
Como Berkeley trataria as estatísticas sobre ganhos dos funcionários públicos
por L.D.
Mark Twain popularizou nos EUA o mantra, atribuído primeiro ministro britânico Benjamin Disraeli que existem três tipos de mentiras: lies, damned lies and statistics.
Dados da Universidade de Berkley de 1973 inicialmente pareciam apontar para a ocorrência de discriminação sexual na admissão de estudantes no outono de 1973. Uma vez que os dados foram desagregados, chegou-se à conclusão de que se houve algum viés, este foi pequeno e em favor das mulheres, que eram a maior parte d@s candidat@s nos departamentos de mais difícil ingresso. Ou seja, o maior número de homens admitidos se deu pelo fato de que estes concorreram, em maioria, ao ingresso em departamentos de menor interesse. A universidade quase foi processada por conta destes dados.
Pois o Brasil se prepara para atacar os marajás do funcionalismo público.
Matéria de O Globo reporta a existência de uma elite burocrática: 44% dos servidores recebem mais de R$ 10 mil mensais, pasmem!
Mais da metade desse grupo (53%) ganha entre R$ 10 mil e R$ 33,7 mil por mês, e 1% vai além, com super-salários, razão pela qual o Ministério da Economia apresenta os dados propondo uma reforma para acabar com este paraíso.
Eu inicialmente poderia até fazer algumas concessões e admitir algumas distorções aqui e acolá, mas isto eu faria para rebater uma reportagem honesta. Nenhuma palavra sobre a qualificação dos servidores???
Assim como na Universidade de Berkeley, a desagregação dos dados poderia revelar surpresas.
Primeiramente, qualquer estudo sério, para dizer que há um viés para cima nos salários do serviço público, trataria de estabelecer dois grupos amostrais de trabalhadores com diferentes escolaridades, habilidades, etc, um do setor privado e outro do setor público, comparar a média salarial entre os grupos em função dessa escolaridade, das habilidades cognitivas, e outros covariantes, para só então…
Para só então se chegar à conclusão de que nada se poderia afirmar com tal estudo, pois ainda assim este seria apenas uma fotografia do momento. Estes dados não podem ser utilizados para generalizar que há uma permanente discriminação entre trabalhadores do setor público e privado. Seria necessário um estudo contínuo, durante anos, passando por vários ciclos econômicos, retirando os eventuais componentes sazonais dos dados, suavizando etc, para só então…
Para só então não se chegar a conclusão alguma. Mesmo tal estudo seria apenas um estudo sobre os salários dos funcionários públicos e privados. Para se efetuar uma comparação justa, seria necessário comparar as produtividades de cada grupo, não os salários. Poderiam os funcionários públicos ser mais ou menos produtivos que os do setor privado. Supondo que fosse possível mensurar essa produtividade, e que se fizesse um estudo comparando estas produtividades e se chegasse a conclusão que os funcionários públicos são menos produtivos que os da iniciativa privada, só então poderíamos afirmar que…
Que este estudo também não quer dizer absolutamente nada. Claro, pois para se comparar as produtividades entre os grupos, seria necessário ajustar para as ferramentas utilizadas por cada grupo. Não se pode comparar a produtividade de um operador de escavadeira com a de uma pessoa com uma pá. A qualidade dos diagnósticos de um médico com uma máquina de ressonância magnética para um armado de um estetoscópio.
Uma vez feito este último ajuste, para as condições de trabalho dos dois grupos, aí sim poder-se-ia chegar a alguma conclusão: a de que este estudo ainda é apenas um estudo. Não serve pra mais nada além de um ponto de partida para um diagnóstico. O que fazer? Corte imediato dos salários do funcionalismo? Congelamento de salários do setor público para equiparar os níveis salariais entre os dois grupos no longo prazo? Aumentar a produtividade do setor público, através da melhora das ferramentas de trabalho? Ou aquecer a economia para aumentar a renda do trabalho privado, mantendo a renda do setor público, buscando uma equiparação entre os grupos?
Afinal, se o que se pretende é a busca da diminuição da desigualdade econômica, vamos tentar obtê-la através da diminuição da renda do trabalho de quem ganha mais? Não seria melhor aumentar a renda de quem ganha menos? Num país com uma baixíssima renda per capita, na oitava maior economia do mundo, com uma desigualdade de renda brutal, não me parece que o problema primordial seja reduzir os rendimentos dos funcionários públicos. Diga-se de passagem, aliás, no tal estudo foram excluídos os funcionários do Banco Central e da Abin? Não será isto um sintoma?
Faltou dizer que também não entrou na conta do ajuste o gasto com juros da dívida pública, o gasto dos nossos queridos representantes com procedimentos odontológicos estéticos, os gastos dos cartões de crédito corporativos sob sigilo no exterior, os banquetes do STF, etc.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Artigo perfeito, eu como sou da área de ciências da engenharia fico abismado com as besteiras estatísticas que são divulgados por todos os meios de comunicação, inclusive alguns meios ditos “progressistas”. A ânsia de ter um resultado que confirme a hipótese não é só na estatística, como trabalhei 36 anos com modelagem física de processos naturais (e ainda trabalho, mas sem ganhar nada!) já vi empresas de diversos tipos, estatais e privadas, tentando o que chamamos nos profissionais da área, tentando “torturar modelos”, ou seja, falsear os resultados para que eles deem os resultados esperados. Certa vez uma consultora de engenharia norte-americana, que queria vender para o cliente uma solução que empregaria um material caro e de venda exclusiva para dada empresa não deixou que fizéssemos um último ensaio que mostraria com clareza que a solução por eles proposta era cara e não daria boas soluções. Tiraram todo o pessoal de operação e pediram para que o relatório fosse modificado, como o meu nome como profissional não estava e não está a venda, fiz um relatório que desqualificava a solução proposta pela consultora norte-americana, resultado a solução não foi aprovada pelo cliente final e a consultora demorou dois anos para pagar a parcela final. Perdemos dinheiro, mas não a vergonha.
Reparei no estudo que vc se refere, que deve ser aquele do Banco Mundial, que a maior discrepância no gasto geral com o funcionalismo público está localizado no judiciário.
Ali sim, estão concentrados os maiores marajás do serviço público. São os maiores salários iniciais, os maiores salários em fim de carreira e um dos menores intervalos de tempo entre a admissão e o atingimento do topo da carreira.
Tem de mexer nesta caixa preta.
Sem entrar no mérito da qualificação dos funcionários públicos, a grande questão é que a discrepância existente entre os salários do dito andar de cima e o de baixo sempre possibilita está manobra diversionista por parte da mídia golpista.
Embora nossa moeda seja o real,somente para efeito de comparação, estes ditos altos salários são pouco maiores que o salário mínimo alemão e quase metade do piso informal suíço ( local bem conhecido dessa gente)
Estranhamente, estes que sempre se preocupam com os altos salários dos funcionários públicos, calam-se diante da astronômica rentabilidade dos bancos em nosso país, que chega a ser quase o dobro de países da envergadura da Alemanha e quase 3 vezes a francesa.
Não são os funcionários públicos que estão ganhando muito, são os trabalhadores em geral que estão ganhando pouco.
É preciso acabar com a indexação funcional onde culturalmente se coloca que função A deve ganhar X vezes mais que a função B. Os salários devem refletir as necessidades pessoais e a diferenciação não pode refletir o princípio escravocrata.
A mídia manipula para esconder seu real intento……sobrar mais verba para os próprios abocanharem no mercado financeiro……
Nunca vou levar a sério economistas, cientistas políticos (até porque isso não existe) e outros “Istas” enquanto não criticarem o MAIOR GASTO do orçamento que são os juros………. enquanto essa turma não tomar vergonha na cara, esse tipo de matéria é bazófia, cebolório, manipulação…..
O bizarro, é que essa mesma mídia reclama que o professor, os policiais, os bombeiros, etc, ganham mal……ora seus descarados…..decidam-se… é pra ganhar relativamente bem….ou é pra ganhar mal?????
Por que não seguir o teto salarial de $39.200,00? Dizem que em Minas Gerais magistrados ganham entre $100 e 140 mil, uma demência. A aposentadoria média dos servidores é de $30 mil em média? Absurdo. A corrupção dos privilégios precisa ter um fim.