
Fim da jornada 6×1: Karl Marx sem naftalina
por Letícia Sallorenzo
Ceistudo aí num barata voa tentando descobrir a origem do “fim do 6×1”, e eu tô só urubusservando os trem tudo.
1- o tema já vinha em balão de ensaio aqui e acolá. De repente, explodiu. Só esse item já indica que é uma movimentação tateante, o que a difere de qualquer estrutura de propaganda (e por propaganda, leiam “estratégia militar”, pfvr)
2- o trem explodiu (n)o governo, oposição, mídia, redes sociais e o escambau. A oposição tá rebolando prum lado, o governo tá rebolando pro outro, a imprensa tá girando feito pião e todo mundo tá tonto com as redes sociais. Tá lindo de ver a movimentação.
3- a estruturação discursiva desse movimento tá quase me jogando de joelhos e erguendo as mãos aos céus.
Pela primeira vez no Brasil, um discurso de esquerda não cheira a naftalina. Finalmente botaram o bom e velho Carlos Marques (karl marx, mas fala com sotaque bem caipira o carlos marques, pfvr?) de bermuda, camiseta e chinelão.
Toda a argumentação capital x trabalho foi TRADUZIDA PRA UMA ESTRUTURA QUE QUALQUER PESSOA ENTENDE E CONCORDA. A IDEOLOGIA ESTÁ DISFARÇADA DE VALORES!!!!
4- que valores são esses?
a) desfrutar a família- aquele troço amorfo, surrado e desbotado pelo discurso religioso, que ganhou um propósito: se a Família está forte, firme e unida, seus membros tem q conviver entre si
b) descansar, curtir o lazer
c) VIVER A VIDA, PORRA!!!!
5- São valores comuns a qualquer indivíduo, seja ele das classes mais pobres ou mais ricas. TODO MUNDO ENTENDE E CONCORDA COM ESSES VALORES. GENTE EXISTE PRA VIVER, PORRA!!! É BEM ESTAR, É O BÁSICO DO BÁSICO DO BÁSICO!!!!!
6- por esse discurso, os indivíduos deixam de ser socialmente percebidos como classe trabalhadora, e passam a ser percebidos / descritos como membros de uma família. E lá se foi o mofo de uma estruturação argumentativa que, por mais real e atual que seja, não funciona.
7- qual o efeito disso?
As pessoas foram instadas a pensar a vida e a sociedade por um viés diferente, fresco, inédito. E SE IDENTIFICARAM NAQUELE DISCURSOOOOOOOO. “Meus pais se matam de trabalhar, eu pouco vejo eles; é terrível, você não tem tempo pra viver, só pra fazer os outros ganharem dinheiro às nossas custas
(Observe esse último argumento: sai “patrão”, entra “outros”, e tá valendo, é o sujeito “outgroup”)
8- o assunto virou “the talk of the town”. Observe: SEM DEBATE. É PRATICAMENTE UNANIMIDADE. Tem muito raciocínio, muita ponderação, muita reflexão, MAS TAMBÉM TEM SENSAÇÃO, SENTIMENTO.
9- cerejinha do bolo: tudo comandado por uma travesti negra. Erika Hilton, talvez a única pessoa que conseguiu entender como efetuar o contradiscurso de combate. E lá se vai por terra o discurso das “minorias identitárias”.
(PS.: me disseram lá atrás q Erika não é travesti, é mulher trans. Seja o q for, ela é RAINHA DA PORRA TODA!)
Por favor, marquem essa mulher maravilhosa aqui, e digam a ela q eu quero tomar um cafezinho com ela?
Letícia Sallorenzo é Mestra (2018) e doutoranda (2024) em Linguística pela Universidade de Brasília. Estuda e analisa processos cognitivos e discursivos de manipulação, o que inclui processos de disseminação de fake news.
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Uau, até que enfim…que texto!!!!!
É isso! Luta de classes, mas com “classe”.
Não doeu nada, né?
De quebra, caíram os modorrentos arautos da “governabilidade”, esse coisa que é tão broxante e faz tão mal que deveria ser proibida.
Mas não se animem muito, o moço do calabouço fiscal, o Paulo Guedes do Lula, vai sacar logo outro corte de direitos sociais para justificar o “aumento inflacionário” resultante da valorização da força de trabalho frente ao capital, e o aumento da renda desse povo, com a diminuição do exército de reserva.
O ministro do trabalho, vejam só, já tascou de lá: PEC? que PEC, tem que ser na convenção de trabalho das categorias, ou seja, no acordo caracu!!!!
Alguém sepulte esse governo Lula por favor, o cheiro está insuportável!!!!
Entao, meu anjo. Se voces da esquerda estudada fossem sabidos, fariam políticas pra todo mundo e ninguém falaria de identitarismo.
“Eu estava procurando emprego e então encontrei um emprego
I was looking for a job, and then I found a job
E Deus sabe que estou infeliz agora
And heaven knows I’m miserable now
Na minha vida
In my life
Por que dou um tempo valioso
Why do I give valuable time
Para pessoas que não se importam se eu vivo ou morro?
To people who don’t care if I live or die?”
The Smiths, Heaven know I’m miserable now
Uma das autoras mais originais deste site, seus textos escritos numa linguagem coloquial, atraente e originalíssima.
Santa Erika Hilton a colocar em pauta nacional um assunto que há muito deveria estar prioritariamente na agenda e ação da verdadeira esquerda política, interessada em mudanças fundamentais na iniquidade social brasileira.
Aqueles parlamentares que não aderirem e assinarem seu apoio a esta PEC, com certeza foram cooptados/financiados em suas campanhas políticas pelo “pessoal do dinheiro grosso”.
Resposta a estes será nas próximas eleições, em 2026.
Post Sciptum:
1 – Letícia, não esqueça o pós-doutorado.
2 – Erika Hilton, seja o q for, é antes de tudo filha de Deus e, só por isso, merece total respeito de todos aqueles que tb se consideram filhos/filhas de Deus.
Quando Carlos Marques descobriu que algo chamado mais-valia (em português: exploração, até o talo, da capacidade de trabalho de um ser humano – em grandes quantidades -, até a exaustão, por outro ser humano -este, em quantidades ínfimas -, e cujo único esforço físico comprovado é abrir as bochechas da bunda para expelir gases – com o perdão da vulgaridade, mas, para definir o capitalista eu queria ter o talento de um Pasolini), era o que dava vida e colocava em movimento essa desgraça chamada Capitalismo, o trabalho do homem – e, por conseguinte, o próprio homem – ainda era necessário. Já não recordo com exatidão, mas há um extenso trecho de “O Capital” em que se descreve as condições de trabalho na Inglaterra, no século XIX, e que deveria ser leitura obrigatória nas escolas públicas desse país.
Mas, a pergunta é: o ser humano, e sua capacidade de trabalho, ainda é tão necessário para gerar essa mais-valia? A escala 6×1 é, certamente, pornográfica; a não-escala (ou seja, trabalha-se até desmaiar) dos tempos de Carlos Marques mereceria, novamente, um Pasolini para descrevê-la com justiça total, poética inclusive.
E a pergunta se desdobra: ora, se insuspeitos setores de nossa brilhante sociedade civil resolveram se pronunciar favoravelmente à, digamos, aceitação do simplório conceito de que um ser humano tem tanto direito ao lazer quanto qualquer outro ser humano que não necessite vender sua força de trabalho (e aí minha mente tacanha se atrapalha, pois somente consigo enquadrar nessa segunda categoria os capitalistas e os parasitas – e não consigo diferenciar um do outro), será porque finalmente perceberam que todos são filhos de Deus, ou porque chegaram à conclusão de não é mais preciso explorar, pelo menos em uma escala considerável, essa capacidade de trabalho?
E a pergunta se tresdobra: ora, não será vem aí uma redução, ainda que disfarçada, da massa salarial? Se é do salário que se extrai o ganho do Capital nas relações de trabalho, como poderia ser diferente?
O segundo ser humano descrito entre os primeiros parênteses desse malfadado comentário dirá: ‘Ora, meu filho, você trabalhará menos, mas vai ganhar a mesma coisa! Não se preocupe!”
Já acreditamos (lá eles) em tantas coisas. Por que não acreditar em mais essa?
Obs: – Família? Não é aquilo que Jesus desconsiderou, como instrumento para o seu Ministério? E que foi adotada ela Igreja como Pedra Fundamental desse mesmo Ministério, agora institucionalizado? Qualquer semelhança com o funcionamento do Capitalismo – pequenas unidades empresariais sendo absorvidas por gigantes monopolistas – é meramente proposital. De passagem.
Se a massa salarial for reduzida mais do que já e, a tendência é os produtos vencerem nas prateleiras dos supermercados.
“Mas, a pergunta é: o ser humano, e sua capacidade de trabalho, ainda é tão necessário para gerar essa mais-valia?” – Antonio Uchoa Neto
Antonio Uchoa, porque você acha que o Trump, caso consiga, vai ter grande dificuldade para repatriar as corporações norte-americanas sediadas na China?
Porque a mão-de-obra chinesa é muito mais barata do que a mão-de-obra norte-americana, o que turbina os lucros das corporações norte-americanas. Você não acha?
Se o ser humano e sua capacidade de trabalho não fossem mais necessários para a geração de mais-valia, porque as corporações dos EUA, um dos países mais avançados tecnologicamente, teriam migrado para a China?
Máquinas não produzem mais-valia. Elas se desgastam na mesma proporção em que “produzem”. Com os seres humanos também é assim, só que os seres humanos produzem mais do que consomem. Então…
Prezado Rui,
Quando fiz a pergunta que você mencionou, eu pensava numa sociedade capitalista, onde a exploração da mão-de-obra tem esse nome, ou seja, exploração de mão-de-obra. Não tenho a ilusão de que na China, apesar de nominalmente comunista, as coisas sejam muito diferentes; a diferença – a enorme diferença – tem que ser buscada em outros aspectos da sociedade chinesa, onde, creio eu, há (ainda) educação e saúde gratuitas, etc.,etc.,etc.
Você diz: “se a massa salarial for reduzida mais do que já e, a tendência é os produtos vencerem nas prateleiras dos supermercados.”
E ainda tem isso: https://jornalggn.com.br/coluna-economica/a-dura-missao-de-trump-na-guerra-com-a-china-por-luis-nassif/
Mas o meu ponto é: qualquer que seja o enfoque, o trabalho humano está sob estado de sítio. Se Trump taxar, como parece pretender, as exportações chinesas, o desastre se abaterá sobre os EUA, sobre os lucros das corporações e/ou sobre os consumidores. Se permitir que as empresas americanas sigam produzindo lá fora, com mão-de-obra barata, o desastre se abaterá sobre o trabalhador americano, seguindo-se daí todos os efeitos-dominó possíveis e imagináveis. O peso da responsabilidade cairá, em qualquer caso, sobre o governo – o Estado americano. E as corporações? O que se abaterá sobre elas?
Um antigo ditado dizia: ‘enquanto a receita cobre a despesa, tudo está bem.’ Mas, hoje, a receita operacional das empresas está, rapidamente, se tornando uma fonte secundária, diante da revolução (não há outra forma de caracterizá-la) da Receita Financeira. Esta é a grande inimiga do trabalho humano, socialmente realizado, pois não depende, ao menos tão umbilicalmente, da mais-valia que o trabalho proporciona. Os produtos vencerão nas prateleiras dos supermercados; as receitas financeiras das grandes corporações pouco sofrerão com isso: suas prateleiras são – e no futuro serão totalmente – virtuais. Se você estiver em minha faixa etária (tenho 61 anos), deve ter jogado futebol de botão, se não com seu avô, ao menos com seus amigos (você ouve The Smiths, deve ter ouvido a Legião, também). Se for mais jovem, sequer deve saber do que se trata. Ora, todos os jogos do mundo estão, hoje, no seu celular. Os itens de consumo, exceção feita a alimentos e alguns poucos produtos de uso pessoal, serão todos virtuais, ou estarão encapsulados em alguma buginganga eletrônica, como vemos em alguns filmes antigos que tinham esse vezo de imaginar o futuro. E serão cada vez mais caros, pois seus consumidores serão, cada vez mais, em menor número. O consumidor que depende de vender sua força de trabalho? Esqueça. Esse não terá nem o mínimo para se manter vivo. A imaginação capitalista, uma vez posta em movimento, supera em muito tudo isso, e deixa no chinelo os mais criativos e inventivos escritores, cineastas, roteiristas, etc. Meus amados e sempre revistos “2001: A Space Odyssey”, e “Blade Runner” (o de 1982) estão cheios de furos, no que diz respeito à evolução tecnológica.
A mais-valia seguirá existindo, e será sempre buscada pelos capitalistas. Não será, como hoje, furto dos braços e da força e resistência física dos trabalhadores, mas fruto do cérebro de uns poucos privilegiados. Mas será, em breve, como o rádio: uma relíquia do passado. Como na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, terá outra forma ou utilidade, no futuro. Para isso podemos, sempre, contar com a criatividade do ser humano. Principalmente, se diz respeito a novas formas de explorar o seu semelhante.
Um grande abraço, e muito obrigado pela atenção ao meu comentário. Sinto falta disso, aqui no GGN.
Bom texto , uns caras aqui neste site escrevem não para um site e sim para tese acadêmicas.
Mais fã da senhora.
A informação descentralizada fez essa narrativa fraca da Esquerda morrer.
Aí vem aquele papo mofado de vocês: “Desinformação, fake news”. Informação se combate com mais informação. O verdadeiro debate são idéias contrárias. Vocês da ESQUERDA querem a hegemonia de idéias. Agora com a informação descentralizada isso morreu.
Não adiantará censurar as redes sociais.
Como é o ambiente do TSE? O café lá é bom?
“Nada fica oculto para sempre”.
E para completar: Quem trouxe o caos foram os próprios iluministros com frases do tipo:
“Perdeu mané”, “Nós derrotamos o bolsonarismo”.
A cada ação existe uma reação.
A violência é lamentável. Mas opressão também.
“Escolhemos o que plantar, mas não o colher”.
A DIREITA MUNDIAL está vencendo.
Está divertido ver essa ideologia nefasta a cada dia morrendo.