Covid-19 – Máscaras, máscaras e máscaras, por Felipe Costa

Entre 20 países, a taxa de letalidade está em 1,1%. A taxa brasileira está em 2,1%, a Argentina, 1,4%; e Colômbia, 2,3%.

Covid-19 – Máscaras, máscaras e máscaras.

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em artigo anterior (aqui). Em escala mundial, já são 532 milhões de casos e 6,3 milhões de mortes. No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento. Entre 30/5 e 5/6, esses valores ficaram em 0,0947% (casos) e 0,0118% (mortes). A taxa de casos subiu pela nona semana consecutiva. É preocupante. Além da vacinação, é necessário retomar (pronta e vigorosamente) algumas medidas adicionais de proteção, notadamente o uso de máscaras.

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1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas na noite de ontem (5/6) [1], eis um balanço da situação mundial.

(A) – Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados estão a concentrar 73% dos casos (de um total de 531.913.170) e 66% das mortes (de um total de 6.298.936) [3].

(B) – Entre esses 20 países, a taxa de letalidade (para uma definição, ver Apêndice de artigo anterior) está em 1,1%. A taxa brasileira está em 2,1%. (Dois países vizinhos que também estão no topo da lista mostram os seguintes valores: Argentina, 1,4%; e Colômbia, 2,3%.)

(C) – Nesses 20 países, 368 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 94% dos casos. Em escala global, 506 milhões de indivíduos já receberam alta [4].

2. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (5/6), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 6.266 casos e 8 mortes – valores subestimados, infelizmente (ver nota 9). Teríamos chegado assim a um total de 31.159.335 casos e 667.005 mortes.

Na semana encerrada ontem (30/5-5/6), foram registrados 205.756 novos casos e 552 mortes. (Na semana anterior, 23-29/5, foram 162.359 casos e 826 mortes.)

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Em dois anos (2020-2022) de esforço visando monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia [5], sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. As duas tornaram a se desencontrar: a primeira escalou e segunda caiu.

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,0752% (23-29/5) para 0,0947% (30/5-5/6) – é o maior valor desde a última semana de março (ver a figura que acompanha este artigo) [6, 7].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,0177% (23-29/5) para 0,0118% (30/5-5/6) [6, 7].

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FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 5/6/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.

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4. CODA.

A taxa de crescimento no número de casos escalou pela nona semana consecutiva. É uma péssima notícia.

O que fazer? Em primeiro lugar, os governantes deveriam descruzar os braços e agir. A grande imprensa deveria fazer a mesma coisa. (Ao que parece, no entanto, esta última prefere brincar ou então trabalhar contra a saúde pública.)

Medidas adicionais de proteção deveriam ser pronta e vigorosamente retomadas. Não custa repetir: A vacinação por si só não irá nos tirar do atoleiro em que estamos. Por quê? Há mais de um motivo. Dois deles são os seguintes:

(1) A imunidade conferida pela vacina não é permanente. O sistema imunológico de um recém-vacinado é prontamente induzido a iniciar a produção de anticorpos. O ritmo de produção cresce até atingir um valor máximo, a partir do qual o ritmo de produção começa a cair. Mais um pouco e o nível de proteção também cai. Na ausência de infecções, a produção de anticorpos se torna um luxo desnecessário. Assim, por razões de economia orçamentária do nosso corpo, as defesas contra o vírus da Covid-19 (chamado de SARS-CoV-2) são reduzidas a um arsenal mínimo. As doses de reforço nada mais são do que estímulos que, periodicamente, despertam ou reorientam um sistema de defesa adormecido ou em frangalhos.

(2) A campanha de vacinação não é instantânea – i.e., não alcança a população-alvo imediatamente. Ao contrário, a depender do tamanho da população e do ritmo de vacinação, o intervalo necessário para concluir uma campanha pode ser longo. O ideal, notadamente em momentos de crise (como o atual), seria concluir a campanha tão rapidamente quanto possível – digamos, em um intervalo inferior ao período de imunidade que é conferido pela vacina. Caso contrário, corremos o risco de cair em um círculo vicioso. Veja: se a proteção conferida por uma vacina dura, digamos, seis meses, mas a campanha leva um ano para ser concluída (i.e., levamos um ano para vacinar, digamos, 80% de toda a população), haverá aí uma janela de seis meses durante a qual indivíduos já vacinados correrão de novo o risco (nada desprezível) se serem infectados e adoecerem. Podemos lutar contra isso? Sim, podemos. Como? Há mais de um jeito. Um deles é trabalhar para que a campanha ganhe força. Mas também podemos baixar as chances de infecção. Como? Ora, mantendo de pé as nossas velhas conhecidas: as medidas de proteção não farmacológicas. Uma delas funciona bem e é quase de graça: o uso compulsório de máscaras faciais, sobretudo em lugares fechados. Neste momento, portanto, a palavra de ordem a ser resgatada deveria ser esta: Máscara.

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço [email protected]. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 10 grupos: (a) Entre 80 e 85 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 30 e 35 milhões – Brasil; (d) Entre 25 e 30 milhões – França e Alemanha; (e) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido; (f) Entre 15 e 20 milhões – Coreia do Sul, Rússia, Itália e Turquia; (g) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (h) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã; (i) Entre 8 e 10 milhões – Argentina, Japão e Países Baixos; e (j) Entre 6 e 8 milhões – Austrália, Irã, Colômbia, Indonésia e Polônia.

Olhando apenas para as estatísticas (casos e mortes) das últimas quatro semanas, eis um breve resumo da situação atual: (i) em números absolutos, a lista segue a ser encabeçada pelos Estados Unidos, com 2,87 milhões de novos casos; (ii) a lista dos cinco primeiros tem ainda os seguintes países: Taiwan (2,07 milhões), Alemanha (1,20), Austrália (1,18) e Japão (836 mil). O Brasil (579 mil) está na 10ª posição; e (iii) a lista dos países com mais mortes segue sendo encabeçada pelos EUA (8,75 mil); em seguida aparecem Alemanha (2,85 mil), Brasil (2,61), Reino Unido (2,555) e Rússia (2,545).

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Como comentei em ocasiões anteriores, fui levado a promover a seguinte mudança metodológica: as estatísticas de casos e mortes continuam a seguir o painel Mapping 2019-nCov, enquanto as de altas estão agora a seguir o painel Worldometer: Coronavirus.

[5] Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea mencionada na nota 3.

[6] Entre 27/12/2021 e 5/6/2022 (para as semanas anteriores, ver aqui), as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1), 0,6544% (31/1-6/2), 0,5022% (7-13/2), 0,3744% (14-20/2), 0,2812% (21-27/2), 0,1389% (28/2-6/3), 0,1565% (7-13/3), 0,1268% (14-20/3), 0,1019% (21-27/3), 0,0750% (28/3-3/4), 0,0727% (4-10/4), 0,0474% (11-17/4), 0,0457% (18-24/4), 0,0494% (25/4-1/5), 0,0515% (2-8/5), 0,0578% (9-15/5), 0,0478% (16-22/5), 0,0752% (23-29/5) e 0,0947% (30/5-5/6); e (2) mortes: 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1), 0,1212% (31/1-6/2), 0,1388% (7-13/2), 0,1320% (14-20/2), 0,1071% (21-27/2), 0,0661% (28/2-6/3), 0,0642% (7-13/3), 0,0463% (14-20/3), 0,0363% (21-27/3), 0,0275% (28/3-3/4), 0,0240% (4-10/4), 0,0152% (11-17/4), 0,0148% (18-24/4), 0,0187% (25/4-1/5), 0,0135% (2-8/5), 0,0167% (9-15/5), 0,0152% (16-22/5), 0,0177% (23-29/5) e 0,0118% (30/5-5/6).

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes da referência citada na nota 3.

[8] Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

Cabe ressaltar que o ritmo da vacinação oscilou muito ao longo da campanha. Levamos 34 dias (24/8-27/9), por exemplo, para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 6/6, este percentual ainda está em 86,02%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

[9] Ontem (5/6), apenas 4 unidades federativas (Pará, Paraná, Pernambuco e Santa Catarina) tiveram suas estatísticas divulgadas pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Juntas, essas 4 unidades respondem por algo como 19% dos casos e 16% das mortes registradas em todo o país. O que me leva a propor ao menos os seguintes ajustes para as estatísticas de ontem: 26.183 casos e 43 mortes deixaram de ser informados.

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Redação

1 Comentário

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  1. > A taxa de crescimento no número de casos escalou pela nona semana consecutiva.
    > É uma péssima notícia.

    A notícia não é tão ruim quanto você parece sugerir.

    As pessoas estão pegando COVID aos milhões, mas o prognóstico é excelente: a COVID em 2022 não é uma ameaça tão assustadora quanto era em 2020.

    A taxa de letalidade que você apresenta, de 2,1%, inclui os números dos primeiros dois anos, que são imprestáveis para calcular a taxa de letalidade atual.

    De acordo com seus números mais recentes — 205.756 novos casos e 552 mortes — a taxa de letalidade atual é bem menor do que você sugere: 0.3%.

    E isso sem contar a subnotificação, dado que muitos dos casos, em pessoas vacinadas, são assintomáticos ou com sintomas leves.

    A pandemia tornou-se endêmica; precisamos aprender a conviver com ela.

    Não há o menor sentido em adotar medidas de confinamento.

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