CEPAL divulga números sobre a participação dos salários no PIB latino-americano

Participação salarial sobre o PIB, 1950-2010 (Em porcentagens do Produto Interno Bruto – PIB)

A edição de agosto da Revista da Cepal traz um esclarecedor estudo sobre a participação salarial no Produto Interno Bruto de 15 países latino-americanos, entre eles Brasil, Argentina e México, as maiores economias da região (*). A pesquisa publicada pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) foi realizada pelo economista peruano Germán Alarco Tosoni e oferece uma visão abrangente sobre o poder de incidência dos salários na riqueza regional, durante o intervalo de tempo de 1950 a 2011. A participação dos salários no PIB, diga-se, reflete um importante indicador de distribuição da renda. Em que pese a expressiva heterogeneidade da região – marcada por complexas e diversificadas realidades sociais, políticas, culturais e econômicas entre os países – algumas informações são bastante esclarecedoras a respeito dos percursos social e econômico da América Latina, nas últimas décadas, em especial do Brasil. Abaixo destaco e interpreto alguns dados que chamam a atenção:

  • Entre os anos de 1950 a 1970 são registrados os maiores porcentuais de participação dos salários sobre o PIB regional. Talvez não seja casual que, por um lado, consista no período de fortes mobilizações das organizações sindicais e populares. Por outro, diferentes governos de orientação popular-democrática e com viés economicamente intervencionista ascenderam na região.
  • Após a crise da dívida externa na década de 1980 e a emergência de governos orientados pelo privatismo neoliberal, entre os anos 1980-90, a região conviveu com intensa retração dos salários.
  • Quanto ao Brasil, ao mesmo tempo em que demonstra relativa estabilidade na participação dos salários sobre o PIB, os números mais altos apresentam-se durante a virada dos anos 1950-60, com destaque para 1957, em que a fatia salarial sobre o PIB alcançou 48,27%. Não gratuitamente, um intervalo de tempo marcado por maior intervenção dos trabalhadores na cena pública, que se esgotou no golpe de 1964.
  • Brasil e Argentina, em relativa sintonia, apresentam expressivo refluxo da participação dos salários em dois intervalos de tempo:

a) durante as suas ditaduras civis-militares. Em nosso país, principalmente no final dos anos 1960 e no curso da década de 1970. Na Argentina, na segunda metade dos anos 1970 e primeira da década seguinte;

b) sob a onda do neoliberalismo, na década de 1990 e no início dos anos 2000.

  • A partir de meados da década de 2000, provavelmente associada à ascensão de governos que guarda(va)m maior interlocução com os trabalhadores (o neoperonismo dos Kirschner e o PT de Lula), a participação salarial sobre a riqueza bruta tendeu a crescer. Configurando, pois, um indicador positivo de redução das disparidades sociais. O México, por sua vez, envolvido há anos em acordos de livre comércio com os EUA e o Canadá (ALCA) e sob o influxo neoliberal mais intenso em seus governos, desde os anos 1980 demonstra números continuamente decrescentes para os salários.

 

(*) Os países submetidos ao estudo são: Brasil, México, Argentina, Uruguai, Honduras, Equador, Venezuela, Costa Rica, Bolívia, El Salvador, Colômbia, Chile, Panamá, Paraguai e Peru. O estudo encontra-se disponível em: http://www.cepal.org/publicaciones/xml/5/53445/RVE113Alarco.pdf

Roberto Bitencourt da Silva
Dr. em História (UFF), prof. da Faeterj-Rio/Faetec e SME-Rio.

Redação

6 Comentários

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  1. Taí dados para uma discussão

    Taí dados para uma discussão econômica séria, garanto que não veremos Aliança, Motta e afins dando seus palpites. A discussão de alto nível desse pessoal é esguelar contra o “bolivarianismo” e outras bobagens irrelevantes, como a “ameaça bolchevique” alardeada pelo Giannette da Fonseca.

  2. O capitalismo financeiro

    O capitalismo financeiro chegou a um ponto de ‘sufocamento’, penso…

    Não é mais possível continuar oprimindo a natureza e a sociedade de forma tão pusilânime. Não somos mais homens das cavernas que precisam caçar o seu alimento, precisamos comprá-lo, logo, TODOS precisamos de TRABALHO honesto e digno, ou seja, PRODUÇÃO e não ESPECULAÇÃO. Não é admissível, condenar multidões à morte em nome dos sacrossantos lucros de meia dúzia de multibilionários e seus rentistas torpes e inimputáveis, posando de ‘grandes demais para quebrar’.

    Quem são eles diante da HUMANIDADE !?!

    A HUMANIDADE é que é grande demais para quebrar.

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO – O que passa SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um  braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  3. isso comprova a importancia

    isso comprova a importancia de governos progressitas na america latina e o destronamento do neoliberalismo que como as ditaduras cointraíram os salários

    (aliás, muito curiosa essa ligação ditadura-neoliberalismo que são ou foram conrtra os trabalhadores,  seri uma mera coincidencia?

     espero que os mais entendidos possam explicar e mpliar a discussão)..

    milton friedman, o neoliberal-mor, apoiou pinochet, que usou seus programas e ideias.

    não é pouco, não, pra confirmar que ambos – ditadura e neoliberalismo – se entendem (des)harmoniosamente.

  4. É preciso sopesar a participação do capital e tecnologia.

    A partir do “mapa da distribuição total” da renda, entre as contribuições dos fatores de produção, construímos as participações proporcionais entre fatores de insumos. O objetivo é chegar a perceber qual a associação que existe entre os fatores de insumos e entre estes e a taxa de variação do crescimento econômico.

     

    DECÊNIO/3

    PARTICIPAÇÃO INSUMO DE FATORES

     

    TAXA VARIAÇÃO

    PRODUTIVIDADE

    TAXA DE VARIAÇÃO

    ANO

    DE

    ref.

    TRABALHO

    (N)

     

    CAPITAL

    (K)

    População Econômica Ativa “n”

    Estoques de Capital

    “k”

    Tecnologia “A”

    Crescimento Econômico “y”

    1987

    0,533

    0,467

    1,9

    4,32

    0,58

    3,61

    1997

    0,489

    0,512

    1,8

    4,30

    0,22

    3,30

    2007

    0,439

    0,561

    1,4

    4,21

    2,71

    5,69

    Mapa decenal de distribuição da Produtividade Total (distribuição total dos fatores) – Elaboração Nunes, N.B.

    Fonte: 1987, 1997: N e K, I P E A (2008); 2007: N e K projeção.

    1987, 1997 e 2007: “A”, obtida pelo método residual; “y”: IBGE.

     

    Para evidenciar a participação proporcional entre os fatores, iniciamos por calcular a participação do fator trabalho (N), multiplicada pela taxa de variação (n), sobre a participação do insumo de fator capital (K), multiplicada pela taxa de variação do estoque de capital (k), para cada um dos anos de referências do “mapa de distribuição total”. O resultado desta associação, (N/K), é evidenciado na coluna 01 da tabela (Tab.3.1) abaixo; As demais associações: (K/N), (N/y), (K/y), A/y, N/(y-A), K/(y-A), A/(y-A) e y/A, também são demonstradas na tabela:

     

    Tab.3.1

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    ANO

    (N/K)

    (K/N)

    N/y

    K/y

    A/y

    N/(y-A)

    K/(y-A)

    A/(Y-A)

    y/A

    1987

    0,502

    1,992

    0,281

    0,559

    0,161

    0,334

    0,665

    0,191

    6,3

    1997

    0,401

    2,501

    0,267

    0,667

    0,066

    0,274

    0,717

    0,072

    15,8

    2007

    0,260

    3,841

    0,109

    0,415

    0,476

    0,206

    0,792

    0,194

    2.1

    Tab.3.1 Experimento heterodoxo dos resultados da atividade econômica (1987-2007) – participações proporcionais entre os fatores de produção e a taxa de crescimento econômico. Elaboração Nunes, N.B.

    Fonte(s): a)Bibliográficas:“Brasil – Presidência da República: 5 anos do Real” – “Estabilidade e Desenvolvimento”. julho 1999:17; _____ “6 anos do Real”. julho 2000. Apud Boletim Conjuntural. IPEA; CYSNE, R.P.O., “Plano cruzado frente às re-estimativas do déficit operacional entre 1984 e 1987”. Anais da ANPEC.; PAULANI, L., “A Nova Contabilidade Social”. SP. Saraiva. 2001.; OLIVEIRA, J deC., “Tendências…”. b) Digital: “O Globo Digital”.19/03/2009. C)Telejornais: março de 2008, apud, IPEA.

     

    Percebe-se que os rendimentos percentuais do “fator trabalho” vêm perdendo margem para os rendimentos percentuais do “fator capital”. Em 1987, o fator de trabalho agregava retornos da ordem de 53,3%, enquanto o fator de capital 46,7%, sobre a renda. Em 1997, o fator trabalho representava 48,9% e o fator capital já era de 51,2%. Projeções para 2007 mostram que 43,9% e, respectivamente, 56,1%, são as repartições dos rendimentos entre trabalho e capital.

  5. LINK de comentário e resposta

    Caro propietário do

    Luis Nassif Online Posts recentes“, postei comentário e visualizei a publicação; qual foi minha surpresa ao ver o que afinal foi editado no comentário de 23/08/2014. Torno a enviar as duas tabelas desvirtuadas acima, na expectativa de correção. Atenciosamente,

     

    Tab.3.1

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    ANO

    (N/K)

    (K/N)

    N/y

    K/y

    A/y

    N/(y-A)

    K/(y-A)

    A/(Y-A)

    y/A

    1987

    0,502

    1,992

    0,281

    0,559

    0,161

    0,334

    0,665

    0,191

    6,3

    1997

    0,401

    2,501

    0,267

    0,667

    0,066

    0,274

    0,717

    0,072

    15,8

    2007

    0,260

    3,841

    0,109

    0,415

    0,476

    0,206

    0,792

    0,194

    2.1

    Tab.3.1 Experimento heterodoxo dos resultados da atividade econômica (1987-2007) – participações proporcionais entre os fatores de produção e a taxa de crescimento econômico. Elaboração Nunes, N.B.

    Fonte(s): a)Bibliográficas:“Brasil – Presidência da República: 5 anos do Real” – “Estabilidade e Desenvolvimento”. julho 1999:17; _____  “6 anos do Real”. julho 2000. Apud Boletim Conjuntural. IPEA; CYSNE, R.P.O., “Plano cruzado frente às re-estimativas do déficit operacional entre 1984 e 1987”. Anais da ANPEC.; PAULANI, L., “A Nova Contabilidade Social”. SP. Saraiva. 2001.; OLIVEIRA, J deC., “Tendências…”. b) Digital: “O Globo Digital”.19/03/2009. C)Telejornais: março de 2008, apud, IPEA

     

     

    ANO

    PRODUTIVIDADE

    TOTAL     (1)

    (2)     TAXA DE CRESCIMENTO

    PT/y

    (1) / (2)

    PT/(K,N)

    (1)/[(2) – (1)]

    ΔY/PT

    (2) / (1)

    1987

    0,58

    3,61

    0,161

    0,330

    6,22

    1997

    0,22

    3,30

    0,067

    0,325

    15,00

    2007

    2,71

    5,69

    0,476

    0,335

    2,09

    Quadro 4.1: Comparativo da produtividade total, 2007 (1987,1997)

     

    A melhor explicação pragmática está nos dados de nossa participação no comércio mundial de bens e commodicies, entre 2000 e 2010, visualizada na Tab.4.1:

    BRASIL – COMÉRCIO MUNDIAL

    2000

    2010

    Variação

    Participação no comércio de commodicies

    1,26%

    4,66%

    370%

    Participação no comércio de bens

    0,88%

    2,77%

    315%

    Tab.4.1 – Brasil, participação no comercio mundial de bens e commodicies, 2000-2010

    FONTE: http://www.G1.com.br

    Um forte abraço ao professor e  mestre Nassif.

     

     

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