MinC é suspeito de fazer perseguição política a diretor de Aquarius

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Reprodução/O Som ao Redor
 
Da RBA
 
Artistas cobram do MinC gesto que afaste perseguição política a diretor de ‘Aquarius’
 
Uma cobrança do Ministério da Cultura (MinC) para que o cineasta Kleber Mendonça Filho devolva R$ 2,1 milhões por ter ultrapassado o limite de captação do longa metragem O Som ao Redor causou suspeita de perseguição política. O cineasta pernambucano é também diretor do filme Aquarius e ganhou visibilidade, em maio de 2016, ao denunciar no Festival de Cannes, junto com integrantes do elenco, o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.
 
Segundo o MinC, comandado pelo ministro Sérgio Sá Leitão, Kleber Mendonça Filho superou o limite de captação de R$ 1,3 milhão, estabelecido no edital de 2009 do Concurso de Apoio à Produção de Longas Metragens de Baixo Orçamento.
 
No último dia 29 de março, Kleber Mendonça Filho estava em pleno sertão do Seridó, no Rio Grande do Norte, trabalhando nas filmagens de Bacurau, seu novo filme, quando recebeu e-mail do ministério informando que deveria devolver os recursos relativos ao filme, realizado em 2010. Em 2013, o próprio MinC indicou o primeiro longa metragem do cineasta para representar o Brasil no Oscar.
 
“A carta por nós recebida do MinC sugere uma punição inédita no Cinema Brasileiro e que nos pareceria mais adequada a produtores que não teriam sequer apresentado um produto finalizado, e isso após algum tempo de diálogo”, afirma o cineasta, em Carta Aberta publicada nesta terça-feira (29) em rede social.  
 
No texto, Kléber Mendonça nega qualquer irregularidade. Ele explica que o custo final do longa O Som ao Redor foi de R$ 1,7 milhão, com o recurso complementar de R$ 410 mil tendo sido captado por meio do Edital de Audiovisual do Funcultura, edital estadual de Pernambuco. O diretor argumenta que o valor “foi devidamente declarado e autorizado pela ANCINE, após comunicação entre as duas instituições (Ancine e Secretaria do Audiovisual). São informações públicas e declaradas, já há oito anos”.
 
“Nosso consultor jurídico à época levou à Coordenação de Editais da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura a dúvida sobre recursos não-federais. A SAV afirmou, via email oficial, que a captação de recursos não-federais (no nosso caso, o Funcultura pernambucano) NÃO VIOLARIA os limitadores dispostos no edital de Baixo Orçamento em questão. Essa resposta está documentada (“Sim, o edital só veta recursos federais acima de R$ 300 mil.”). Nós nunca faríamos alteração de orçamento sem o acompanhamento das agências responsáveis, elas próprias regidas por regras internas duras”, explica o cineasta, também diretor do longa metragem Aquarius.
 
“Pergunto ao senhor se houve comunicação entre o MinC e a Ancine para tentar esclarecer essa questão institucional que não deveria ser transformada numa punição inadequada para os produtores de um filme exemplar”, questiona Kléber Mendonça. Ao dizer que O Som ao Redor, em câmbio corrigido, custou 465 mil dólares, ele ainda afirma que o Ministério da Cultura “deveria premiar produtores que fazem tanto e que vão tão longe com orçamento de cinema tão reconhecidamente enxuto”.
 
Na Carta Aberta, o cineasta diz ter tentado agendar, sem sucesso, uma reunião com o ministro Sá Leitão para discutir o imbróglio. Kleber Mendonça ainda faz referência ao momento difícil do país, onde acusações contra a classe artística têm sido frequentes. “Assumo resignado uma posição habitual demais no nosso país, a de um cidadão que precisa defender-se de acusações injustas”.
 
Apoio
Como forma de solidariedade e denúncia da possível perseguição política, o ator Wagner Moura criou nesta terça-feira (29) um abaixo-assinado de apoio ao diretor pernambucano.  
 
“Como fica impactada a produção cultural brasileira atual, com sentimento de vulnerabilidade incompatível com um pensamento democrático, a partir de um incidente como este?”, questiona, “como um barulho ensurdecedor ao redor”, o abaixo-assinado.
 
“Esperamos que o Ministro da Cultura receba em audiência o diretor Kleber Mendonça Filho para estabelecimento do diálogo respeitoso e a reversão administrativa dessa multa infundada e injusta afastando, dessa forma, qualquer sombra autoritária de perseguição política ou de atentado à liberdade de pensamento e expressão”, diz o texto, que tem a adesão inicial de mais de 70 pessoas da classe artística brasileira.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. Falta pouco

    Falta pouco para as pessoas começarem a pedir asilo político para fugir do Brasil. Ao invés da imaginação no poder,  a miséria existencial está aferrada nas instituições que mandam, comandam e desmandam no país.

  2. para casos de perseguição política…

    e é o caso

    qualquer pessoa, e de qualquer instituição, mesmo que do segundo ou do terceiro escalão, adquiriu o poder de destruir financeiramente qualquer pessoa, seu trabalho e todo o grupo de trabalho, incluindo familiares

    acredito que miram-se nos abusos do judiciário, como exemplo, para tanto

    e os que ainda teimam em apresentar argumentos e provas contrárias, acreditando que ainda temos justiça, são presas fáceis desse sistema ou de um estado completamente fora da lei

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