As três prisões, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Janio de Freitas, em sua coluna de quinta-feira da Folha, trata do difícil momento que o País passa, quando o procurador-geral Janot pede ao Supremo a prisão de um ex-presidente da República, dos presidentes do Senado e do Congresso, e mais um senador. Não bastasse, resultado de um golpe mal tramado, o interino escolhe oito pendurados em ações judiciais para seu ministério. Não está sendo fácil.

Janio coloca que, a menos que as citações aos senadores e deputado federal tenham sido feitas somente agora, não dá para tirar da ação de Janot um cunho político ou um impulso tático jurídico, ou emocional. Pois que nas gravações de Sergio Machado não dá para implicar Sarney em obstrução de nada e Renan lançou tese defensável de preso não ter direito a delação. Então os ditos envolvendo os quatro devem vir de outras delações. E se vieram? Só agora criou-se o momento certo? Só agora?

Janot criou uma cisma dentro da cisma. Colocou o STF em situação desesperadora. Vai assistir de camarote? O colunista coloca as razões que a própria razão de Janot desconhece? Ou foi feita para criar um mal estar tão grande que até a prisão de Eduardo Cunha, citado e cantado em verso e prosa seja tarjada como impossível? Leia a coluna de Janio.

da Folha

As três prisões, por Janio de Freitas

A devastação no conceito do país, qualquer país, feita por uma iniciativa como a do procurador-geral Rodrigo Janot dirigida ao Supremo Tribunal Federal, é de recuperação dificílima por muito tempo. Mas às vezes se justifica. Não é o caso, até se pode presumir com alguma base, do pedido de prisão de um ex-presidente da República, do presidente do Senado e do Congresso, e ainda de um senador. Tanto mais no ambiente de denúncias e delações vigente há dois anos e quando o interino da salvação escolhe, para o seu ministério, oito pendurados em acusações judiciais.

A menos que a fundamentação do pedido contenha razões ainda não divulgadas, não se limitando às gravações feitas por Sérgio Machado, o ato de Janot só pode ser visto como um impulso tático, emocional ou político. Razões para um sensato pedido de prisão, nenhum dos três deixou gravadas. Indicar advogados, como fez José Sarney, além de banal, não consiste em obstrução a coisa alguma.

Renan Calheiros reiterou uma tese defensável, presente em projeto no Congresso: não mais permitir delação premiada de preso. O uso da prisão para constranger, até à concordância em delatar, não é exceção. Na Lava Jato, há evidências de que se trata mesmo do método preferido, senão único.

Mas é coerção. Ou uma forma de chantagem, reprimida e punida quando praticada por assaltantes e sequestradores. Levado à consagração, o método da delação dispensaria a polícia investigativa e suas técnicas admiráveis. Bastaria o meganha para prender o futuro preso-delator. As provas? Ora, as provas. Fulano e sicrano disseram na delação, é quanto basta.

Romero Jucá é o único que apresenta visão objetiva e prática sobre o problema que a Lava Jato representa “para todos” no Congresso. Embora “todos” seja apenas retórico, haverá também gente atingida pela confusão vigente na Lava Jato entre dinheiro sujo, de corrupção, e doação de campanha cuja origem monetária o candidato desconhecia.

Reconhecido no Senado como articulador incomparável de fórmulas e acordos políticos (relatorias de “pepinos” em geral vão para ele), Jucá não negou a vocação quando provocado por Machado. Para “delimitar” a “sangria” provocada pela Lava Jato, Jucá propôs “um pacto amplo” dos partidos. Saída política, pois. Com imaginada participação até do Supremo. Em termos finais, modificaria ou interromperia a Lava Jato “no ponto até aqui”. Nem por isso suscitou mais indícios que os de uma ideia fantasiosa, e não criminosa.

As comparações dos três com o caso de Delcídio do Amaral são infundadas. Delcídio propôs a fuga de um réu, ato ilegal, com o agravante de clandestinos. E se pôs como intermediário de proteção financeira para a família do fugitivo. É duvidoso de que propusesse o plano para realizar mesmo. As condições físicas de Nestor Cerveró lhe negam a hipótese de clandestinidade, tão fácil seria a identificação depois das suas fotos correrem mundo. Mas Delcídio propôs ilegalidades. Nada a ver com as respostas às instigações de Sergio Machado.

Além do mais, Rodrigo Janot sabe que o Senado não daria, por tão pouco, a necessária licença para a prisão dos dois senadores. O pedido que fez ao Supremo só pode ter motivação que não está nas gravações. E isso não quer dizer que apareça no pedido. Pode ser mais um dos expedientes já bem explorados na Lava Jato: de jogar verdes –e colher presos.

Ainda assim, o vazamento deu oportunidade a que o ministro Gilmar Mendes o considerasse “crime” e “abuso de autoridade”. Os vazamentos anteriores, com outros personagens, nada lhe haviam parecido. São duas conquistas nossas, portanto. A segunda é a noção de “abuso de autoridade” demonstrada, e aparentemente despossuída quando o ministro reteve por ano e meio um voto, que expunha em entrevistas, para assim obstruir o fim das doações eleitorais de empresas.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

11 Comentários

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  1. Pois é.Jânio teve o cuidado,

    Pois é.Jânio teve o cuidado, próprio de quem tem responsabilidade de jornalista, em colocar “a menos que a fundamentação do pedido contenha razões ainda não divulgadas”. 

    Como as notícias se atropelam a cada dia, uma destruindo outras ou as complementando, parece que vamos ter em novos áudios a fundamentação para o ato de Janot. 

  2. Jânio, o iluminado

    Admirável a clareza das ideias de Jânio. Isto dá todo sentido a este nefasto projeto de disslução nacional onde moro é o cavaleiro do apocalipse, janot o maestro do poder não contituido e o stf sua platéia passiva. Tudo isto nas trombetas groubais

  3. Janot STF Senado

    Mais um dia de especulação.

    Nem Janot nem STF irão prender gente de casa.

    Nao se sabe qto custou tornar público os audios de Machado.

    Aúdio não é água pra vazer, sao, de fato, divulgados quando interessa a alguém .

    O povo que era beneficiado pelo Programas sociais e outros Progrmas que estavam

    mudando a face do país é que estão perdidos.

    O resto é articulação para eleiçoes municipais. Vem ai mais uma penca de evangelicos e fisiológicos.

    Não há indicios que Dilma voltará.

    Apenas um jogo de cena para manter as pessoas presas as fronteiras institucionais.

     

     

  4. Fico aqui pensando…

    Num momento em que o Senado repensava seu voto pela admissibilidade do impeachment, num momento em que a opinião pública começa a perceber que, realmente, o processo de impeachment é golpe, num momento em que se constata a inépcia do interino, neste exato momento vem o sr Janot, que deve encabeçar a turma,e lança uma proposta bombática destas?

    Sei não, cheira a mais uma sacanagem desta turma, que vem jogando para ganhar.

  5. O jogo de Janot

    Por falar em jogar verde para colher prisão, não foi isso que fez o juiz Sérgio Moro todo ao longo do processo de sua Lava Jato? E apesar de muitos jornalistas terem denunciado o modo operado pela força terefa da operação LJ, a velha imprensa continua apostando que a Lava Jato serve para ajuda-la a defenestrar; de uma vez, o PT do Palacio do Planalto. O problema é que agora ela chegou ao coração do PMDB. Sera que se darão conta de que a criatura adquiriu vida propria?

  6. Talvez a ordem de prisão do

    Talvez a ordem de prisão do PGR tenha como base a gota d’água do CONJUNTO DA OBRA dos 3, que na verdade são os 4 e, pela foto são os 5.

  7. Nassif;
    O grande jornalista

    Nassif;

    O grande jornalista Jânio de Freitas a quem devemos muito por suas análises imparciais, profundas, objetivas, e acima de tudo corajosas, neste artigo de hoje apresentou um ponto com o qual eu concordo.

    Ao comparar a gravidade da ação do delcidio, que insinuou  planejar a fuga de um preso e ter tido contatos com ministros do stf, com as gravações do renan, jucá e sarney que claramente demonstraram a execução de ações para estancar as atuações da lava jato. O Jânio considerou de maior gravidade a do delcidio.

    Com todo respeito e na minha visão de leigo, a ação do delcidio estaria circuncrita a uma única pessoa e não visava estancar a suposta atuação positiva da tramóia lava jato.

    Porem as intenções apresentadas nas ligações dos outros três golpistas, para mim ficou claro, que visavam dar um ponto final na tramóia imediatamente, e limitar as condenações às que ocorreram até aqui.

    Para mim esta maquinação conjunta e orquestrada com o objetivo de em troca tirar a Dilma da presidência  é infinitamente mais grave. Isto não alivia a gravidade da ação espuria do delcidio, mas é de maior gravidade.

    Um ponto importante que alguém precisa ir fundo trata-se do ponto em comum das 4 gravações, que são os contatos obscuros  com ministros do supremo.

    Quem vai se aprofundar neste que sem dúvida é o maior crime de toda esta história. Ninguém se pronuncia. E o corajosissímo e imparcial  lewandowski considera estes contatos próprios de regimes democráticos. Vejam só a hipocrisia do cara.

    Genaro

     

     

  8. Por que fantasioso?

    O Jucá disse que ia tirar a Dilma e parar a lava-jato.

    Se Jucá e cia executaram a 1ª parte do plano, por que ele ainda é fantasioso?

    O STF demorou meses p/ punir o Cunha e uma semana p/ punir o Lula, o Mendes tem que ser punido pelo que já fez mal ao PT, o Celso criticou ser chamado de covarde por Lula, mas não critica quando outros políticos o chama de vendido ou golpista, etc.

    Cadê a fantasia? 

  9. Inversão de valores

     É no mínimo curioso constatar a valoração que se emprega à Lava Jato e à instituição presidência da República.

    Óbvio que as investidas contra as apurações da Lava Jato devem ser consideradas, mas o que se constata é um desprezo total pelo que criminosamente fizeram contra a instituição presidência da República nesse processo conspiratório e de traição que denominamos acertadamente de golpe, sem que o MP tenha dado um pio.

    Entretanto, basta que alguém tente algo contra a Lava Jato, ou até mesmo a critique, para que seus “pais” saiam em sua defesa a ponto de se pedir prisões a tordo e a direito. 

    Diante da recusa do STF aos pedidos de prisão de pmdbistas, o ministério público argumenta que “POLÍTICOS DO PMDB ACERTAVAM VERSÕES CONTRA A LAVA JATO”. Ou seja, enquanto a instituição presidência da república – vítima dos mesmos métodos – foi relegada a um limbo institucional, a Lava Jato  foi erguida à posição mais alta das instituições da República.

    Fica a impressão de que o golpe – praticado por todos aqueles que hoje igualmente conspiram contra a Lava Jato – está permitido e até incentivado, mas quando esses mesmos conspiradores agem contra a Lava Jato todas as forças, todos os argumentos e até mesmo abusos são empregados e aceitos para defendê-la.

    Tomara que a Lava Jato não se transforme num monstro e resolva devorar todos os seus criadores e leve junto todas as instituições da República.

     

    PS. Hoje há notícias de que a turma do golpe age abertamente para salvar Eduardo Cunha. Ou seja, nenhuma novidade no reino podre de Michel Temer.

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