O programa TVGGN 20H recebeu, na última semana, a professora emérita pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Ermínia Maricato, para analisar o cenário climático e a chance de novas tragédias.
Ermínia chamou a atenção para o fato de que há muitos materiais técnicos, planos e diagnósticos sobre a questão ambiental para alertar as prefeituras em relação a possíveis tragédias causadas pelo clima. No plano Brasil 2040, por exemplo, a conclusão do estudo já indicava a possibilidade do aumento de chuvas extremas em 60% nos próximos anos.
Já a revista da Fapesp trouxe uma reportagem em 2023 com gráficos, alerta e estudos que indicam os locais mais suscetíveis a chuvas intensas, enquanto outros estariam condenados à seca.
“É impressionante a distorção, a desinformação. É triste para quem trabalha no ramo retormar, de vez em quando, os mesmo planos, fazer os mesmos alertas “, afirmou a urbanista.
Políticas habitacionais
A pesquisadora e urbanista ressaltou ainda que há muita informalidade e ilegalidade na questão fundiária, em que pessoas se apropriam de terras de forma indevida. O Pará, estado-exemplo de corrupção, tem duas vezes mais áreas registradas em cartórios do que efetivamente terrenos reais. “E O MST [Movimento dos Sem Terra] é o grande vilão dessa história”, indigna-se.
“Orientei um doutorado do Joaquim de Brito da Costa Neto, que me ensinou muito. Tem pedaços de terra aqui no estado de São Paulo que foram desapropriados quatro vezes para formar parques estaduais, porque tinham registros de terra dos locais”, lembra a docente.
Rio Grande do Sul
Já sobre o Rio Grande do Sul, estado em que a maioria dos municípios ficou em estado de calamidade, a reconstrução deve ser lenta e técnica.
“Temos na cidade de São Paulo 600 mil imóveis vazios, 11 milhões de vazios no Brasil. É tão extravagante a desigualdade, a discricionariedade na aplicação da lei, essa versão que penaliza, que criminaliza a vítima da falta de terra que vai morar nas áreas inundáveis, como acontece no Rio Grande do Sul”, comenta a urbanista.
Quando secretária da então prefeita Luiza Erundina em São Paulo, Ermínia Maricato conta que a gestão tirou todas as pessoas que estavam em área de risco após um deslizamento e as encaminharam para escolas. Em seguida, foi criado um programa de locação social para abrigá-las até a conclusão da construção de moradias seguras para os afetados.
“Você sabe que a recuperação do Rio Grande do Sul vai ser muito demorada. Nós precisamos dizer isso e a autoridade que não disser isso não merece autoridade e respeito. Precisamos fazer essa recuperação com muita competência, com uma gestão muito técnica e isso não pode ser rápido, se não vai ser sustentável”, comenta a urbanista.
Confira a entrevista completa na TVGGN:
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