Covid-19 – Como e por que a vacinação por si só não irá nos tirar do atoleiro em que estamos, por Felipe Costa

A campanha de vacinação exige tempo, de sorte que o percentual mínimo que precisa ser vacinado não é atingido sem que a imunidade dos primeiros comece a ceder.

Covid-19 – Como e por que a vacinação por si só não irá nos tirar do atoleiro em que estamos.

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em artigo anterior (aqui). Em escala mundial, já são 529 milhões de casos e 6,29 milhões de mortes. No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento. Entre 23 e 29/5, os valores ficaram em 0,0752% (casos) e 0,0177% (mortes). Ambos subiram em relação aos valores da semana anterior. Não custa repetir: Além da vacinação, é necessário manter de pé algumas medidas de proteção não farmacológicas, notadamente o uso de máscaras.

*

1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas na noite de ontem (29/5) [1], eis um balanço da situação mundial.

(A) – Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados estão a concentrar 73% dos casos (de um total de 528.876.774) e 66% das mortes (de um total de 6.287.578) [3].

(B) – Entre esses 20 países, a taxa de letalidade (para uma definição, ver Apêndice do artigo anterior) está em 1,1%. A taxa brasileira segue em 2,2%. (Dois países vizinhos que também estão no topo da lista mostram os seguintes valores: Argentina, 1,4%; e Colômbia, 2,3%.)

(C) – Nesses 20 países, 366 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 94% dos casos. Em escala global, 502 milhões de indivíduos já receberam alta [4].

2. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (29/5), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 8.195 casos e 62 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 30.953.579 casos e 666.453 mortes.

Na semana encerrada ontem (23-29/5), foram registrados 162.359 novos casos e 826 mortes. (Na semana anterior, 16-22/5, foram 102.830 casos e 709 mortes.)

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Em dois anos (2020-2022) de esforço visando monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia [5], sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas subiram em relação aos valores da semana anterior (ver a figura que acompanha este artigo).

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,0478% (16-22/5) para 0,0752% (23-29/5) – o maior valor em nove semanas [6, 7].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, subiu de 0,0152% (16-22/5) para 0,0177% (23-29/5) – o maior valor em quatro semanas [6, 7].

*

FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 29/5/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.

*

4. CODA.

As médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) tornaram a subir. E muito.

Não custa repetir: O início da campanha de vacinação teve um impacto tremendo nas estatísticas e nas métricas. Após um esperado lapso inicial, os números de casos e de mortes passaram a cair. E de modo expressivo e consistente. Fenômeno semelhante foi observado em outros países mundo afora.

Todavia, a vacinação por si só não irá nos tirar do atoleiro em que estamos. Por quê? A explicação é relativamente simples: (i) A imunidade induzida pela vacinação não é perfeita nem permanente; e (ii) A campanha de vacinação exige tempo, de sorte que o percentual mínimo que precisa ser vacinado não é atingido sem que a imunidade dos primeiros comece a ceder.

Levando em conta (i) e (ii), não é difícil perceber que a campanha de vacinação tem de ser rápida e massiva. De resto, devemos atentar para uma velha recomendação [8]: Além de manter a campanha em ritmo acelerado, é necessário manter de pé algumas medidas de proteção não farmacológicas, notadamente o uso de máscaras.

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço [email protected]. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 10 grupos: (a) Entre 80 e 85 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 30 e 35 milhões – Brasil; (d) Entre 25 e 30 milhões – França e Alemanha; (e) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido; (f) Entre 15 e 20 milhões – Coreia do Sul, Rússia, Itália e Turquia; (g) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (h) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã; (i) Entre 8 e 10 milhões – Argentina, Japão e Países Baixos; e (j) Entre 6 e 8 milhões – Irã, Austrália, Colômbia, Indonésia e Polônia.

Olhando apenas para as estatísticas (casos e mortes) das últimas quatro semanas, eis um breve resumo da situação atual: (i) em números absolutos, a lista segue a ser encabeçada pelos Estados Unidos, com 2,62 milhões de novos casos; (ii) a lista dos cinco primeiros tem ainda os seguintes países: Taiwan (1,70 milhão), Alemanha (1,43) e Austrália (1,26) e Japão (913 mil). O Brasil (497 mil) está na 10ª posição; e (iii) a lista dos países com mais mortes voltou a ser encabeçada pelos EUA (10,68 mil); em seguida aparecem Reino Unido (3,58 mil), Alemanha (3,40), Itália (3,04) e Rússia (2,9). O Brasil (2,66 mil) está na 6ª posição.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Como comentei em ocasiões anteriores, fui levado a promover a seguinte mudança metodológica: as estatísticas de casos e mortes continuam a seguir o painel Mapping 2019-nCov, enquanto as de altas estão agora a seguir o painel Worldometer: Coronavirus.

[5] Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea mencionada na nota 3.

[6] Entre 27/12/2021 e 29/5/2022 (para as semanas anteriores, ver aqui), as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1), 0,6544% (31/1-6/2), 0,5022% (7-13/2), 0,3744% (14-20/2), 0,2812% (21-27/2), 0,1389% (28/2-6/3), 0,1565% (7-13/3), 0,1268% (14-20/3), 0,1019% (21-27/3), 0,0750% (28/3-3/4), 0,0727% (4-10/4), 0,0474% (11-17/4), 0,0457% (18-24/4), 0,0494% (25/4-1/5), 0,0515% (2-8/5), 0,0578% (9-15/5), 0,0478% (16-22/5) e 0,0752% (23-29/5); e (2) mortes: 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1), 0,1212% (31/1-6/2), 0,1388% (7-13/2), 0,1320% (14-20/2), 0,1071% (21-27/2), 0,0661% (28/2-6/3), 0,0642% (7-13/3), 0,0463% (14-20/3), 0,0363% (21-27/3), 0,0275% (28/3-3/4), 0,0240% (4-10/4), 0,0152% (11-17/4), 0,0148% (18-24/4), 0,0187% (25/4-1/5), 0,0135% (2-8/5), 0,0167% (9-15/5), 0,0152% (16-22/5) e 0,0177% (23-29/5).

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes da referência citada na nota 3.

[8] Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

Cabe ressaltar que o ritmo da vacinação oscilou muito ao longo da campanha. Levamos 34 dias (24/8-27/9), por exemplo, para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 30/5, este percentual ainda está em 85,92%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

* * *

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Excelente artigo. Porém, muito técnico. Para ser útil e pedagógico precisa ser explicado de forma mais fácil de entendimento.
    O parágrafo a seguir está pessimo: “A explicação é relativamente simples: (i) A imunidade induzida pela vacinação não é perfeita nem permanente; e (ii) A campanha de vacinação exige tempo, de sorte que o percentual mínimo que precisa ser vacinado não é atingido sem que a imunidade dos primeiros comece a ceder.”

  2. Arranjaram um cosplay de Átila Iamarino? Pelo menos ele é engraçado…
    Um texto meio que jabazeiro, só para vender livros.
    E mais: linguagem ABNT, etc não é corolário de eficiencia, vide o ridículo mote ”Como e por que a vacinação por si só não irá nos tirar do atoleiro em que estamos.” (alguém falou isso, por acaso?)

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador