Há uma semana, ‘Guerra do Dendê’ atingia momento crítico ao mobilizar a Força Nacional

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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O conflito no nordeste do Pará é chamado de 'Guerra do Dendê', mas as vítimas são contadas apenas entre os povos Tembé e quilombola

Registro feito por indígenas em novembro de 2022 mostra atuação de seguranças armados da Brasil BioFuels em Tomé-Acu (PA) – Reprodução/Twitter

Os chefes de estado presentes na Cúpula da Amazônia, que ocorreu em Belém (PA), entre os dias 8 e 9 deste mês, se depararam com a realidade crua da região à porta do encontro: indígenas do povo Tembé vinham sendo gravemente atacados e feridos por seguranças armados da empresa Brasil BioFuels (BBF).  

A BBF está instalada em territórios tradicionais quilombolas e do povo Tembé no município de Tomé-Açu e Acará, no nordeste do Pará. Se trata de uma multinacional que produz óleo de dendê, substância usada na produção de biocombustíveis. Desde a sua chegada e do monocultivo da palma, indígenas e quilombolas relatam um cotidiano de truculência. 

Seguranças privados da BBF, que, segundo os moradores, conforme apuração do jornal Brasil de Fato, são também policiais militares, promovem tocaias, afastam os indígenas e quilombolas com violência e quando são confrontados, atiram com armas de fogo contra os integrantes das comunidades tradicionais.

O conflito é chamado de Guerra do Dendê. No entanto, os povos indígenas e quilombolas são os únicos que acabam vitimados. O manejo tradicional que sempre garantiu o sustento e a reprodução física e social das comunidades, está sufocado pelo monocultivo controlado por empresas nacionais e estrangeiras.  

Onda de violência

A recente onda de violência começou em 14 de maio deste ano. O cacique Lúcio Gusmão Tembé foi atingido por um tiro no rosto e sobreviveu. Em 4 de agosto, enquanto acontecia o Diálogos Amazônicos, evento preparatório para a Cúpula da Amazônia, o jovem Kauã Tembé, de 18 anos, foi baleado.

Três dias depois, em 7 de agosto, um novo ataque deixou três baleados: Daiane, Felipe e Erlane, todos do povo Tembé. De acordo com informações da assessoria jurídica da Associação Indígena Tembé Vale do Acará, o tiro que alvejou o indígena pode ter vindo da Polícia Militar ou dos seguranças da BBF.

Para a imprensa, a BBF afirmou que a “equipe de segurança privada do Grupo BBF” agiu com o propósito de “conter a ação criminosa e resguardar a vida dos trabalhadores que estavam no local”.  

Avanço da Monocultura

O Ministério Público Federal (MPF) do Pará ressaltou, em solicitação ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do emprego da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) nos municípios de Tomé-Açu e Acará, que a intensificação de conflitos territoriais são decorrentes do avanço da monocultura de cultivo do dendê no nordeste paraense. 

De acordo com o MPF, os conflitos com as comunidades tiveram início com a instalação da Biopalma, antigamente controlada pela Vale, e se intensificaram com a compra dos ativos pelo grupo empresarial BBF.   

Além da insegurança vivida pelos grupos indígenas, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) apresentou denúncia ao MPF, em 16 de fevereiro de 2022, relatando a prática de ações de violação de direitos humanos contra famílias quilombolas do território do Alto Rio Acará.

O MPF citou, na recomendação, uma série de ilegalidades do empreendimento, como a não exigência, pelo Estado do Pará, de estudo de impacto ambiental e de estudo dos impactos aos indígenas para a instalação da empresa.

Denúncias levadas ao MPF

Povos indígenas e quilombolas da região apresentaram denúncia ao MPF relatando sucessivos episódios de uso ostensivo de força e poderio armado por funcionários da BBF, bem como por agentes policiais de segurança pública da localidade.

“A extrema gravidade dos fatos e o caráter sistemático e escalonado das violências infligidas em territórios sob histórica disputa entre os povos tradicionais e empreendimentos de exploração econômica faz com que haja a necessidade de adoção de providências institucionais urgentes para conter o agravamento dos riscos concretos a todos”, frisou o MPF.

Com informações do jornal Brasil de Fato

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