Norbert Hirschhorn, o médico que criou o soro caseiro

Enviado por Braga-BH

Da BBC

Conheça médico que salvou 50 milhões de pessoas com receita caseira

Norbert Hirschhorn teve papel-chave na definição de medidas do soro caseiro, ‘avanço médico mais importante’ do século 20

 BBC

Norbert Hirschhorn criou a mistura de de açúcar, sal e água; o barato e eficaz soro caseiro

A fórmula, hoje, é mundialmente conhecida: uma solução simples de açúcar, sal e água. Uma mistura que pode ter salvado até 50 milhões de pessoas.

Encontrar um equilíbrio entre esses elementos foi o feito essencial dela, e o médico Norbert Hirschhorn teve um papel-chave na descoberta das medidas certas na preparação do soro caseiro.

Um caso emblemático: depois de dois dias sofrendo diarreia, um bebê egípcio de três meses não tinha forças nem para levantar a cabeça e mamar no peito da mãe. Médicos temiam pelo pior: adiarreia grave é uma das principais causas de morte em países em desenvolvimento.

Com um tratamento simples, pouco mais de quatro horas depois ele estava bem o suficiente para retomar a amamentação – tudo graças a uma solução barata de açúcar e sal.

Hirschhorn descreve a transformação causada pela terapia de reidratação oral como incrível. “Você entra em uma sala e a criança ou o adulto está perto da morte. Eles têm olhos fundos, respiram acelerado, a pele e as unhas estão azuladas”, conta.

Ver alguém se recuperar é “como ver Lázaro voltar dos mortos – um milagre”, diz ele.

Medida certa

 AFP
Irmãos atingidos por diarreia e desidratação no Sudão, em foto de 2004: segundo a OMS, a diarreia mata cerca de 760 mil crianças por ano

Hirschhorn se envolveu em pesquisas sobre terapia de reidratação oral em 1964. Ele prestava serviço militar nos Estados Unidos no serviço público de saúde e foi enviado para o que é hoje Bangladesh, que padecia de uma grave epidemia de cólera.

A cólera causa diarreia grave e pacientes rapidamente perdem muita água e sais. Os infectados ficam extremamente desidratados e podem entrar em choque e morrer em poucas horas. Na região, até 40% dos moradores que não tratavam cólera estavam morrendo.

À época, o tratamento de reidratação era administrado por via intravenosa no hospital. Era caro, e muitas vezes, inalcançável para os que mais precisavam dele. O objetivo era encontrar uma maneira de dar o tratamento por via oral e assim ajudar muito mais gente.

Outros haviam tentado no passado encontrar o equilíbrio certo de açúcar, sais e água para um tratamento oral. Hirschhorn trabalhava com o capitão Robert Phillips, que havia tentado ele próprio, sem sucesso, sua própria mistura anos antes. Vários pacientes morreram durante os testes.

Phillips estava muito receoso em deixar Hirschhorn realizar sua própria pesquisa. “Ele já havia tentado a solução quando estava na Marinha em Taiwan e nas Filipinas, mas não acertou na medida, que era muito concentrada, e piorou as coisas”, disse Hirschhorn.

O trabalho de Hirschhorn se baseou nos estudos de Phillips e de outro colega, David Sachar. Sachar havia mostrado que o corpo poderia transportar sódio assim que glicose fosse adicionada – algo fundamental no combate à desidratação.

Mas a medida correta era fundamental: a quantidade maior ou menor de qualquer um dos ingredientes poderia fazer com que a solução não apenas não funcionasse, mas causasse danos mais graves.

“As proporções são cruciais. Para obter a absorção ideal de água, você precisa da mesma quantidade de glicose e sódio”, disse Hirschhorn.

Foi um estudo pequeno, de apenas oito pacientes, no qual a terapia de reidratação foi aplicada usando uma sonda nasogástrica, que provou que a combinação funcionava.

No hospital e em casa

Hirschhorn disse que havia descrença de que uma mistura tão simples pudesse ser tão eficaz. “Sua simplicidade era sua própria inimiga. Levou muito tempo, muito tempo para convencer os pediatras de que fosse segura.”

A publicação científica Lancet descreveu a terapia de reidratação oral como “potencialmente o avanço médico mais importante” do século 20.

O Unicef, fundo da ONU para infância, disse que nenhuma outra inovação médica do século “teve o potencial de evitar tantas mortes em um curto período de tempo e custo tão pequeno”.

Agora, a eficácia é mundialmente conhecida e usada por médicos em clínicas e em casas por pais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que a diarreia é a segunda principal causa de morte de crianças menores de cinco anos, responsável pela morte de cerca de 760 mil crianças por ano.

E qual é a sensação de saber que seus esforços ajudaram a salvar mais de 50 milhões de pessoas? 

Hirschhorn conta a história de uma viagem ao Egito, muitos anos depois de seu trabalho clínico. Durante uma conversa com um taxista, descobriu que o filho dele havia sido salvo por reidratação oral quando criança. O garoto cresceu para virar um jovem estudante, realizando seus próprios estudos científicos nos EUA.

“Essa troca”, diz Hirschhorn, ainda visivelmente emocionado, “teve um impacto grande em mim, tanto quanto todas as estatísticas juntas”.

Redação

4 Comentários

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  1. Olha o complexo  de

    Olha o complexo  de “vira-latas”,ai!

    Soro  caseiro  foi criado no Brasil,pelo pediatra Rinaldo Delamare, em Madureira,na zona  norte do Rio de Janeiro ,em 1932,onde  a incidência   de  diarreia  era endêmica com elevado  óbito de  crianças. Aplicou e  ensinou legiões de mães essa elementar técnica. Sua fama  rapidamente  espalhou-se pela cidade,então ,capital do país. Posteriormente editou e reeditou seu famoso “best seller”,a Vida do Bebe, que vendeu  mais de   5milhões de exemplares ,ao longo de sessenta anos.

    Segundo seu depoimento,em entrevistas ,salvou mais de  80% dos  paciente com desidratação ,o soro  composto  de  água,sal e açúcar era desconhecido no Brasil daquela época..Esse procedimento tão simples  trouxe-lhe o reconhecimento popular e oficial. Viveu até os noventa e dois anos,embora  enfermidade cardíaca  o fizesse   suspender sua atividades  aos  75 anos. 

    1. Essa receita caseira do soro

      Essa receita caseira do soro ficou esquecida por anos e foi resgatada pela pastoral da criança, onde a doutora Zilda Arns foi sua maior expoente.  Ainda lembro das campanhas da indústria farmacêutica para desacreditar o soro caseiro chamando-o de engodo, e que iria através de folclore e ignorância matar as crianças.  Soro bom, diziam, é o soro comprado em farmácias.  Foi através da intensificação do uso do soro caseiro que a industria praticamente deixou de produzir o soro industrializado.  A mesma campanha difamatória se dá atualmente com os remédios homeopáticos, difamando-os e desacreditando-os para que as pessoas não façam uso dos mesmos, e por conseqüência não obtenham curas. 

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