Marcos Verlaine: Prepare-se, 2026 já está na ordem do dia

Resumo da ópera: é preciso eleger numerosa bancada de esquerda e centro-esquerda para não sucumbir à irrelevância.

O mundo político já se organiza para as eleições gerais de 2026 e debate nomes | Fotos: Ricardo Stuckert, Marcelo Camargo/Agência Brasil, Divulgação/Novo e Rodrigo Felix Leal/ANPr

do Diap – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar

Marcos Verlaine: Prepare-se, 2026 já está na ordem do dia

Entramos no ano estratégico para o governo, porque no próximo, em 2026, teremos o pleito que vai eleger presidente e vice (2), governadores (27), senadores (54), 2 candidatos por estado, deputados federais (513), estaduais e distritais, no DF (1.059). São quase 1,5 mil cargos político-eleitorais em disputa, que após as eleições definem os rumos do Brasil.

Marcos Verlaine

Observem que a capacidade de eleger Lula, mesmo estando na oposição, foi também fruto de graves e estruturais erros do ex-presidente. O êxito eleitoral foi porque, o ex-chefe do Executivo errou mais que acertou. Problema dele. Isto é, a vitória de Lula não foi por exclusivo mérito próprio. Não fosse Bolsonaro ser quem é, talvez, tivesse renovado (pasmem!) o mandato.

Agora estamos sob governo — cuja característica fundamental é sua amplitude —, que vai da esquerda à chamada direita liberal e neoliberal, inclusive fazendo parte do governo, com ministérios e tudo. Só ficou de fora, por óbvio, o extremismo bolsonarista.

Vai ser a ampla unidade — com muita concentração de forças e recursos para evitar dispersão de inteligência e energia, a fim de maximizar projeto eleitoral consistente e vitorioso —, que poderá permitir derrotar, novamente, a extrema-direita. E com atenção às eleições legislativas — Câmara e Senado.

Ali está, hoje, o nó górdio da República, nesses tempos pós-Eduardo Cunha (RJ) e Arthur Lira (PP-AL), que imprimiram novo ritmo e rumo ao Poder Legislativo.

Correlação de forças
Mesmo tendo saído vitoriosos das eleições presidenciais, a esquerda e centro-esquerda não elegeram mais que 140 deputados, num colégio de 513, e menos de 20 senadores, num colégio de 81.

Não fosse a amplíssima aliança para governar e fazer maiorias no Congresso, ainda que eventuais, para aprovar a agenda do governo, Lula estaria em maus lençóis.

Não fosse ainda a imensa capacidade de diálogo de Lula1, a situação do campo progressista, democrático e popular estaríamos no gueto, ainda que no governo.

Sobre as eleições de 2026
Vamos direto ao ponto. Se este campo político-eleitoral originário do chamado lulismo — em particular a esquerda e a centro-esquerda — não se preparar para disputar as eleições de 2026 estará fadado a enfrentar imensas dificuldades, maiores que as atuais. Inclusive de existência irrelevante. Veja a configuração do Congresso — Câmara e Senado — e os enormes contorcionismos que Lula precisa fazer para governar.

Com Congresso empoderado, com orçamento e agenda próprios, extrema-direita com pauta permanentemente disruptiva e completamente fora da órbita do bem comum, será preciso eleger numerosa bancada de deputados e senadores para dar sustentação a Lula, em caso de reeleição, ou com capacidade de fazer efetiva e relevante oposição, em caso de derrota, a governo de direita ou extrema-direita.

Resumo da ópera: é preciso eleger numerosa bancada de esquerda e centro-esquerda para não sucumbir à irrelevância. Aí inclui-se o movimento sindical2.

Para isso é necessário começar, agora, as articulações de candidaturas, alianças e o trabalho estrutural para colocar de pé esse projeto. Antes, atenção para o detalhe que deverá vertebrar essa caminhada: a reeleição de Lula, com no mínimo, a mesma composição — arco de forças — de 20223, pois não há nada relevante à esquerda de Lula e do PT.

Os resultados das eleições de 2024 — nos primeiro e segundo turnos — deixaram isto mais explícito. A ampla vitória da direita — configurada no Centrão — expressou a correlação de forças existente hoje no Congresso. No pleito municipal, a esquerda esboçou alguma reação/recuperação e a extrema-direita foi derrotada. Mas mantém-se vivíssima e com possibilidades reais e consistentes de voltar ao poder, em 20264, com ou sem Bolsonaro.

Projeto progressista, democrático e popular
Mesmo com Bolsonaro inelegível, ele não está fora do jogo, pois se trata de relevante cabo eleitoral. Portanto, vai ter muito peso para alçar e eleger aliados ao Congresso — deputados e senadores5 —, governadores e até mesmo ao Planalto.

Fato: o bolsonarismo tem mais nomes competitivos ao Planalto que o campo democrático. Portanto, 2026 não será tubo de ensaio. É preciso entrar para disputar e vencer. Olha o que ocorreu nos EEUU… Não é preciso fazer grandes elocubrações para entender o que se quer dizer.

Quem estiver pensando em candidatura é preciso se colocar de forma profissional. Candidaturas de véspera, sem bases eleitoral e social, sem recursos financeiros, sem relevância nas redes digitais; esqueçam, pois não terão chance alguma. O modelo de disputa atual não permite e não se viabiliza sob o amadorismo.

O jogo é para quem se preparou para jogar. Porque o bolsonarismo virá disputar com muita força e com objetivos muito determinados e perigosos. Por exemplo, estão se preparando para eleger grande bancada ao Senado6, cujo objetivo é emparedar o Supremo, com impedimento de magistrados.

Mesmo com a condução do governo por Lula, com equilíbrio e imensa capacidade de diálogo e agenda social, o chamado mercado impôs agenda de cortes sociais, que não foi possível conter. Essa agenda de ajustes, de caráter neoliberal, passou no Congresso, cujo perfil econômico é majoritariamente neoliberal.

E, em se mantendo esse perfil no Legislativo, nenhum projeto desenvolvimentista parará em pé. Ou muda-se esse quadro ou o País não conseguirá destravar ou desenvolver algum projeto de desenvolvimento. E assim estaremos fadados a ser uma grande fazenda.

Marcos Verlaine – Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap

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1 Governo Lula: diálogo como estratégia de gestão – https://www.diap.org.br/index.php/noticias/agencia-diap/92064-governo-lula-dialogo-como-estrategia-de-gestao

2 Desafios da agenda sindical e novos protagonistas no Congresso – https://www.diap.org.br/index.php/noticias/agencia-diap/92051-desafios-da-agenda-sindical-e-novos-protagonistas-no-congresso

3 Lula e seus adversários – https://www.diap.org.br/index.php/noticias/artigos/91778-lula-e-seus-adversarios

4 Quem venceu em 2024: mais votos, prefeitos e eleitores governados – https://www.poder360.com.br/poder-eleicoes/quem-venceu-em-2024-mais-votos-prefeitos-e-eleitores-governados/

5 A importância da Câmara dos Deputados no cenário político atual – https://www.diap.org.br/index.php/noticias/agencia-diap/92033-a-importancia-da-eleicao-da-camara-no-cenario-politico-atual

6 O bolsonarismo define estratégia para 2026: o Senado Federal – https://www.diap.org.br/index.php/noticias/agencia-diap/91928-o-bolsonarismo-define-estrategia-para-2026-o-senado-federal

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2 Comentários

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  1. Eu lia com atenção.

    Quando vejo o trecho “governo vai da esquerda até a direita neoliberal”, eu parei.

    Onde, quem e em que lugar desse governo tem alguém de esquerda e, uma vez reconhecido como tal, age como se de esquerda fosse?

    Mas como uma pessoa dedicada ao debate e sim, a polêmica (como me disse Nassif), eu fui um pouco mais além.

    Arf.

    Perdi a esperança.

    O texto se dedica a tecer análise sobre a luta institucional do governo.

    Ok, tudo bem.

    Mas e o resto amigão?

    Onde está a imperativa necessidade de ampliar a base social do governo, revertendo essa sedimentação histórica do conservadorismo brasileiro, item que, justamente, impede a ampliação da base parlamentar?

    Bom, se vamos pelo caminho da direita, e “trocar votos por emendas” tá tudo certo , não sou moralista, mas o judiciário já mostrou que enxerga direita e esquerda de forma distinta.

    Direita tudo pode, e a esquerda…a esquerda…bem, Lula passou um ano e pouco preso e sabe do que falo.

    Se não combater o conservadorismo FORA da institucionalidade, a esquerda vai continuar refém de congressos como o de hoje, e permitindo o surgimento de déspotas eleitorais, como Collor, Bolsonaro e etc.

    Mais um enorme desperdício de tempo e espaço, ah, e claro, de dinheiro do contribuinte, porque se o moço é assessor parlamentar, ganha um trocado do erário, logo…

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