de quatro anos (entre 2014 e 2019), a renda da metade mais pobre da população caiu 17,1%, enquanto a renda do 1% mais rico do país avançou 10,11% e dos 10% mais ricos, 2,55%.

“O principal fator que influencia o aumento da desigualdade é o desemprego, que, embora apresente sinais de alguma recuperação, ainda é grande no país”, pontua Nero. O levantamento tem como base a renda do trabalho per capita familiar (a soma da renda obtida por todos aqueles que trabalham em uma família, dividida pelo número de pessoas do domicílio), descontado do cálculo a inflação do período.

Os jovens de 20 a 24 anos foram os que mais perderam renda: 17,7% entre o quarto trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2019. Já as pessoas sem instrução viram seus rendimentos recuarem em 15% no período.

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O economista explica que o mercado de trabalho tende a diferenciar ainda mais os trabalhadores, de acordo com o grau de instrução, em épocas em que o desemprego está em alta. Portanto, os menos capacitados, com baixa escolaridade, têm menos chances de acessar as vagas disponíveis.

“Uma das explicações para a queda na renda dos jovens é que eles não conseguem inserção no mercado de trabalho. Com a crise e as demissões de chefes de família, jovens passaram a procurar ainda mais emprego. Os resultados mostram que quem mais perdeu nesta crise foram as pessoas com pouca experiência ou com pouca instrução”, completou.

Para formular seu trabalho, Neri usou o índice Gini, que mede a concentração de renda usando a escala de zero a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o nível de desigualdade e concentração de renda no país.

Em 2014, o índice Gini do Brasil estava em 0,6003. No segundo trimestre de 2019, alcançou 0,6291.

Outro especialista entrevistado pelo jornal, João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ, apontou também a precariedade do mercado de trabalho como responsável pelo aumento da desigualdade.

“O que esses números mostram é a disparidade no mercado de trabalho. O índice de Gini abarca todas as fontes de renda, sejam elas formais ou informais. Sendo assim, inclui trabalhadores que têm renda irregular e os registrados, com salário fixo. O mercado ainda não consegue absorver o contingente de trabalhadores disponíveis. E, quando absorve, é de uma maneira muito desigual”, disse.

Os mais qualificados não escapam da crise. O desemprego avançou 13% em um ano nesse grupo. Atualmente 1,4 milhão de brasileiros com ensino superior completo estão sem trabalho, como mostrou a Pnad Contínua, do IBGE, divulgada na primeira semana de julho. A nível de comparação, nos três primeiros meses de 2018, eram 1,23 milhão de desempregados no Brasil com ensino superior completo.

O desemprego também é apontado como fator principal na queda do poder de compra das famílias. “Desemprego é sinal de desajuste do mercado de trabalho e de frustração. A maioria dos ocupados passa a temer cair no desemprego, e, por precaução, reprime sua demanda por bens e serviços”, diz Nero no estudo.

Ainda de acordo com o levantamento, houve aumento de 8,3% para 11,1% de pessoas pobres no país, entre 2015 e 2017, totalizando 23,3 milhões vivendo com menos de R$ 233 por mês. O que os registros mostram, portanto, é que em apenas dois anos o Brasil passou a ter mais 6,2 milhões de pobres.

“Ao passo que o desemprego aumentou e mais pessoas perderam suas fontes de renda, as políticas públicas não conseguiram incorporar esse novo contingente de desassistidos. Um exemplo é o Bolsa Família. Foram feitas medidas para evitar fraudes e melhorar o cadastramento, mas a expansão do programa não foi suficiente para impedir o aumento significativo na pobreza do Brasil”, escreve Neri.

*Clique aqui para ler a reportagem do Globo.

Redação

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