Lava Jato: após omitir-se, o Supremo se assusta. Vai acordar?

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Lava Jato: após omitir-se, o Supremo se assusta. Vai acordar?

Por Marcelo Auler

Em sua coluna de terça-feira (23/08) na Folha de S. Paulo, a farejadora Mônica Bérgamo – a quem devo parte do Prêmio Esso que recebi em 1992 quando estávamos na Veja -, traz a público a indignação do ministro Gilmar Mendes – logo ele – com o vazamento de informações – Vazamento de citação a Toffoli em delação abre crise entre STF e  MPF. Referia-se ao provável vazamento por procuradores da República de informações reveladas por Veja em sua última edição. Foi uma tentativa direta de queimar o ministro Dias Toffoli como, aliás, Luís Nassif  comentou em oportuno artigo no  próprio sábado (20/08) – A vingança torpe da Lava Jato contra Dias Toffoli. Tanto que viralizou.
 
No transcorrer do dia, Mendes voltou a se manifestar, ampliando suas críticas às 10 Medidas Contra a Corrupção, apresentadas pelo Ministério Público Federal, com mais de dois milhões de assinaturas coletadas em todo o país. Segundo o UOL, o ministro do Supremo Tribunal Federal, referindo-se aos procuradores da Lava Jato, sem citá-los comentou que os “cemitério está cheio desses heróis“.
 
Bateu firme na proposta de “que prova ilícita, obtida de boa fé, deve ser validada”. Para ele, “a priori, tem que ser muito criticada e se negar trânsito. Imagine, agora, um sujeito que é torturado, ah, mas foi de boa fé”.
 
Avançando, criticou os procuradores e foi citar seu velho arqui-inimigo, o ex-delegado federal Protógenes Queiroz, da Operação Satiagraha – deflagrada em 2008 -, expulso da Polícia Federal por violação de sigilo funcional.
 
“Isso lembra o nosso delegado herói, que fazia interceptação telefônica sob o argumento de que agia com bons propósitos. Ora, espera aí. A autoridade se distingue do criminoso porque não comete crime, senão é criminoso também! Aí vira o Estado de Direito da barbárie (…) Estado de Direito tem que ser Estado de Direito. Não se combate crime com a prática de crime. É preciso moderação, que os procuradores calcem as sandálias da humildade”.
Acostumado a lidar com procuradores da República desde os anos 90, com muitos dos quais desenvolvi amizade, eu lamento que dentro do Ministério Público Federal, que sempre assumiu o seu papel constitucional de fiscal da lei, tenha hoje um grupo – pequeno, é verdade – que se destaque pela defesa de métodos que ferem a Constituição e o Estado de Direito, Pior ainda, o próprio juiz Sérgio Moro defendeu algo parecido na Câmara dos Deputados, mas naquela vez não se ouviu qualquer voz do STF criticá-lo.
 
Alerto para um comentário postado aqui no blog pelo leitor Ramirez Gonzaga, que certamente já é o que muitos começam a defender. Se acontecer, entendo que será um retrocesso, mas plenamente justificado aos olhos de uma parcela da sociedade, pela ação deste pequeno grupo que age sob o silêncio da maioria. Diz o leitor Gonzaga:
 
“Com todo respeito ao Ministério Público, vejo que os poderes investigatórios desse órgão deve ser revisto e seus membros devem se ocupar apenas com sua função acusatória. Esse negócio da Liga da Justiça formada entre um juiz, procuradores e policiais federais se mostrou perniciosa ao País”.
 
Silêncio sobre o grampo na cela – Não sei se a opinião de Mendes é compartilhada pelos outros dez ministros . Geralmente não é. Mas, ao que parece, o Supremo está despertando muito tarde para um problema que vem sendo apontado na Lava Jato há anos. Aqui neste blog, desde agosto de 2014. E não só pela questão dos vazamentos, mas também pelo uso de métodos heterodoxos adotados nas investigações que acabaram sendo validados, ainda que indiretamente, pelos tribunais superiores, inclusive o próprio STF.
 
Para citar um exemplo clássico, basta refazer uma pergunta muitas vezes repetida aqui: O que foi feito pela Polícia Federal – e pelo Ministério Público Federal, que deve exercer o controle externo do DPF – da sindicância sobre o grampo ilegal encontrado na cela da Alberto Youssef?
 
O resultado desta sindicância, lembre-se, foi prometida pelo corregedor do DPF, delegado Roberto Mario da Cunha Cordeiro, em ofício ao próprio juiz Moro, para o final de novembro de 2015 (veja ao lado), como noticiamos em novembro na reportagem Grampo da Lava Jato: aproxima-se a hora da verdade.
 
Passaram-se nove meses e ela não veio a público.E o pior, por todas as informações que se tem, ela está concluída e deverá atingir pesos pesados da Força Tarefa da Lava Jato. Mas não é tornada pública. Medo de serem obrigados a punir membros da Força Tarefa?
 
Afinal, como o agente da Polícia Federal Dalmey Werlang confessou, foi ele quem instalou o grampo a mando dos delegados Rosalvo Ferreira Franco, superintendente do DPF no Paraná, Igor Romário de Paulo, coordenador regional da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (DRCOR) e Marcio Anselmo Adriano, que comandava as investigações na época.
 
Sindicância engavetada – É algo semelhante com o que aconteceu com a sindicância para apurar o grampo mandado instalar no fumódromo.
 
Desde agosto de 2015, na primeira reportagem nesse blog sobre a força tarefa de Curitiba –  Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR – noticiamos que, através  do depoimento do Agente de Polícia Federal (APF) Dalmey Werlang, que o grampo no fumódromo partiu de uma ordem da delegadas Daniele Gossenheimer Rodrigues, chefe do Núcleo de Inteligência Policial (NIP) da Superintendência, coincidentemente, esposa do delegado Igor.
 
 A responsabilidade dela pela colocação do grampo foi confirmada pela Sindicância realizada, mas a corregedoria e a direção-geral do DPF decidiram que ela e Werlang só responderão a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), tal como informamos em Para o DPF, grampo ilegal na Superintendência do PR é transgressão disciplinar, Esqueceram que o uso de grampo ambiental sem autorização judicial é considerado crime?
 

 

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

10 Comentários

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  1. Dois comentários antigos sobre o totalitarismo no Brasil

    Pelo visto vamos para o olho por olho, dente por dente

    Em casa onde falta pão, todos gritam e ninguém tem razão.

    O totalitarismo moderno pode ser definido como a burocracia institucionalizada no governo por meio de um Estado de excessão, como uma guerra civil legal, que permite não só a eliminação física dos adversários políticos mas também de categorias inteiras de cidadãos que por qualquer razão não possam ser integrados no sistema político. 

    Vida e morte não são propriamente conceitos científicos mas sim conceitos políticos, os quais justamente adquirem uma significação política precisa somente através de uma decisão.

    Não vai sobrar um.

    ………

    Na veia

    A hipocrisia é o tributo que o vício paga à virtude.

    Toda democracia atual repousa no princípio de que não somente existem iguais iguais mas que desiguais não serão tratados da mesma maneira. Democracia exige, desta forma, primeiramente homogenidade e em segundo, se for preciso a eliminação ou a erradicação da hetereogenidade.

    De cima para baixo, no Brasil, totalitarismo na veia.

  2. Golpistas assustados

    Golpistas assustados …

     

    Pimenta no dos outros é refresco, não é mesmo golpista encastelados no STF.

    Se acovardaram (?) quando deveriam ter mostrado as garras. Permitiram toda sorte de abusos e desvuis contra Lula, Dilma e o PT.

    Agora que surge uma mera citação a um de seus se espantam?

    Afinal tem medo do que? Quem não deve não teme. Não é isto que vale para os pobres mortais?

    São tão golpistas e sem-vergonhas que agora se escandalizam, quando tiveram inúmeras oportunidades com desvios e abusos muito mais sérios, muito mais escandalosos e escabrosos que está citação ao sabujo do Gilmar Mendes.

    Se houvesse somente um integrante probo no STF, com a envergadura moral de Eugênio Aragão, deveriam pedir que o MPF fosse a fundo nas delações que envolvem o STF na sujeirada que são as instituições e seus integrantes deste páis.

    Talvez esteja ai, o medo do que possa vir para cima do STF, o motivo do engajamento descarado do STF aos golpistas. Deve ser melhor passar para a história como golpistas do que ver um dos seus envolvidos em corrupção.

     

  3. Golpistas assustados

    Golpistas assustados …

     

    Pimenta no dos outros é refresco, não é mesmo golpista encastelados no STF.

    Se acovardaram (?) quando deveriam ter mostrado as garras. Permitiram toda sorte de abusos e desvuis contra Lula, Dilma e o PT.

    Agora que surge uma mera citação a um de seus se espantam?

    Afinal tem medo do que? Quem não deve não teme. Não é isto que vale para os pobres mortais?

    São tão golpistas e sem-vergonhas que agora se escandalizam, quando tiveram inúmeras oportunidades com desvios e abusos muito mais sérios, muito mais escandalosos e escabrosos que está citação ao sabujo do Gilmar Mendes.

    Se houvesse somente um integrante probo no STF, com a envergadura moral de Eugênio Aragão, deveriam pedir que o MPF fosse a fundo nas delações que envolvem o STF na sujeirada que são as instituições e seus integrantes deste páis.

    Talvez esteja ai, o medo do que possa vir para cima do STF, o motivo do engajamento descarado do STF aos golpistas. Deve ser melhor passar para a história como golpistas do que ver um dos seus envolvidos em corrupção.

  4. “Bateu firme na proposta de

    “Bateu firme na proposta de “que prova ilícita, obtida de boa fé, deve ser validada”. Para ele, “a priori, tem que ser muito criticada e se negar trânsito. Imagine, agora, um sujeito que é torturado, ah, mas foi de boa fé””:

    O supremo DOS ESTADOS UNIDOS estava errado menos de 2 anos atraz a respeito do mesmo assunto.

    Nao vou lembrar detalhes do assunto -impossivel, nenhum- mas o supremo daqui disse que se o policia invadiu o apartamento devido a falsa denuncia de trafico de drogas e achou OUTRAS provas de crime as provas eram invalidas.  Minha pergunta aqui no blog foi “ah, eh?  entao se a policia invadir o apartamento sem mandato porque teve denuncia falsa que tinha uma crianca sendo queimada viva (ou coisa muito parecida) e ao invez disso achou um monte de pedacos de corpos de outras pessoas, todos bem cozidos e temperados e perfeitamente assados, a prova en invalida tambem?”

    Nao lembro de sequer um unico detalhe do assunto ou o exporia extensivamente.  O ponto eh que o supremo DAQUI errou.

    Os cagados assuntos do supremo brasileiro nao me interessam:  ele nao tem tecnicos.  Tem canalhas e politiquinhos de quinta categoria.

    Me chamem quando o assunto for tecnico, ok?  Que se fodam TODOS os supremos de quinta categoria do Brasil.

     

     

    (ler mais?  Nao da pra ler, Marcelo, o seu blog eh quase impossivel de navegar)

  5. Hipocrisia e Fascismo

    Tardia e hipocritamente, alguns estão vociferando contra o grupo fascista do Paraná. Parece até que eles não conhecem o  poema de Brecht:

    Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
    Como não sou judeu, não me incomodei.

    No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
    Como não sou comunista, não me incomodei .

    No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
    Como não sou católico, não me incomodei.

    No quarto dia, vieram e me levaram;
    já não havia mais ninguém para reclamar…

     

  6. quem são esses 2 milhões?

    quem são esses 2 milhões de “wasp’s” caboclos?

    essas propostas de lei, originadas diretamente dos cidadãos, deveriam passar por análise acurada para avaliar se o perfil de quem assinou-as aproxima-se do prefil do brasileiro.

    no caso deste projeto de lei cretino, a considerar que procuradores e juízes ocupam o topo da pirâmide sócio-econômica, imediatamente abaixo dos oligarcas brasileiros a quem servem elegremente, há de supor-se que os assinantes dessa proposta de lei também ocupem, ou orbitem, o mesmo extrato.

    convém lembrar, todavia, que esse mesmo extrato perdeu as quatro últimas eleições diretas para a chefia de estado e governo, além de apoiar o golpe contra a presidente legitimamente eleita.

    por isso urge um expurgo total na magistratura e procuradorias estaduais e federal.

    esses órgãos estão completamente aparelhados, isto é, de fato, contaminados pelo que pode haver de mais grotesco e primitivo numa sociedade moderna: o nazi-fascismo.

  7. Pode parecer paradoxal, mas

    Pode parecer paradoxal, mas concordo com tudo o que disse esse sinistro do supremo. É claro que a motivação que o fez reagir, sabendo dos precedentes, não deve ser nada nobre, porém ele está correto mesmo que o motivo seja errado. Mas o mais paradoxal é ter esperado por dois anos alguma autoridade do PT reagir dessa forma a essas barbaridades jurídicas da tal república de curitiba e ver o maior inimigo do PT ter fazê-lo. Isso que é irritante.É aquela coisa de republicanismo que pode ser traduzido como ” arte de engolir sapo sem reclamar”. Acho que os militantes já estão de saco cheio com esse negócio.  A melhor coisa foi dizer àquele juiz de primeira instância que ele é um cretino absoluto. Até que enfim alguém disse a ele o que ele realmente é. Que o diga os um milhão e meio de desempregados que ele consiguiu deixar sem trabalho.

  8. Estavam todos juntos e

    Estavam todos juntos e misturados, PGR, MPF e STF. Agora, francamente, não sei dizer se a crise é real ou é aquela velha historinha do interrogatório de delegacia, onde sempre tem o policial mau e o bonzinho. Para nós, que acusamos o golpe, fica difícil distinguir o que é jogo para platéia. Afinal, Gilmar é bamba nesse enredo.

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