Temos publicado artigos sobre o acordo do submarino nuclear com a França, a partir de dois pontos de vista: de quem participou do lado privado e de quem participou do lado público.
Vamos a mais elementos de quem participou do lado privado.
Em fins de 2004, a Marinha decidiu desenvolver um submarino de porte avantajado, em torno de 6 metros de altura. Ainda não se cogitava no submarino movido a energia nuclear. A DGMM (Direção Geral de Material Militar da Marinha do Brasil) abriu consultas para a construção de um a dois submarinos, de propulsão convencional, a serem construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.
Naquela época, já havia dois setores opostos na Marinha, um favorável ao desenvolvimento de um submarino nuclear e outro contrário. Mas um grupo de oficiais da Marinha, já na reserva, se mobilizou para incluir na disputa o submarino nuclear, bandeira que que vinha da época de Almirante Álvaro Alberto.
Assim, mesmo que o certame fosse para submarinos convencionais, julgava-se que se deveria aproveitar a oportunidade para obter tecnologia de concepção de um casco maior para um futuro submarino nuclear.
Estavam à frente da idéia o Comandante (da reserva) Carlos Braga e o Almirante (também da reserva) Edgar Hargreaves.
Foi contatado, então, o Presidente da Odebrecht S.A., Pedro Novis, convidado a participar de um consórcio da empresa ARMARIS, que tinha como acionistas a DCN (então autarquia estatal francesa) e a THALES, novo nome então da Thomson CSF, com controle estatal francês.
A DCNS ainda não existia, mas sua criação já vinha sendo cogitada pelo Governo francês.
A proposta foi encaminhada por Novis como Presidente da holding Odebrecht S.A. para a Construtora Norberto Odebrecht, então dirigida por Marcelo Odebrecht, e prontamente recusada, pois a Construtora achava que o DGMM já se decidira em princípio pela continuidade da experiência com a HDW alemã iniciada em 1983. No que estava certo.
Quando se soube em 2006 que o programa envolveria não um ou dois submarinos convencionais mas sim quatro unidades, voltou-se na França de cogitar uma cooperação com o Brasil para o desenvolvimento do casco de um submarino nuclear pelo lado brasileiro, sem participação francesa no que tange ao reator. Essa ideia, defendida internamente na França pela Marinha Francesa, a DGA, e industriais francesas, tinha ampla oposição na equipe do Primeiro Ministro e na Secretaria Geral de Defesa Nacional por temor de proliferação nuclear e uma constante campanha contra a ideia por parte de interesses anglo-americanos.
As forças na França favoráveis à cooperação com o Brasil se viram reforçadas em 2007 pela nomeação do Almirante Edouard Guillaud como Chefe do Estado-Maior Particular da Presidência da República no Governo Sarkozi e pela presença de Alain Juillet como Chefe da Secretaria de Inteligência Económica da Presidência.
Quando se desencadou a ideia da cooperação, houve uma visita de delegação parlamentar brasileira a França (e o Almirante Guillaud, Chefe do Estado-maior Particular da Presidência da República Francesa sugeriu aos deputados que o Presidente Lula ligasse para o Presidente Sarkozi pedindo a cooperação.
A delegação brasileira era composta pelo senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), deputada Ana Isabel Mesquita de Oliveira (PMDB-PA), deputado Marcos Gadelha (PSB-PB) e deputado Carlos Zaratini (PT-SP).
Pedro Novis foi novamente procurado, e encaminhou o tema para Benedito Barbosa Junior. Conforme depoimento de Benedito Barbosa na Operação Lava Jato, a Odebrecht foi escolhioda devido a quatro vetores: era uma empresa com experiência internacional, experiência em grandes projetos de infraestrutura, tinha experiência em consórcios para implementar grandes projetos de infraestrutura no mundo não só no Brasil e tinha uma área industrial que permitiria que essa associação também assessorasse a construção dos submarinos e não só a parte física das obras.
Mas como se percebeu, do lado francês, que o projeto também exigiria aportes deles, cogitou-se a ideia de envolver empresas francesas, para terem direito a um financiamento de importações de bens e serviços, um crédito ao comprador de bens franceses exportados.
Esse debate não ocorreu entre o lado brasileiro e francês da negociação. Ele ocorreu intra muros do lado do futuro parceiro francês, com a participação dos consultores brasileiros da Thales que insistiam numa empresa brasileira, e particularmente da Odebrecht, antes da decisão da DCNS de associar-se a ela.
A DCN era uma empresa pública de 350 anos. Mas foi convertiuda na DCNS, transformada em sociedade anônima e com a entrada da Thales, uma multinacional francesa que atua em diversos setores, com foco principal em tecnologias de defesa, segurança e transporte
A DCNS não tinha, inicialmente, ideia das dimensões da Odebrecht, e achava que uma empresa francesa seria mais “confiável”. e traria como benefício um aumento do credito comprador. Já a participação daOdebrecht era defendida pelos representantes da Thales.
Por outro lado, a Marinha do Brasil, ciente da competição acirrada que existia entre as grandes construtoras brasileiras, se preocupava com seu papel na escolha do responsável pela construção civil, que estaria intimamente ligado aos procedimentos de transferência tecnológica pois as características específicas do estaleiro faziam parte do conjunto tecnológico a ser transferido.
A decisão final, no lado DCNS, ficou com o Presidente da empresa, Jean-Marie Poimbeuff, que veio ao Brasil e teve uma longa entrevista, em Brasília, com as equipes da Odebrecht, e o time negociador da Marinha, e voltou convencido de que a DCNS deveria patrocinar a parceria com a Odebrecht, e ambos assinassem o acordo com a Marinha do Brasil. Mesmo assim, por problemas formais do lado francês, o acordo consorcial só foi assinado em setembro de 2008.
Assim, ambos os consultores jurídicos na negociação, o da Marinha o Dr Sergio Soares Sobral Filho, e da DCNS o Dr Álvaro Malheiros, concordaram que o texto final do contrato fosse explícito de que a Odebrecht seria a empresa da escolha da DCNS.
Essa escolha foi uma das varias peças do constante ataque anglo americano ao PROSUB, usando como instrumento sua influência na Lava Jato. Conforme GGN mostrou, em primeira mão, em 1º de agosto de 2015.
Foi um dos atos mais indignos e antinacionais praticados pelo então Procurador Geral da República Rodrigo Janot, que desembarcou nos Estados Unidos com uma missão da Lava Jato, especialmente para levar dados estratégicos para o Departamento de Estado, e cumprir ordens do Departamento de Justiça.
A inclusão do PROSUB pela Lava Jato foi fruto dessa pressão americana.
Na época, a Marinha explicou que o Almirante Othon não foi quem decidiu o PROSUB. E o Ministério Publico militar, após um amplo inquérito, não constatou qualquer indicio de corrupção no processo. Mesmo assim, o tema de que houve corrupção no Prosub prossegue na Europa, pois a AGU (Advocacia Geral da União) de Bolsonaro mandou para a França, ao apagar das luzes do Governo anterior, todo o lixo dos esforços de Curitiba e sua “concessão” instalada no Rio de Janeiro.
E tudo isso em um governo que tinha como Ministro de Minas e Energia o Almirantge de Esquadra Bento Albuquerque, que comandara o programa nuclear brasileiro. Coube a ele, também, avalizar o ato anti-brasileiro de venda da Eletrobras. E, numa omissão indigna para a Marinha, ter permitido as humilhações a que foi submetida o Almirante Othon.
A AGU fez isso porque não existia um acordo de cooperação entre os Ministérios Públicos brasileiro e francês no campo penal, e sim apenas no campo civil.
Com a cumplicidade das hoje desmobilizadas equipes de Curitiba e da AGU bolsonarista de 2022 eles colocaram o verme de que o Prosub é fruto de ampla corrupção feita pela Odebrecht no Brasil e na França.. E assim há hoje em dia, ainda, na França, Holanda e Espanha investigações em torno de auto intoxicação feita lá e aqui (seundo fontes brasileiras, especialmente por Fausto Macedo, Malu Gaspar, Élio Gasperi, Fábio Serapião, Eurípedes Alcântara e outros). Tudo em torno dos boatos de corrupção do Almirante Othon, do Presidente Lula e do presidente francês Nicola Sarkozi.
Almirante Othon foi preso e humilhado em sua casa. Ninguém da Marinha acompanhou a operação do delegado Wallace Fernando Noble Santos, que derrubou e algemou Othon, sob silêncio total do indigno Almirante Garnier, comandante da Marinha.
De todos os participantes dessa trama, o único punido foi o delegado Wallace, acusado de cobrar propinas de investigados. O crime de lesa-pátria não consta nem do Código Penal nem nos códigos da Marinha. Por isso, todos saíram ilesos.
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Nos EUA não existe disputa entre agentes estatais que desejam submeter aquele país a uma potência externa e aqueles que defendem a soberania do país. Na Rússia, essa disputa seria resolvida à bala com prejuízo para os traidores. Na UE a submissão aos EUA é considerada tão virtuosa que o comandante da Marinha de Guerra da Alemanha perdeu o cargo por ter dito que a coexistência e parceria com a Rússia deveria ser preservada. Na base desse conflito que ocorreu no Brasil estão as fragilidades nacionais e uma certo complexo de vira-latas que remonta ao golpe de 1964. É preciso sempre lembrar aqui que durante o governo Castelo Branco os norte-americanos tinham tanto acesso às informações secretas brasileiras que isso acabou se tornando um grave problema institucional, gerando reações dentro do campo da própria extrema direita. Esses militares que se colocam a serviço do imperialismo e sabotam o desenvolvimento do país devem, portanto, ser colocados no devido lugar: fora da administração pública ou, no mínimo, fora do círculo governamental que define e executa as prioridades nacionais levando em conta a necessidade de preservar nossa soberania. O traidor não deve ostentar patriotismo. Quando fizer isso ele deve ser ridicularizado. Isso se aplica a Bolsonaro e a todos os vagabundos fardados que se organizaram em torno dele.
Eu usei durante muito tempo esta noção de complexo de vira-lata, mas cheguei a conclusão que isto é uma narrativa que de tanto ser difundida penetrou o nosso imaginário social.Nelson Rodrigues talvez seja o mais brialhante de nossos reacionários. Nossa elite sempre se diz européia e branca e sempre tratou o “resto” da população como vira-latas. Este complexo de vira-lata não é uma maneira de se identificar com o povo, mas sim uma forma de dizer que não pertence a este povo. E assim nossa elite sempre se diz européia e sempre defende que estejamos do lado, do tal ocidente. Este complexo de vira-lata não é apenas uma questao de auto-estima, é na verdade a justificativa de muitos para aderir à quinta-coluna, ou por exemplo aderir a todos os interesses estrangeiros, defender o terraplanismo economico. Como sempre eles propagam os indices da bolsa, de wall street.
Gosto muito dos artigos do Nassif, que, além de reveladores, são consistentes com sua postura investigativa. Mas tenho a reparar que, em geral, não recebem a revisão ortográfica merecida. Neste caso, pequenos problemas.
“Como se havia de restaurar o Brasil, se o capitão-demar-e-guerra fazia cruel guerra ao seu navio, vendendo os mantimentos, as munições, as enxárcias, as velas, as antenas, e se não vendeu o casco do galeão, foi porque não achou quem lho comprasse?” Já perguntava o Padre Antônio Vieira.
ESTE PAÍS AINDA EXISTIR…? É UM MILAGRE! Nem os generais de Esparta se tanto corromperam diante da corte persa.
Nassif, seria bem interessante de ter todas estas reportagens, levantamentos e xadrez destes períodos, pré-golpe, golpe e pós-golpe, consolidados com analises em um livro. Foi um período muito emblemático para a nossa política e economia, ondem linhas foram estabelecidas e reestabelecidas, é um excelente ponto de estudo.
Grande ideia. Ou considerando que tudo já foi publicado por aqui juntar os diversos textos num só conjunto e tornar disponível para baixar.
Janot, Bretas, Bento Albuquerque, Bananinha, Moro, Dallagnol e Curitibas Republic são peças importantes mas são apenas a ponta do Iceberg. O Brasil continua navegando em águas muito perigosas.
É uma podridão só, são traidores da pátria e estão vivendo tranquilamente.
.. HuE como sempre a ex presidenta nunca tem responsabilidade de nada… Que maravilhar ser PT, nunca a responsabilidade são dos presidente…
Cidadão sem Cidadania é um bom nome para você. Como vocês dizem Bolsonaro não tem responsabilidade nenhuma, sobre as jóias, sobre Queiroz, sobre rachadinhas, sobre covid, sobre os atos de 8 de janeiro ou os de dezembro ou sobre todas as negociatas de Weingarten, Guedes e Salles. Nem sobre as negociatas com o lobby das armas, ou sobre os atos da Polícia Federal. Desculpe pois aqui não tenho espaço para dizer sobre a tentativa de transferir a compra de vacinas para um conjunto de amigos. Realmente me parece que a responsabilidade é do presidente.
Quem mudou todas as leis para lava jato funcionar?
Quem falou que nao sobraria pedra sobre pedra?
Quem deixou aqui digo deixou mesmo tudo virar pó?
O presidente tem a caneta na mão, um Getúlio nacionalista chamais deixaria isso acontecer.
O problema é, nunca se assume a responsabilidade , sempre a culpa é do outro sempre.
A presidenta foi sim a responsável, é por isso que bolsonaro foi eleito, Lula sabia que nao ia ser candidato em 2018 e deixou haddad pq sabia que nao ia ser eleito, nunca fez uma meia culpa, sempre a culpa é dos outros.
Nossa única chance foi Lula ter apoiado Ciro, mas o ego nao deixou, nunca pensou no país e nao vai pensar.
Os militares fazem o que querem e nunca foram expulsos, Lula sempre deixou tudo solto, nunca teve coragem, a culpa nao é do subalterno, sempre a culpa é de quem manda, sempre, apenas em pais com homens fracos a culpa é do subalterno.
Até hoje Lula nao entendeu que a população, aqui me refiro aos periféricos, da qual faço parte, queremos mudança e nao uma esmola, Lula teve tudo na mão para reendustrilizar o país e nao o fez, mas claro a culpa foi minha e de milhões que votaram nele.
Onde está a Novidade em se tratando de Milico Pátrio ??!!
Esta série de artigos é muito importante pois mostra claramente que a quinta coluna no Brasil, tem nome e até pedigree. Um dos atos mais abjetos do período Lava-jato ( existem vários outros) foi a prisão e a condenação do Almirante Othon. E a omissão das instituições, o silêncio e esta série mostra que não foi simplesmente omissão, mas sim uma grande conspiração entreguista. Isto contrasta de forma incrível com a mobilização de vários generais e almirantes pela defesa do general Lorena pai de Cid. Isto contrasta com todas as omissões durante o periodo Lava Jato e período Bolsonaro. Tudo isto demonstra que não há corporativismo dentro das forças armadas. Eles abandonam sem pestanejar companheiros de armas. E o pior que neste caso abandonaram o país.