Checamos a frase do presidente, que defende que 63% dos trabalhadores brasileiros não protestam porque vão se aposentar com um salário mínimo
“63% dos trabalhadores brasileiros terão aposentadoria integral porque ganham salário mínimo, lamento dizê-lo. Quem pode insurgir-se é um grupo de 27%, 37%. A reforma pode merecer ajustamento, e quem vai discutir isso é o Congresso Nacional, mas quem reclama é quem na verdade ganha mais. Quem está acima desses tetos, quem tem aposentadoria precoce.” – Michel Temer, presidente da República, em discurso durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, em 7 de março.
O presidente Michel Temer discursava sobre a reforma da Previdência, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no dia 7 de março, quando disse que as alterações propostas para a aposentadoria dos brasileiros não vão prejudicar os trabalhadores de baixa renda. Como exemplo, apontou que “63% dos trabalhadores terão aposentadoria integral porque ganham salário mínimo”. Também disse que apenas quem ganha acima desse valor reclama das mudanças propostas por seu governo.
O Truco – projeto de checagem da Agência Pública – foi atrás dos dados para verificar se a afirmação de Temer é verdadeira. Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Presidência da República para solicitar a fonte das informações usadas. Segundo o órgão, o índice de 63% de aposentados que recebem um salário mínimo foi obtido com o Ministério da Previdência Social. A pasta confirmou o porcentual à reportagem em 10 de março: são 12,2 milhões de pessoas nesta categoria, do total de 19,2 milhões de aposentados. O mesmo número também já havia sido checado antes, quando analisamos uma fala da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Acontece que o presidente não se referiu aos aposentados de hoje, mas aos trabalhadores que ainda estão no mercado e que “terão aposentadoria integral porque ganham salário mínimo”. Um outro problema está no fato de os 63% de aposentados mencionados serem apenas do INSS, quando a reforma atingirá um número muito maior de pessoas – como funcionários públicos de estados e municípios.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 (Pnad 2015), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o porcentual de pessoas empregadas maiores de 10 anos que recebiam até um salário mínimo foi de 22,21%. A Pnad 2015 mostra ainda que metade (54,2%) dos trabalhadores encaixados nesta faixa não tinham carteira de trabalho assinada. Isso significa uma maior dificuldade para contribuir regularmente para a Previdência e, portanto, para se aposentar.
As pessoas que “ganham mais”, como destacou o presidente, realmente serão afetadas pelo projeto. De acordo com as novas regras propostas pelo governo federal, ao se aposentar com os requisitos mínimos previstos na reforma da Previdência – 65 anos de idade para homens e mulheres, e 25 anos de contribuição – o trabalhador só terá direito a 76% do valor médio sobre o qual contribuiu ao longo da carreira. Para atingir os 100%, terá de trabalhar por 49 anos.
Como o piso da aposentadoria continuará atrelado ao salário mínimo, quem completar 25 anos de contribuição receberá pelo menos o menor pagamento possível, atualmente de R$ 937, mesmo se a nova fórmula apontar o direito a um valor menor. Assim, quem ganha o mínimo ao longo da carreira não precisará contribuir por 49 anos para receber a aposentadoria integral, de um salário mínimo, como sustentou Temer.
Outros impactos da reforma
O presidente errou, portanto, ao dizer que 63% dos trabalhadores brasileiros ganham um salário mínimo. Mas este não foi o único deslize de Temer. Ele também se equivocou quando defendeu que as reclamações contra a reforma partirão somente de pessoas com rendas mais elevadas – que precisarão contribuir mais tempo para receber o valor integral. Há diversos pontos do texto enviado ao Congresso que prejudicam diretamente os benefícios das pessoas de baixa renda.
O problema começa no aumento do tempo mínimo de contribuição para a aposentadoria, que passará de 15 para 25 anos. Conforme já foi demonstrado pelo Truco, os trabalhadores remunerados nas menores faixas salariais têm maior dificuldade para contribuir com a Previdência, pois estão mais sujeitos à informalidade e ao desemprego. Segundo dados obtidos pela Folha de S.Paulo, se a regra dos 25 anos já estivesse valendo, 79% dos aposentados por idade não conseguiriam o benefício.
Além disso, diferentemente do que ocorre com as aposentadorias, a proposta do governo desvincula as pensões por morte do salário mínimo. A fórmula prevista permitirá ao governo pagar apenas 50% da aposentadoria para os pensionistas, com acréscimo de 10% para cada dependente. Esta medida impacta todas as faixas remuneratórias, inclusive as mais baixas. Segundo levantamento do jornal Valor Econômico, publicado em fevereiro, cerca de 55% dos 7,41 milhões de pensionistas ganham hoje até um salário mínimo.
Outro ponto que atinge as pessoas de baixa renda é a mudança proposta para o Benefício da Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social (BPC/LOAS). Hoje, isso garante um salário mínimo para as pessoas acima de 65 anos, mesmo que nunca tenham contribuído para a Previdência, assim como para pessoas com deficiência. É preciso que a renda por pessoa no grupo familiar seja menor que 25% do salário mínimo. Pelo texto da reforma, a idade para acessar o benefício será elevada para 70 anos e, assim como nas pensões por morte, os pagamentos poderão ser inferiores ao piso remuneratório nacional – o que já gerou protestos entre os deputados federais.
Além de ter utilizado erroneamente o índice de aposentados que recebem o mínimo, o presidente ocultou pontos centrais da reforma da Previdência que vão impactar negativamente a renda das pessoas mais pobres. As mudanças propostas não têm potencial para desagradar somente quem ganha mais, mas também as pessoas de menor renda e em situação de vulnerabilidade social. Após a análise dos dados, a conclusão do Truco é pela classificação da fala do presidente como falsa.
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currículo do mal
Além de machista, golpista, usurpador e suspeito de corrupção, agora é também acusado de ser mentiroso. Que currículo tem esse sujeito.
O Presidente usou um índice
O Presidente usou um índice não para afirmar, mas sim para projetar numa outra situação. Em situações em que não temos parâmetros para projetar um índice, utilizamos algum assemelhado. Coisa básica em estatística.
Leitura dinâmica.
O Presidente…
Parei aí.
Ótimo. Leu o mais importante,
Ótimo. Leu o mais importante, o que interessa.
Afirmar
Ele não projetou, ele ATESTOU, ASSEVEROU, com base em um dado inadequado.
Temer, o treme,
agora pulou de estadista para estatístico.
Isto na visão de quem o defende.
Esses caras não têm “moral”
Esses caras não têm “moral” para falar nada. Assim como nenhum dos amigos atuais ou antigos.
Temer se aposentou com 55 anos e ganha mais de R$ 30 mil.
A fala do usurpador lembra a de FHC, para quem o aposentado antes dos 50 é “vagabundo”. FHC foi aposentado aos 37.
O presidente Fernando Henrique Cardoso chamou ontem de “vagabundos” os que se aposentam no Brasil com menos de 50 anos. “Fiz a reforma da Previdência para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis”, disse.
Em 1998, FHC, aos 66 anos, recebia aposentadoria desde os 37, após ter trabalhado [APENAS] durante 12 anos como professor na USP. Em 1998, a aposentadoria era de R$ 5.450.
Hoje, conforme o Banco Central e segundo a variação do INPC (índice oficial usado pelo INSS), o caraminguá mensal do FHC é de R$ 18.526,49.
Elucidativa
Bastante elucidativa a matéria.Parabéns! E a conclusão inequívoca dessa reforma (desmonte) é a de uma verdadeira tragégia para todos, inclusive para as camadas mais pobres. E isso a toque de caixa, sem debate, sem transparência, e imposta por um governo golpista. Até quando iremos aceitar essa violência?