Jornal GGN – As autoridades sanitárias podem repetir à exaustão as medidas mais comuns de mitigação contra o coronavírus: higienização constante, distanciamento social, restrições a serviços e comércios. Mas o discurso não cai nos bairros nobres e de classe média com o mesmo impacto que cai sobre as grandes favelas do País.
A realidade socioeconômica dos moradores das periferias é um desafio ao enfrentamento ao vírus nas condições comunicadas até agora. Eles estão em zonas de alto adensamento populacional, imersos em condições de habitação e saneamento precárias, um prato cheio para a COVID-19. Há quem cogite o bloqueio absoluto desses lugares, via intervenção militar, quando a situação fugir do controle.
A secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, Célia Parnes, conta com a “compreensão” das pessoas para que este cenário não se materialize. “Os serviços estão sendo aprimorados, a preocupação com as comunidades é imensa”, assegurou.
“Agora, a gente conta muito que as pessoas percebam que as curvas sobem quando elas saem às ruas. Estamos monitorando e fazendo a comunicação. Contamos muito com a compreensão de todos.”
Em entrevista exclusiva ao GGN, na tarde desta quinta-feira (4/9), por telefone, Célia afirmou que a responsabilidade sobre medidas mais centradas nas populações periféricas é das prefeituras municipais, não do Estado. “Não obstante a isso, temos uma série de medidas já anunciadas.”
A mais nova é a implementação do Simi SP, um sistema de monitoramento inteligente contra o coronavírus que vale para todo o estado. A ideia é usar dados fornecidos pelas operadoras de telefonia celular para identificar zonas de aglomerações humanas e orientar ações de intervenção, se necessário.
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Nas favelas, em especial, o governo vai “pedir para as telefônicas a instalação de uma rádio base. Isso mostra que a gente tem o foco de interesse nessas comunidades e consegue monitorar os isolamentos.”
Célia também afirmou que está em desenvolvimento pela iniciativa privada, com apoio do Estado, a criação de um centro de acolhimento na comunidade de Paraisópolis, a segunda maior favela, com 100 mil habitantes, de acordo com dados da associação de moradores. O IBGE calcula 45 mil pessoas por quilômetro quadrado. Nesta semana, noticiaram a suspeita de 4 mortes por coronavírus e 60 casos aguardando resultado de testes.
O projeto prevê a instalação de 500 vagas de acolhimentos, distribuídas em duas escolas que serão cedidas pela Secretaria de Educação.
“Tem todo um protocolo desenhado com a Saúde que visa separar quem tem sintomas das pessoas confirmadas para coronavírus.”
A ideia surge quando lideranças de Paraisópolis se organizam para isolar, por conta própria, os casos suspeitos de coronavírus.
Nas redes, circula o link para uma vaquinha virtual, e cogitou-se o uso de parte da verba arrecadada para o aluguel de casarões ou espaços que possam hospedar temporariamente idosos e outras pessoas em situação de risco. Uma forma de fazer “isolamento vertical” em lugares onde famílias numerosas e vulneráveis compartilham cômodos minúsculos.
DISTRIBUIÇÃO DE MÁSCARAS
Outra “grande ação”, nas palavras da secretária estadual, é a fabricação e distribuição de 2 milhões de máscaras de tecidos para moradores de comunidades em todo o Estado. A medida foi anunciada nesta quinta pelo governador João Doria.
As favelas de Heliópolis (com 200 mil habitantes) e Paraisópolis serão as primeiras a receber as máscaras, que serão feitas por mais de 700 costureiras de baixa renda. A iniciativa conta com doações de três bancos privados e terá também a participação da prefeitura da capital. Para o governo, o programa soma geração de emprego com proteção social e investimento em saúde.
ALIMENTAÇÃO
No quesito alimentação, Célia lembrou que os restaurantes Bom Prato em Heliópolis e Paraisópolis agora “tem 60% a mais de refeições”. “Abrem todos os dias, sábado, domingos e feriados. Isso faz muita diferença. São 3 refeições diárias, café da manhã por cinquenta centavos e almoço e jantar por 1 real. Existe a alimentação, é muito bem feita, a um preço muito acessível.”
Somente nesta semana, o governo anunciou também a entrega de 1 milhão de “cestas proteicas” para a população em extrema-pobreza, que recebe até R$ 89 per capita, em todo o estado. Mais o pagamento do benefício Merenda em Casa (R$ 55 no primeiro mês, R$ 110 nos próximos, enquanto as escolas permanecerem fechadas) para 732 mil alunos da rede pública que também estão no CadÚnico ou recebem Bolsa Família. A Prefeitura paulistana tem ação semelhante.
Por considerar que a medida não era suficientemente abrangente, a Defensoria Pública recorreu à Justiça e conseguiu uma liminar que obriga Estado e Prefeitura a estender o benefício a todos os alunos da rede, e não limitar a alimentação àqueles que comprovam a baixa-renda.
Apesar de o governo estadual não ter apresentado ainda pacote completo de medidas voltadas exclusivamente à realidade nas favelas, Célia garantiu que há diversas ações em andamento e outras mais serão desenvolvidas, como a distribuição de cestas básicas com produtos de higienização pessoal e doméstica, que deve ser anunciada na semana seguinte à Páscoa.
“A distribuição de 2,4 mil caixas d’água pela Sabesp foi uma ação específica para a comunidade. A suspensão da tarifa social foi para a comunidade. A suspensão do corte de luz e gás, a regulação dos preços do botijão… Têm muitas medidas, muitas medidas. Naturalmente, tudo que está sendo feito em Desenvolvimento Social, está sendo para essas comunidades.”
NA REDE MUNICIPAL
A Prefeitura de São Paulo tem programa de distribuição solidária de cestas básicas e compensação pela merenda escolas, instalação de pias em comunidades, entre outras medidas.
O prefeito Bruno Covas afirmou nesta quinta (9) que não faz “distinção” entre favelas e bairros nobres: o planejamento para enfrentar a pandemia é o mesmo, focado na adaptação da rede hospitalar para suportar o pico da crise.
Confira aqui um resumo oficial das medidas anunciadas diariamente pelo governo do Estado para enfrentar a pandemia.
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