
E o jogo continua. Fernando Haddad volta do exterior ostentando com orgulho o merecido prêmio conferido pela Latin Finance, uma editora de publicações financeiras sediada em Miami.
O prêmio conferido a Fernando Haddad é o de “Melhor Ministro da Fazenda da América Latina” e a Roberto Campos Neto, de “o Melhor Presidente do Banco Central”. O prêmio é concedido anualmente pela revista Latin Finance a um ministro da Fazenda que tenha se destacado por seu trabalho na área econômica. em favor do mercado.
Haddad foi premiado por sua “habilidade em fazer reformas, ajudadas por seu moderado e pragmático estilo”. A revista menciona o ambiente político polarizado e o crescimento econômico acima do esperado.
Enquanto ocorria a cerimônia, 6,5 milhões de empresas fecharam o mês de agosto inadimplentes, um recorde da série de inadimplência que existe desde 2016. Ou seja, é maior do que o terremoto de 2016, do que o período terrível de Michel Temer e Paulo Guedes.
Pode-se dizer que é herança do período. Mas nada foi feito para minorar a situação, a não ser o Desenrola, que nada custou ao sistema financeiro, por regularizar a situação de inadimplentes cujas dívidas já tinham sido lançadas nos balanços das instituições.
Na outra ponta, Haddad atua junto ao Supremo Tribunal Federal para impedir o aumento da remuneração do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. A justificativa é que o aumento implicaria também no aumento de custos do Minha Casa Minha Vida. Ou na necessidade do Tesouro complementar a diferença em R$ 15 bilhões.
Enquanto isto, o custo do financiamento do BNDES – modificado por Pérsio Arida no período Temer – continua intocado. O instrumento preferencial para aumento do investimento privado foi alterado para permitir ao mercado ampliar seus negócios atendendo a empresas necessitadas de recursos, em vez de acompanhar as taxas internacionais de financiamento de longo prazo – um custo que permitia às empresas brasileiras um mínimo de isonomia em relação às de outros países.
Ou seja, em vez de focar o tomador de financiamento – que ergue empresas, gera empregos, paga tributos -, a medida beneficiou o investidor que meramente adquire ativos depreciados, justamente pelo encarecimento do financiamento.
Agora, a taxa do BNDES é a soma da Selic + taxa de risco de crédito + taxa de intermediação financeira.
Com financiamento mais caro, as empresas – especialmente as descapitalizadas – tornam-se mais baratas para as grandes tacadas de aporte de capital pelo mercado.
Falta, ainda, a tacada final, aquela que permitirá a Haddad integrar definitivamente o hall da fama da Latin Finance: a redução do piso da saúde, tirando da base de cálculo os ganhos adicionais de receita. A lógica é simples: não se pode avançar sobre receitas que não se repetem anualmente.
E, para não estragar esse ambiente de festa, ainda conseguiu o feito de convencer Lula a não criticar mais o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, nem a pressionar pelo aumento do ritmo de queda da Selic. Afinal, como diz o douto Campos Neto, para vencer a inflação há a necessidade da “última milha”, que consiste em aumentar a diferença entre a Selic e a taxa de inflação esperada. Essa diferença se chama taxa de juros real. Se a inflação cai mais rapidamente que a Selic, aumenta a taxa de juros real. Mas Haddad, como Ministro da Fazenda do ano, deve ter sido convencido por Campos Neto de que a taxa de juros de equilíbrio no país aumentou. E que, se houver persistência, a inflação nunca mais voltará, mesmo porque não haverá nenhuma dessas chatices de empresas da economia real para atrapalhar a elucubração dos gênios do mercado.
Diz-se que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Em 2024 e 2026, quando explodir a reação da ultra-direita, Lula colocará um quadro negro na avenida Paulista, na qual Fernando Haddad explicará ao populacho rebelde a lógica de seu programa econômico. E exibirá o troféu de tetracampeão da Latin Finance.
E com a civilização definitivamente expurgada do país, Haddad terá tempo de ler o livro de Clara Mattei, sobre a lógica das políticas de austeridade.
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Pois bem!! O problema era o Ciro Gomes..????? Essa hora Ciro estaria resolvendo isso….Fernando Haddad tá casado com o Sistema Financeiro…Sempre foi sistema : unha e carne
Texto duro,mas necessário.Ser eleito pra fazer o mesmo ou não desagradar ninguém é impossível.
O PIB cresce acima do esperado e contingente numeroso de empresas estão inadimplentes. A economia brasileira é realmente cheia de surpresas. O BNDES foi criado com uma razão de ser, mas está sob a regência das limitações fiscais. É afetado pelo mal funcionamento do País, assim como tudo e todos. De tempo em tempo o País lamenta pelo resultado dos dez anos anteriores; tudo isso como fosse uma obra do acaso. Toma-se medidas sem dimensionar quais efeitos serão provocados. O Setor Público está engessado, o Setor Privado anêmico e um aponta para o outro tentando achar um culpado. Enquanto isso o País paga a conta.
Comprei meu trator financiado pelo BNDS. Menor taxa de juros do mercado. 7,5% ao ano.