7 em cada 10 moradores de favelas têm difícil acesso a exames e médicos para combater o câncer

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Em pesquisa divulgada no 13º Fórum Nacional Oncoguia, a desigualdade é o principal gargalo para o diagnóstico e prevenção da doença

Foto: Wilson Dias

7 em cada 10 brasileiros que moram em favelas do Brasil, relatam dificuldades para ter acesso ao diagnóstico e prevenção do câncer. A lentidão para realizar exames e se consultar com especialistas são os principais fatores apontados pela pesquisa divulgada nesta terça (09), no 13º Fórum Nacional Oncoguia, em Brasília.

O estudo “Percepções e prioridades do câncer nas favelas brasileiras” foi realizado pelo Data Favela e o Instituto Locomotiva, que ouviu 2.963 pessoas no início deste ano, de todas as regiões do país, sendo a maioria de raça negra, e de classes D e E.

Os gargalos nas favelas

Apesar do medo de descobrir a doença, relatado por 65% dos entrevistados, 69% têm consciência da importância da prevenção, mas não têm acesso a equipamentos e instituições de saúde adequadas. 

Além disso, se deslocar até o local da consulta também é uma outra problemática. 81% dos moradores afirmam que levam até uma hora para chegar nas UBSs e UPAs, e, quando chegam, os exames tardam para serem agendados e realizados, segundo 73% dos moradores das favelas que responderam a pesquisa.

Para Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, apesar dos problemas enfrentados pelos moradores serem estruturais, o câncer não tem tempo para esperar que se resolvam, “O câncer não vê classe, mas o tratamento vê”. 

A desigualdade é fator preponderante para a prevenção e diagnóstico, 82% dos respondentes dependem exclusivamente do SUS e 91% têm escolaridade até o ensino médio, além de 84% dos moradores de favelas terem o câncer em seu círculo social.

Luciana Holtz, presidente e fundadora do Instituto Oncoguia, diz que há a necessidade de melhorar o acesso e a disponibilidade de profissionais e serviços para a população. 

“E paralelamente, temos que pensar em ações que minimizem as barreiras econômicas, sociais e culturais que aparecem de forma prioritária na pesquisa: 85% concordam que se tivessem mais dinheiro e 44% que se tivessem com quem deixar os filhos, que poderiam fazer exames de rotina com mais frequência. Mais da metade ainda tem medo do diagnóstico do câncer”, afirma.

Querer não é poder

Apesar dos gargalos apontados, em relação à percepção dos brasileiros sobre o câncer, 85% revelam que melhores condições financeiras ajudariam a cuidar melhor da própria saúde, o que possibilitaria a realização de exames de rotina com maior frequência.

Além disso, 44% dos pais – sendo 58% mães com filhos de até 2 anos – afirmam que se pudessem deixar os filhos com alguém, também se cuidariam melhor. “Se eu tivesse com quem deixar meus filhos eu poderia cuidar melhor da minha saúde, fazendo exames de rotina com maior frequência”. 

E o que precisa ser feito?

Para os entrevistados, 77% priorizam por mais informação, como espaço em serviços de saúde para tirar dúvidas sobre o assunto e divulgação dos programas e ações governamentais existentes para prevenção e controle do câncer, além de campanhas e eventos sociais sobre os serviços disponíveis e conscientização da doença.

O investimento em saúde também foi apontado por 67% dos respondentes, avançar em instituições de saúde nas comunidades e mais médicos e profissionais de saúde disponíveis perto de casa, além de 42% citarem a ampliação de formas de cuidado, como o acompanhamento frequente e contínuo realizado por agentes de saúde.

“Precisamos olhar com muito mais atenção e sensibilidade para essas pessoas que estão nos dizendo que, se tivessem mais acesso à serviços e médicos, se cuidariam melhor”, afirma Luciana Holtz. 

O Fórum

O Fórum Nacional debate anualmente sobre os principais desafios enfrentados pelos pacientes com câncer no Brasil, reunindo grandes nomes da Oncologia do SUS e da Saúde Suplementar, e políticos envolvidos na causa, além de sempre dar voz aos próprios pacientes durante o evento para que compartilhem suas próprias experiências.

Neste ano, estão em pauta as desigualdades sociais no acesso à saúde e ao cuidado efetivo; dificuldades para garantir a detecção precoce do câncer e barreiras no acesso ao tratamento rápido e efetivo no SUS e na saúde suplementar. 

O Instituto Oncoguia 

O Oncoguia é uma ONG que visa informar, apoiar e defender os direitos dos pacientes com câncer há mais de 10 anos criada pela psico-oncologista, Luciana Holtz, e um grupo de especialistas em saúde. 

O Instituto foi o segundo passo dado após a criação do portal Oncoguia, referência para se combater informações disponíveis na internet que não são de confiança. 

Hoje, além do Portal de informação e Voluntariado, o Instituto possui um serviço de atendimento gratuito que presta suporte ao paciente, familiar e a quem mais precisa de orientação sobre a doença e serviços disponíveis tanto no SUS quanto na Saúde Suplementar, e, benefícios, como por exemplo, direito ao FGTS e isenção no IR.

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