Diário da Peste 8


Ontem a noite comecei a me perguntar porque estamos vendo tanta gente comprando centenas de rolos de papel higiênico. Não sou psicólogo, mas fiquei intrigado com esse comportamento que começou na Ásia e se repetiu nos EUA, Europa e no Brasil.

Qual é o denominador comum capaz de unir pessoas de culturas tão diferentes? Eis aqui a explicação que consegui dar a mim mesmo.

Talvez isso se trate de um “ato falho” freudiano. Enquanto supostamente querem se proteger, na verdade os ansiosos consumidores de papel higiênico querem dizer que em algum momento eles irão se distinguir dos simples mortais porque são capazes de manter suas bundas limpas.

A divisão do mundo entre ricos e pobres seria substituída pela entre “bundas limpas” e “bundas sujas”. Curiosamente a expressão “bunda suja” voltou a fazer parte de nosso cotidiano justamente por causa de Jair Bolsonaro
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/livro-resgata-um-bolsonaro-fa-de-chavez-e-malvisto-no-exercito.shtml.

Bolsonaro é presidente de direito (ele foi eleito), mas de fato ele já deixou de ser chefe de Estado e de governo. Isso ficou absolutamente claro durante a crise do COVID-19
https://blogdojuca.uol.com.br/uol_amp/2020/03/ninguem-obedece-o-capitao/?__twitter_impression=true. Ninguém mais obedece o mito e ele mesmo parece estar perdido. Produzir vídeos amadores com mensagens grotescas politicamente inúteis e cientificamente questionáveis não salvará a imagem dele.

Ao que parece esquerda e direita se uniram para isolar um presidente tóxico apoiado apenas por fanáticos religiosos e nazifascistas. A motivação desses dois grupos, entretanto, não é a mesma.

É preciso tomar cuidado ao avaliar a destruição da autoridade presidencial voluntariamente praticada por Jair Bolsonaro. Talvez ele esteja querendo transformar o Brasil num Estado Unitário submetido à uma família real (que pode ou não ser a dele).

Um renascimento do regime monárquico levaria à implantação do parlamentarismo, expulsando defitinitivamente o povo da arena política. A transferência do poder para o Legislativo beneficiaria muito uma maioria parlamentar hereditária composta pelos endinheirados e racistas que odeiam o povão.

A reação do povo brasileiro ao abandono durante a pandemia tem sido exemplar. Até o presente momento, salvo raras exceções, não temos visto casos de motins, pilhagens e batalhas de facções pelo controle de recursos que tendem a se tornar mais escassos à medida que a economia começar a ser paralisada.

Esse cenário de incerteza transitório colocou em evidência outra característica bem brasileira. Nosso tem ricos, mas não tem elite https://jornalggn.com.br/crise/o-brasil-tem-ricos-mas-nao-tem-elite/. Todavia, a pandemia também pode ser uma oportunidade para o surgimento e o fortalecimento de uma verdadeira elite nacional. Eu prefiro alimentar a esperança num futuro melhor após a pandemia. E você?

Fábio de Oliveira Ribeiro

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