Xadrez do pacto ultraliberal com um Bolsonaro domesticado

Julgar que Bolsonaro pode ser eternamente domesticado é a mesma coisa que dar uma dieta vegetariana para uma hiena, e apostar que nunca mais ela voltará a gostar de carniça.

Premissas – Bolsonaro como um Forrest Gump raivoso

Alguns sinais sobre o novo pacto que se desenha.

Em função da melhoria da popularidade de Jair Bolsonaro, analistas mais apressados apressam-se a reconhecer seu gênio político, sua intuição fenomenal, seu tirocínio. Enfim, um gênio que passou oculto por quatro décadas de política.

Para deixar o Xadrez mais claro, o primeiro passo é repor os fatos: Bolsonaro é uma zebra política, que seguia um roteiro previamente desenhado e quase estragou tudo com sua falta de noção.

Esse roteiro tinha duas pernas. A primeira, a violência radical da ultradireita mundial, desenhada por Steve Bannon. A segunda, o aprofundamento interno das reformas liberais, desenhada pelo arco político montado para o impeachment de Dilma Rousseff.

Agora tenta-se retomar a segunda perna do roteiro, com as instituições monitorando Bolsonaro com choques elétricos, condicionando-o como se fosse um ratinho de Pavlov. E, aí, percebe-se um pacto tácito entre Supremo Tribunal Federal, Forças Armadas, Congresso/Rodrigo Maia e mídia em torno de um novo pacto ultraliberal, fornecendo um tubo de oxigênio para um governo moribundo.

Dadas as premissas, vamos às peças do jogo.

Peça 1 – o roteiro Steve Bannon

A ultradireita mundial criou um roteiro para os candidatos a novos ditadores.

O tema foi abundantemente explorado aqui no GGN.

As redes sociais trazem uma nova realidade política e social. Elimina os fatores de contenção social, construídos pela canalização dos anseios individuais para mídia, partidos políticos, sindicatos. Cria-se uma nova instititucionalidade caótica, em que as demandas passam a ser condicionadas por estratégias articuladas junto às redes sociais, visando explorar os caminhos da democracia, de  tomada de poder pelo voto, para posterior destruição do regime democrático,

Steve Bannon é dos primeiros profetas da nova era a perceber o potencial agregador/desagregador das redes e a capacidade de tirar do armário os sentimentos de ódio, preconceito, que habitam o coração de parte da classe média, e que eram contidos por regulações e princípios de convivência social, canalizando-os para o novo jogo político.

Não é à toa que os primeiros profetas do ódio, no Brasil, começaram sua pregação atacando o “politicamente correto”.

A estratégia Bannon teve três pernas.

A primeira, a montagem do discurso de ódio, em torno dos princípios religiosos-nacionalistas dos movimentos da América branca, do novo pentecostalismo, das reações contra os métodos de contenção dos abusos.

A segunda, os financiadores, entre grupos empresariais que atuam nos limites da legalidade, que operam como pontes entre a economia formal e a economia do crime: indústria de armas, cassinos, indústria do lixo, mineração, e outros grupos cuja expansão é contida por dispositivos sanitários, regulações, leis.

Tendo o know how da desestabilização da democracia, e os financiadores, Bannon passa a apostar em vários candidatos a ditadores e consegue avançar em dois políticos estratégicos: Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil, este já sendo parte integrante do submundo político-econômico, com suas ligações com as milícias.

Trump habita um universo de empresários interessados em explorar mineração em terra indígenas de países atrasados, como o Brasil; de empreiteiras fomentadoras de guerra, do jogo em resorts, de atividades que são contidas pelos avanços da regulação.

A terceira, a aliança com o ultraliberalismo, interessado em desconstruir as regulações criadas ao longo das últimas décadas, mas empenhado em manter o regime democrático, aquele em que mais facilmente controla, com sua influência sobre partidos políticos, Judiciário e mídia.

É nessa dicotomia ditadura x democracia tradicional que se instala pontos futuros de conflito entre liberalismo e ultradireita, como se tentará explicar ao longo deste Xadrez.

A lógica de Bannon não consiste em consolidar a ultradireita como um partido do jogo democrático, mas claramente empenhada em derrubar o regime e consolidar a ditadura.

Graças ao primarismo dos Bolsonaro, essa estratégia foi explicitada desde o primeiro momento, com os filhos divulgando mensagens claras de defesa da população armada, e não das Forças Armadas, como garantidoras do projeto político da família.

Esse movimento golpista foi em um crescendo até ser contido por três poderes: a Justiça,  através dos inquéritos abertos por Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal, e as investigações sobre a rachadinha pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro; as Forças Armadas, não endossando a tentativa frustrada de golpe de Bolsonaro, semanas atrás; a Câmara, de Rodrigo Maia, derrubando seguidamente vetos de Bolsonaro; e as Organizações Globo, denunciando as mazelas do governo. Note-se: quatro instituições com papel central no movimento que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.

Estes são os personagens do próximo tempo do jogo: Supremo, Forças Armadas, Rodrigo Maia e Globo. E, para seus projetos, interessa manter no poder um Bolsonaro domesticado.

Peça 2 – o papel do sistema de justiça

Na última década, a bancada política do Supremo – Gilmar Mendes, Luis Roberto Barroso, Luiz Fux, Dias Toffoli – divergiam nos meios e concordavam nos fins.

Por “fins” entenda-se uma visão ultraliberal da economia, com redução dos gastos sociais, desmontagem do sistema sindical, destruição da Consolidação das Leis do Trabalho. Por “meios” compreenda-se o punitivismo virulento da Lava Jato.

O conflito entre os dois grupos – os “ garantistas” e os “punitivistas” – ficou nítido depois que a Lava Jato completou o trabalho sujo de inviabilizar um governo e um partido político e pretendeu preservar o poder avançando sobre outros partidos. Ali se deu o racha em torno da Lava Jato, mas não em torno do ultraliberalismo.

No último ano, o Supremo teve papel chave no desmonte das estatais, ao  contornar a proibição constitucional de venda das estatais sem aprovação do Congresso, liberando a venda de empresas controladas, em um processo irresponsável de destruição de valores da empresa-mãe. Nesses períodos de ideia fixa no lavajatismo, pelo Supremo passaram várias boiadas de desmonte do modelo de Estado.

Com o avanço das pretensões ditatoriais de Bolsonaro, e a saída de Sérgio Moro, abriu-se espaço para uma reorganização dos Ministros em torno do ultraliberalismo. Gilmar Mendes e Luis Roberto Barroso se aproximaram, aliança celebrada em uma palestra de Barroso em uma live do IDP, universidade de Gilmar.

Ao mesmo tempo, houve sintonia total de medidas tomadas por vários Ministros contra as pretensões de Bolsonaro, assim como uma aproximação cada vez maior com Rodrigo Maia, presidente da Câmara, também do front ultraliberal.

Ontem, a decisão de Gilmar Mendes de conceder uma liminar para devolver à prisão domiciliar não apenas Fabricio Queiroz, mas a esposa – que foi detida quando estava foragida – sela definitivamente a nova pax com Bolsonaro domesticado.

Na sexta-feria, a participação de Gilmar Mendes na live do MST (Movimento Sem Terra) deu o tom do novo modelo, ultraliberal, sim, mas sem a selvageria do período anterior. Explica-se da mesma maneira sua aproximação com setores progressistas do meio jurídico (lembra um pouco o pacto dos farrapos com a Coroa, nos dizeres de um de seus líderes: “com o sangue do primeiro paraguaio que invadir o Brasil assinaremos a paz com a Coroa”. O sangue, no caso, será dos deslumbrados da Lava Jato).

Agora, vai-se prosseguir no modelo clássico liberal, de destruir os direitos coletivos da população (que implica em gastos orçamentários ou em fortalecimento de movimentos e associações) e  promover novo pacto em torno dos direitos individuais, investindo contra esbirros autoritários contra pessoas.

É essa a característica da nova pax: doma-se o bolsonarismo, sem desmanchar o pacto ultraliberal que o levou ao poder. Nesse novo desenho, há possibilidade de se votar pela suspeição de Sérgio Moro e reabilitar politicamente Lula, confiando que haja a legitimação democrática que garanta a reeleição de Bolsonaro.

Com Bolsonaro, trata-se de um casamento de conveniência que pode durar apenas o prazo necessário para o Congresso completar seu trabalho de desmonte do Estado; ou ser prorrogado se Bolsonaro conseguir convencer os novos aliados de que perdeu definitivamente as garras.

A conclusão da Polícia Federal sobre a delação de Antonio Palocci completa o quadro. O inquérito concluiu que Palocci incriminou Lula e André Esteves do BTG com base em notícias pesquisadas no Google. A delação foi peça central para a campanha eleitoral de Bolsonaro, quando Moro liberou um trecho para uso político na véspera das eleições.

Pode ser que Lula seja apenas um subproduto de uma operação para garantir a blindagem do BTG Pactual. De qualquer forma, é um tiro a mais na moribunda Lava Jato.,

Peça 3 – o papel das Forças Armadas

Há duas características explícitas na elite das Forças Armadas, formada nos institutos militares: o alinhamento com os Estados Unidos e a visão liberal da economia, com uma completa ignorância sobre projeto de país.

Em relação aos EUA, há uma semelhança e uma diferença das Forças Armadas em relação a Bolsonaro.

A semelhança é a completa submissão aos Estados Unidos. A diferença é a postura: a paixão de Bolsonaro por Trump é quase pornográfica; já a das Forças Armadas pelos Estados Unidos tem o formalismo da institucionalidade.

Desde que o Brasil abriu mão de ter uma indústria militar de defesa autônoma, aumentou essa submissão. A sabedoria secular dos EUA cooptou procuradores conferindo-lhes instrumentos de poder; e militares dando-lhes acesso a treinamento em novas tecnologias.

Para as FFAAs, Bolsonaro no poder é o melhor dos mundos.

De um lado, conseguem regalias para a corporação, como aumento de verbas, blindagem na reforma da Previdência, abertura de cargos no setor civil. Ao não haver identificação formal com Bolsonaro, livram-se da pecha de interferência no poder civil e não se contaminam com as barbaridades terraplanistas do governo.

Os esbirros primário-autoritários de Bolsonaro atrapalharam esse pacto. Enquadrado agora, os generais no poder voltam à sua missão original de conferir um mínimo de racionalidade ao governo.

Mudaram a comunicação, aproximaram-se do Centrão e desenham um plano de salvação, o tal Pró-Brasil, que, no entanto, esbarra na irracionalidade ideológica de Paulo Guedes. Voltam a se apresentar como os garantidores da racionalidade, inclusive perante seus colegas da ativa.

Peça 4 – o papel de Rodrigo Maia

É essa mesma lógica que explica a entrevista de Rodrigo Maia ao Roda Viva, defendendo o mandato de Jair Bolsonaro.

Com a nova linha imprimida ao governo, e aproximação com o Centrão, Maia garante sua reeleição e a manutenção do projeto ultraliberal das reformas, com precarização ainda maiores dos serviços públicos e restrições maiores aos gastos sociais. O sucesso de Maia depende dos abusos de Bolsonaro.

É uma ofensiva com várias frentes. Esta semana, o governador de São Paulo João Dória Jr encaminhou à Assembleia Legislativa o projeto de lei nº 529/2020, pelo qual pretende extinguir, entre outros, o Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE), a Fundação para o Remédio Popular “Chopin Tavares de Lima” (FURP); Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP); Instituto Florestal; Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo (CDHU); Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo S. A. (EMTU/SP); Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN); Instituto de Medicina Social e de Criminologia (IMESC); Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (DAESP); Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva” (ITESP).

Agora mesmo, fala-se em um projeto de lei, encaminhado por Paulo Guedes, para acabar com a gratuidade da Justiça.

Peça 5 – o papel da mídia

A pesquisa DataFolha, identificando a melhoria na avaliação de Bolsonaro pela população reflete a mudança de tom do governo, a domesticação provisória do Ogro. A enorme divulgação aos resultados, inclusive com cobertura maciça do Jornal Nacional, está longe de demonstrar a isenção do veículo. A intenção óbvia é reforçar uma nova aposta em Bolsonaro domesticado, para não interromper o rush ultraliberal.

Nos últimos dias, comentaristas políticos e econômicos parecem obedecer a uma ordem unida, de criminalizar qualquer gasto público, satanizar o funcionalismo, criar falsas expectativas de um futuro radioso se o Estado for desmontado ou, pelo contrário, prever o fim do mundo se a Lei do Teto for revogada. Tudo preto no branco, em cima de bordões primários, típicos de efeito manada de redes sociais, sem nenhuma nuance.

Não se trata de um surto de bobeira coletiva, mas de uma clara ordem unida.

Peça 6 – o futuro da nova aliança

Cenários são apostas sobre o futuro, encaixando uma quantidade específica de fatos políticos do momento. Mudam os fatos, mudam as correlações de força, há os movimentos imprevisíveis de opinião pública.

Fato: o pacto atual com Bolsonaro domesticado, para uma ofensiva ultraliberal maciça. Conjeturas: os desdobramentos desse pacto e as consequências futuras de um Bolsonaro para a democracia, de um Bolsonaro fortalecido.

Julgar que Bolsonaro pode ser eternamente domesticado é a mesma coisa que dar uma dieta vegetariana para uma hiena, e apostar que nunca mais ela voltará a gostar de carniça.

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. Comento só o final: aí, é fácil, é só dispensar o Bozo. Tem sempre o Mourão à disposição se ocorrer ao longo do mandato ou qualquer outro nome “moderninho” que podem viabilizar para 2020, se for preciso.

    1. O zé-botina já disse que o salário mínimo no Brasil é muito alto, não é, é dos mais baixos, depois do derretimento do real deve ser o mais baixo de toda a América Latina; também disse que o décimo terceiro salário é um abuso, foi elevado ao mais alto grau do lojistas, e para um vice, cargo que não serve pra nada, a não ser para dar golpes, fala pelo cotovelos…..
      E na terra dos botocudos não é apenas o governador botox que está numa tara privatizante, o seu menino de recados que atende por prefeito também tem projeto semelhante, coincidências?, pra “economizar”dizem, talvez seja para o Estado e a prefeitura mandarem os filhos pra faculdade no futuro….

  2. Muito boa análise do momento político atual@
    Gostaria de perguntar para o Nassif, quando ele fala sobre as mídias defendendo o teto de gastos como uma clara ordem unida, quem são os atores dessa ordem, enfim, gostaria que o L. Nassif virasse os nomes desses mandantes,
    Abc,
    Emilio Delpino

  3. Só tem um probleminha neste jogo: pro bem ou pro mal, bolsonaro descobriu a força de uma medida popular. Ao, a contragosto, dar o auxílio emergencial ele puxou pra si boa parte do eleitor petista pobre. E é este eleitor que fez com que ele não só mantivesse a porcentagem de popularidade, como a aumentou. Ele perdeu apoio da classe média que é pouca gente e ganhou no meio pobre, que é a esmagadora maioria. Então quem está sem autoridade é o guedes que vai ter que engolir o populismo do bozo. O bozo vai fazer de tudo pra mantê-lo e o guedes pra impedi-lo. E vai fazer isso porque sabe que se não fazê-lo, cai. E como se disse no fim do xadrez, o bosnonaro é indomável.

  4. Prezado Nassif, muito coerente seu artigo. Imagino que você pense que parte do orçamento economizado com o atendimento ao público (saúde, educação, atendimento júridico, etc.) será usado pelo governo para uma ação de financiamento de obras públicas de modo a alavancar a economia. Se não, não haveria sentido em associar o governo ao Centrão e esvaziar Paulo Guedes. Hoje os militares do governo estão em atrito com Guedes.

    Em outro artigo você poderia desenvolver o que significará para o MP que um dos seus braços tenha se tornado um partido político (Lava Jato). Você já fez isso anteriormente como uma hipótese provável mas agora você poderá escrever como fato inescapável. O esvaziamento do MP já está no radar do governo, de forma a impedir qualquer ação do MP contra este governo ao mesmo tempo que economiza recursos públicos nesse novo tempo que se estende adiante.

  5. 1780 na França monárquica, rei aristocracia religiosos eram o poder contra os camponeses maioria, e uma incipiente burguesia de ideias iluministas. Deu a Revolução e grande safra de cabeças guilhotinadas.
    O xadrez é uma copia/cola daqueles tempos tem muito povo e sobretudo muita classe media com dificuldade em aceitar bovinamente um lugar subalterno de servidor imposta pela elite.
    Para dar certo o esquema precisa eliminar: educação universal, indústria e as suas inúmeras vertentes, pesquisas e confiar na solidez minoritária das globos, exércitos policias banqueiros e fazendeiros.
    Será sempre um equilíbrio precário bom para republiquetas bananeiras centro americanas.
    Quantos aceitarão o status quó pré 1888?

  6. Bolsonaro só ainda não caiu porque a reforma ultraliberal do Estado não foi concluída. O Xadrez descreve bem esse quadro político. Entretanto, a análise não comtempla uma contradição na aliança entre os ultraliberais e Bolsonaro. A popularidade momentânea de Bolsonaro foi impulsionada pelo auxilio emergencial para os desassistidos e essa tem prazo de validade. É possível supor que essa ajuda possa ser estendida por mais tempo, mas esbarra em Paulo Guedes e seu teto de gastos que, na minha opinião, não irão aceitar a prorrogação em nome da responsabilidade fiscal. De outro lado, a turma do centrão tem enorme apetite por verbas e obras, de novo o teto de gastos é um obstáculo. Para se reeleger, Bolsonaro sabe que vai precisar inaugurar obras, diminuir o desemprego e para isso é preciso investimento. Guedes irá afrouxar o teto de gastos para ajudar Bolsonaro a se reeleger? Não sei dizer.

  7. Não se brinca de domesticar fascistas. É como criar um leão selvagem em casa achando que ele não vai te atacar. Se o plano ultraliberal de desmonte do estado for bem sucedido será o caos econico e fascistas prosperam no caos. Bolsonaro pode muito bem utilizar o argumento da desordem para intervir no STF e no Congresso. Então os neoliberais brasileiros vão conhecer as garras do leão que alimentaram em seu quintal, exatamente como os liberias alemães ‘descobriram’ quem era, de fato, Hitler. Se os liberais querem destruir o estado do bem estar em favor do capital, Bolsonaro e bolsonaristas se guiam pelo ódia e desrazão e, achando que quererm purificar o país do mal, no fundo desejam destruir tudo a sua volta, inclusive a ordem liberal.

    1. Tás brincando, como diria o Costinha!
      O empresariado alemão deitou e rolou no regime nazista. Grandes empresas industriais ganharam milhões de escravos oriundos dos países ocupados, os sindicatos foram exterminados, a oposição de esquerda encarcerada e executada, e os bancos e indústrias nadaram de braçada no mar fascistas.
      Os neoliberais brasileiros não são neoliberais. São senhores de escravos que até hoje maldizem Isabel por ter assinado aquela lei… Seu pretenso neoliberalismo nada mais é que uma maneira moderninha de revogar a Lei Áurea. Ou alguém acha mesmo que eles vão defender direitos individuais quando se tratar de trabalhadores reivindicando? Para ficar em poucos exemplos, lembre porque os dias 08 de março e 1º de maio são datas comemorativas. Lembre de Saco e Vanzeti, só pra ficar em casos emblemáticos de como liberais tratam quem reivindica.
      O Capital só tem uma ideologia: ganhar dinheiro. Se a “correlação de forças” é desfavorável, ficam mansos, aceitam perder uns anéis. Se estiver favorável, como atualmente, são como hienas: atacam em banco, afugentam até leões, e devoram tudo que encontram pela frente, não sem, claro, exercer um terrivelmente despótico controle, mesmo entre eles. A hierarquia é tudo! Primeiro comem os grandes, os poderosos. As sobras ficam para os mais fracos, os que não mandam nada mais acham que são importantes, rosnam e mordem quando o momento é de mandar os leões embora. Esses são os pequenos e médios empresários, os políticos, e o aparato de repressão – polícias, judiciário, forças armadas. Bolsonaro é uma dessas hienas subalternas. Comia os restos do banquete, com rachadinhas e outras pequenas trapolinagens. Por causa de umas hienas de seu mesmo nível, que acharam que eram as novas rainhas do bando, porque puseram o leão sem dentes do PT e de Lula para correr, acabou sentando no trono da rainha das hienas… pobre coitado, quando a dona da cadeira cismar, ele cai com cadeira, família, MPF-LavaJato, e tudo mais.

  8. reabilitação política de Lula…Por que fiquei com a sensação, que dentro desse xadrez, Lula pode ser o plano B do ultraliberalismo? Uma nova carta aos brasileiros?

    1. Meu caro, se for assim, o que, depois do que tenho visto desde 2005, seria uma baita de uma armação, realmente, mas revelaria que o político em questão, dentro da lógica de centro esquerda, não vale um vintém, não é mesmo?

  9. Parabéns pela análise, Nassif. Creio que você está certo, há um pacto pelo neoliberalismo.

    Diante disso, porém, vem a pergunta: que lugar do mundo o neoliberalismo deu certo?

    Em nenhum, né!?

    Mas, se não deu certo em nenhum lugar do mundo, porque nossa elite (militar, financeira, empresarial, burocrática estatal, midiática, política) segue esse caminho?

    Minha opinião.

    Por que nossa elite, que evidentemente manda no Brasil, não escolhe seu destino.

    Senão, vejamos.

    – Quem decidiu que o Brasil seria independente foi Dom João VI.
    – Quem decidiu que o Brasil libertaria seus escravos, tendo como consequência a derrubada da monarquia e a proclamação da República, foi a Inglaterra.
    – Quem permitiu a Revolução de 30, fruto da instituição do livre mercado de trabalho em 1889, foi a I Guerra Mundial e o crash da bolsa de NY (que abalou a economia da oligarquia cafeeira no poder, permitindo a ascensão ao poder de novas forças urbanas e industriais).
    – Quem derrubou Vargas em 1945 foi o fim da II Guerra ou, para ser mais exato, os EUA como potência vitoriosa.
    – Quem o derrubou Vargas em 1954 foi a pressão dos EUA (o mesmo comandante, Gen. Eisenhower, das Forças Armadas brasileiras na Europa durante a II Guerra, era presidente dos EUA – 1953/1961).
    – Quem forçou o Golpe de 1964 foram os EUA, com a ameaça de invadir e dividir o país em dois, como fizera na Guerra da Coreia (1950-1953).
    – Quem pôs abaixo a ditadura no Brasil foi o fim da Guerra Fria (queda do muro de Berlim, fim da URSS).
    – Nesse ínterim, quem permitiu o desenvolvimentismo brasileiro, entre 1930 e 1980, foi a crise econômica mundial (I Guerra, crise de 29, II Guerra) e a Guerra Fria (desenvolver o capitalismo nos países pobres para evitar que a pobreza disseminasse o comunismo, como ocorria na China, Cuba e Vietnã).
    – Quem nos impôs o neoliberalismo no Brasil a partir de Collor, foi a política de Thatcher/Reagan apoiada por organismos multilaterais, Universidades americanas (Chicago), mercado financeiro e mídia globais.
    – Quem permitiu a ascensão do Lula foi o rescaldo do fim da URSS e o fato da máquina de guerra americana estar direcionada para o petróleo do Oriente Médio. Mas, com o retorno da Rússia como potência militar e da China como potência econômica, a partir da segunda década do século XXI, isso muda de figura. O BRICS não poderia prosperar.
    Logo, quem derrubou Dilma e prendeu Lula (como fizeram com Vargas e Goulart, através do Pentágono/CIA) foi os EUA que, com sua “guerra as drogas” a partir do Governo Reagan, construiram parcerias entre o DoJ (DEA/FBI) e a burocracia judiciária nacional (PF/MPF/Justiça), desde os Governos Sarney e FHC, para combater o “narcotráfico e lavagem de dinheiro”. Isso preparou terreno para a “primavera brasileira” e a Lava Jato.

    Agora, resta a nossas elites (militar, financeira, empresarial, burocrática estatal, midiática, política) seguir o caminho traçado por Washington, rumo ao fúnebre neoliberalismo.
    Quando mudar o cenário internacional, mudará o Brasil.

    1. Boa. Mas a questão é a enorme quantidade de capital empatado nos cofres da banca internacional e a gigantesca disponibilidade de ativos mundo afora, sobretudo num gigante como o Brasil.

      A questão é de tempo: Disponibilizar a maior quantidade desses ativos – Empresas públicas, bens públicos, recursos naturais – o mais rápido possível e ao menor preço, para apropriação imediata pelos financistas globais.

      De quebra, tentar fazer como no Chile de Pinochet: Reformas draconianas praticamente irreversíveis, a fim de garantir a expropriação social ad infinitum.

      Para isso, preservemos as regalias – mais algum surplus – de milicos, judiciário e mais alguma nata do serviço público para que façam o serviço sujo.

      Depois é depois!

    2. Rafael, na sua bem abalizada opinião temos um pequeno problema cronológico neste item:

      “– Quem pôs abaixo a ditadura no Brasil foi o fim da Guerra Fria (queda do muro de Berlim, fim da URSS).”

      Penso que a ditadura, ou melhor, o regime militar brasileiro terminou com a posse de seu político mais fiel, José Sarney, já em 1985, depois da enfermidade e morte de Tancredo Neves.

      E o fim da guerra fria começou a ocorrer 4 anos depois, com a queda das tiranias na Europa Oriental (Alemanha Oriental, Checoslováquia, Romênia, Bulgária, Hungria, Iugoslávia, etc.), mais especificamente no outono de 1989.

      No caso da Alemanha Oriental, a faísca mais desimportante, que provocou todo esse movimento tectônico de queda dessas tiranias e consequentemente iniciou o fim da guerra fria, foi um evento de pouca importância, ocorrido na fronteira entre Áustria e Hungria na primavera de 1989: os correspondentes ministros de relações exteriores resolveram cortar o arame farpado, que marcava a fronteira entre ambos os países, com alicates.

      Como o evento foi amplamente divulgado na televisão alemã ocidental, muitos alemães orientais resolveram passar legalmente as férias de verão na Hungria, na tentativa de “votar com os pés”, quase sempre bem sucedida.

      Enquanto isso, a tirania alemã oriental estava dormindo, acreditando em suas próprias mentiras.

      Daí em diante ela só pode andar para trás, até que caiu.

      Isso, sem contar que essas tiranias todas mandavam em governos altamente deficitários e impopulares.

      1. Vc está correto do ponto de vista cronológico. O que eu quis dizer é que esse processo histórico, “fim da guerra fria”, já estava em curso em 1985 quando cai a ditadura militar. A queda do muro de Berlim e o fim da URSS são evidências maiores, e posteriores, desse processo em curso percebido pelos EUA no final dos anos 70 e início dos 80. E um marco dessa derrocada é a morte de Leonid Brejnev em 1982.

  10. O que comentar depois deste lllllllllllloooonnnnggggoooo Xadrez?Quem sabe o saudoso e auto intitulado síndico Tim Maia,que tanta falta faz neste momento de Canto Agonico filosofasse:Tudo é tudo e nada é nada.Os mais refinados como eu, recorreria a Federico Fellini,La Nave Va,ou a Glauber Rocha,Terra em Transe,ou ao extraordinário alemão Wim Wenders,Até o Fim do Mundo.Se Nada Mais Der Certo de José Belmonte,só me restaria Se Eu Morrese Amanhã de Waldir Soriano,que o Secretário Vagabundo da Cultura,um certo Mário Frias,pensa em transformar em filme.Tamo fumado.

  11. Nassif,concordo, no geral, com sua análise. Mas pergunto como o Garrincha, “Já combinaram com os Russos? Esta elite de liberais não têm um nome, nem partido, nem apelo popular. Os 600 do emergencial deu sobrevida ao Bolsonaro. As eleições municipais ainda este ano já não terá os 600, o Bolso vai forçar a barra, aí o Guedes aguenta? O Bolso não vai aceitar, pois virá a queda de popularidade. Bolso não terá um mínimo de influência nas municipais, não tem partido, o que vai valer é o interesse local. Não acredito que a centro direita e direita, em frangalhos como estão, mostrará força. Qual a lógica de liberal se tornar governo gastador? Haverá reação, ameaça de guerra civil. O Bolso quer e daí? a elite quer?

  12. Temos três grandes atores políticos:

    Bolsonaro

    Lula

    E
    A Rede Globo

    Os três estão brigados.
    Se o STF decidir pela suspensão de Moro e devolver os direitos políticos do presidente Lula

    Aí o jogo volta a zerar.

    Bolsonaro ganhou um respiro se manter a agenda liberal

    E A Rede Globo com a delação de Messer e a suspeita da delação de. Palloci, está temporáriamente analisando o cenário.

    Esses são o centro da política hoje no Brasil.

  13. Bravo, Nassif! Notou e descreveu muito bem o movimento das peças. Agora cá pra mim, não há dúvida de que Lula está sendo colocado no jogo pra efeito de blindagem do famigerado BTG, e aí também pode residir a derrocada do plano da turma da casa grande.

  14. Só uma pergunta grande Nassif
    diante das perspectivas mundiais o ultraliberalismo tupiniquim se sustenta só?
    seremos a jabuticaba passada , na economia mundial?

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