Como Temer pode ser derrubado e o Congresso eleger um novo presidente

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Se atiçar as críticas do mercado e, consequentemente, dos membros do quarto poder que ajudaram a criar o clima para o impeachment, Temer invocará para si o mesmo veneno usado contra Dilma

Jornal GGN – A ação que o PSDB apresentou à Justiça Eleitoral para cassar a chapa eleita em 2014 pode virar um grande trunfo contra o presidente em exercício Michel Temer (PMDB). Hoje, a ação corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem a menor chance de ser julgada antes da resolução do impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Senado. Há quem avalie que se Dilma sair vitoriosa dessa votação, programada para a segunda semana de agosto, ela correre o risco de ser cassada por abuso de poder econômico na campanha, junto com Temer, mais adiante. Mas sem Dilma na frente, a ação é um risco apenas para o interino e, com ajuda do calendário, viabilizaria uma nova eleição presidencial. Mas com o Congresso, e não o povo, como protagonista.

O roteiro para isso vem ganhando forma com os avisos que as forças que ajudaram a derrubar Dilma têm enviado a Temer.

Ontem, por exemplo, o jornal Valor Econômico publicou um artigo de Nelson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, chamado “Confiança pode expirar em novembro”, dando claramente um chacoalhão em Temer. A paciência do deus mercado esgotará tão logo terminem o impeachment, as Olimpíadas e as eleições municipais. Depois disso, ou Temer entrega o que é esperado – um duro ajuste fiscal acompanhado de reformas “impopulares”, mas “necessárias” para que o Brasil retorne à via do “desenvolvimento sustentável” – ou a confiança na capacidade do interino tirar o País da crise começará a cair.

Nesta quinta (28), o colunista José Roberto de Toledo, do Estadão, aponta que o descontentamento com Temer na economia pode criar o clima para pressionar a cassação do interino via TSE.

No artigo “Sonho de uma noite de inverno”, Toledo explica que a população, que não ajudou a eleger Temer presidente da República, não alimentou, de início, muitas expectativas em relação ao peemedebista. Mas isso está mudando, como demonstram as últimas pesquisas de opinião onde os índices de rejeição a Temer crescem, enquanto o apoio ao impeachment de Dilma cai.

“A disputa eleitoral eleva a esperança e aumenta a cobrança sobre o vencedor. Mas, quando o presidente é um vice que muita gente nem sequer sabia o nome, a expectativa é baixa. É o que aconteceu com Temer: a desinformação produziu baixa expectativa, o que garantiu um período de carência. Há sinais, todavia, de que a carência de Temer pode estar vencendo. A pesquisa de julho do instituto Ipsos sobre o desempenho do interino mostrou um crescimento de 43% para 48% na taxa de ruim e péssimo, em comparação ao mês anterior. Também houve queda no apoio ao impeachment de Dilma, de 54% para 48%.”

Segundo Toledo, “são poucos pontos porcentuais de diferença e poucas pesquisas para se fazer projeções”, e é “preciso pelo menos quatro pontos na curva, com oscilações sempre na mesma direção, para caracterizar uma tendência” de rejeição crescente a Temer. “Ou seja: só em setembro vai se tirar a prova. Até lá, já terão passado Olimpíada e impeachment. Temer não terá mais desculpas para deixar de entregar resultados”, alerta.

Os resultados, segundo Nilson Teixeira, estão diretamente ligados à aprovação, no Congresso, de “medidas econômicas fortes”, como “uma profunda reforma da Previdência, o contingenciamento de despesas obrigatórias, a flexibilização da legislação trabalhista, a reversão de renúncias tributárias, o aumento de impostos e a adoção de um vasto programa de privatização e concessão de serviços públicos.”

“Ao contrário dessa estratégia”, continua Teixeira, Temer “tem apoiado decisões que contrariam a consolidação fiscal, como os reajustes de salários para a elite do funcionalismo público, a ampliação do Simples, a elevação do benefício do Bolsa Família, a não compensação de eventual déficit de entes regionais pelo governo central e a renegociação da dívida dos Estados.”

O economista indica que o mercado compreende e “julga razoável” que Temer tenha deixado boa parte das medidas impopulares que precisa aprovar para depois do impeachment, numa estratégia para afastar a possibilidade de derrota. Há também alguma dose de respeito com o calendário das Olimpíadas e das eleições, que ajudarão a esvaziar o Congresso nas próximas semanas e, assim, dificultar a aprovação de matérias econômica. Mas ao término desses eventos, o prazo de Temer, que já está “contando”, começará a “acabar”.

Se atiçar as críticas do mercado e, consequentemente, dos membros do quarto poder que ajudaram a criar o clima para o impeachment, Temer invocará para si o mesmo veneno usado contra Dilma. A deterioração da imagem de seu governo pode casar com o julgamento da ação de cassação de mandato eleitoral que corre no TSE, hoje presidido por Gilmar Mendes. O destino de Temer será a queda, a despeito da alegação de que o caixa de campanha do PT era um, e o do PMDB, outro.

“Como se sabe, se o cargo ficar vago depois de ultrapassada a metade do mandato presidencial, cabe a um mistão de deputados e senadores escolher o novo presidente. É um sonho para os congressistas, capaz de umedecer o mais árido dos invernos brasilienses. Se para manter Michel Temer no poder eles já conseguiram nomear quase todo o Ministério, com os respectivos cargos de segundo e terceiro escalão, imagine-se quais façanhas não alcançariam se pudessem renegociar seus votos com o biônico?”, assinalou Toledo.

“Por ora, é apenas o sonho de uma noite de inverno brasiliense. O TSE não demonstra pressa em julgar as contas da chapa Dilma/Temer. O mercado financeiro torce e trabalha pelo futuro ex-vice, junto com boa parte do empresariado. Tem Olimpíada, julgamento do impeachment de Dilma Rousseff no Senado e eleição municipal a congestionar o calendário. O colégio eleitoral não está nem sequer em pauta. Mas pode vir a estar. Vai depender, como sempre, da economia – e de seus obscuros ou brilhantes reflexos na popularidade do presidente.”

Resta saber se Temer terá jogo de cintura para emplacar todos os projetos demandados pelas forças que o colocaram no poder. Isto se o impeachment for consolidado e a tese de novas eleições presidenciais com o povo como protagonista, enterrada.
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

19 Comentários

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  1. Vou inventar!

    Eleição poderia ser como serviços Self-service…

    Num prato os presidenciáveis, noutro prato os vice-presidentes, noutro senados e outros seus suplentes e assim sucessivamnete…

    EU NUNCA ESCOLHERIA MICHEL TEMER!

    Politica tem coisas CONTRA SUA VONTADE!

  2. “SE” atiçar??
    Minha gente,
    “SE” atiçar??

    Minha gente, a decisão sobre a chapa está nas mãos de Gilmar Mendes – o mesmo que chama Serra de “meu presidente”, e está cozinhando o caso em fogo lento.

    O que mais vocês precisam para entender o que ocorre?

  3. políticos ou politiqueiros picaretas?

    agora sim podemos ficar sabendo o que temos, não só como Política, como Justiça (eleitoral) também

    deixando claro que enquanto a justiça comum avançar sobre a Política não teremos condições de sair de crise alguma

  4. SELIC subindo e o Brasil falindo

    Só uma coisa mantém o Temer no poder e não é : “Os resultados, segundo Nilson Teixeira, estão diretamente ligados à aprovação, no Congresso, de “medidas econômicas fortes”, como “uma profunda reforma da Previdência, o contingenciamento de despesas obrigatórias, a flexibilização da legislação trabalhista, a reversão de renúncias tributárias, o aumento de impostos e a adoção de um vasto programa de privatização e concessão de serviços públicos.””

    O que garante o Temer é ele continuar a espoliar o Brasil de  forma crescente, com o aumento da pornografica taxa de juros que pagamos.

    Selic Aumentando, Temer se segurando KKKKKK!!!!!

  5. Ironia do destino

    No passado era necessario a atuação dos militares para que a elite pudesse dar um golpe de estado. O judiciario, normalmente, apenas convalidava e legitimava o novo regime. Agora, a america latina criou um novo rito de golpes, feito unica e exclusivamente pelo judiciario.

    É uma vergonha que o judiciario, que deveria defender a constituição e a legalidade, estimule o caos, uma guerra institucional entre os 3 poderes e a luta de classes. 

  6. Edivaldo Dias de Oliveira1

    Edivaldo Dias de Oliveira

    1 minuto ·  

    Já escrevi sobre a importancia de Lula, mas não apenas ele, recorrerem às cortes internacionais, Especialmente ao TPI – Tribunal Penal Internacional ou Tribunal de Roma, órgão ligado a ONU que julga crimes contra a humanidade, que é o crime de que está sendo vítima o Lula e outros companheiros.

     URGENTE: Lula recorre à ONU contra ‘abusos de poder’ de Moro e da Lava JatoOs advogados de Lula anunciaram nesta quinta em Londres que ele entrou com um recurso no Comitê de Direitos Humanos da ONU para se proteger dos “abusos de…DIARIODOCENTRODOMUNDO.COM.BR  

     

  7. Enquanto o Banco Central

    Enquanto o Banco Central estiver jogando dinheiro, diariamente, no saco sem fundo dos bancos e quetais, o Dólar vai continuar subindo, a “indústria” brasileira permanecerá fingindo que produz e os bancos continuarão transferindo grande parte da arrecadação do País para seus próprios bolsos. E se manterão fingindo de mortos.

    Isto se dá através daquela “jogada” conhecida no meio dos mercadores do câmbio como “ração” diária dos bancos – a tal que se disfarça com a alcunha de “swaps cambiais”, mas que não passa de uma mal-disfarçada transferência direta de dinheiro do País para os bancos e agentes financeiros do Brasil.

    Em que pesem as declarações feitas pelo BC há um pouco tempo atrás de que os tais “swaps” renderam lucro ao País (SIM, se pensarmos em alguns meses do início deste ano e NÃO em todos os meses dos últimos TRÊS ANOS, pelo menos – porque se o dólar sobe, o Brasil perde e ele não desce de verdade há muito!), a verdade é que essa farra-do-boi (onde deve haver muitos “outros” fazendo sua “boquinha” também) parece que não vai parar tão cedo.

    Mas os prejuízos vão continuar ainda por muito tempo e os que sempre ganharam vão ficar felizes… e caladinhos (até que a farra se acabe – se é que vai acabar).   

    1. Isto sem falar…

      No que os Bancos devem à Receita Federal. Mas a CPI do Carf parece que acabou ? Assim como a da FIFA, do HSBC e Panamá Papers. Essa gente nunca é pega mesmo.

  8. A globo já expediu o mandado de prisão contra Lula

    faz parte do plano golpista impixar Lula, se possivel prende-lo, a globo já despachou a ordem de prisão pro mouro cumprir…

    moro

  9. e o povo??

    Teixeira e Roberto Toledo poderiam questionar o tico de um com o teco do outro como pretendem atrair o dinheiro de fora, por natureza covarde e rápido nas fugas, em um país de ditadura bananeira tabajara, com regras e leis escritas conforme os interesses do grupo dominante daquele momento.

    Estabilidade, confiança, ordem, progresso, otimismo etc. toda esta adjetivação cabe numa novela da globo, os russos que não foram consultados podem exigir dedos e anéis.

    A casa grande que outrora espertamente colocou os milicos para o serviço planejado, agora com outros tempos e outras FAz fez do pretenso passo para o futuro uma queda mortal no vazio.

  10. Trevas

    À partir de janeiro, pelo colégio eleitoral, o “cidadão” Cunha, que tem no bolso parte relevante do parlamento poderá, sem ter seus direitos cassados, ser eleito presidente desta república.

    Delírio? Alucinação?… Pesadelo, sem dúvida.

    1. E se tu me perguntasse hoje o

      E se tu me perguntasse hoje o que eu acho dessa possibilidade, eu daria uma enorme gargalhada e dir-te-ia: como seria bom que isso acontecesse.

  11. Falando em quarto poder me

    Falando em quarto poder me ocorre que seria interessante jogar uma luz no quinto poder: o poder econômico. Como é que esse poder funciona? Que métodos tem usado para meter o bedelho nos outros quatro poderes? Que é um poder, isso é claro… E que está por trás de quase todos os golpes também parece óbvio. E que mesmo estando por trás – ou por isso mesmo – tem conseguido se soprepor aos demais poderes, bem… é só ver como as coisas estão.

    Se bem que falar disso é tabu em estados que admitem o capitalismo como possibilidade de meio de produção como o nosso. Não me parece que as pessoas estejam muito a fim de olhar para essa questão. Será? Mas todo mundo sabe que os EUA, todo-poderosos, perdeu a guerra no Vietnã porque o inimigo sabia se esconder na própria casa. Aquilo sobre o que não há clareza é muito perigoso.

    1. “”Estados que admitem o

      “”Estados que admitem o capitalismo””, curioso, quais Estados NÂO admitem o capitalismo? Que eu saiba dois:

      Cuba e Coreia do Norte. Segundo o autor esses são a regra, os demais 217 Estados são a exceção.

      1. Ouse

        Isso mesmo, caro André, capitalismo é uma opção e não algo natural e inevitável, como se fosse a única possibilidade. Um estado democrático pode admitir que as relações humanas para o trabalho se estabeleçam dessa forma ou pode não admitir.

        O Capitalismo tem uns 200, 250 anos no máximo. É apenas uma fase que estamos vivendo. E como você bem pontou, há sociedades que não admitem e vivem muito bem assim. Bem… não sei se muito bem. Mas só louco diria que em sociedades que admitem o Capitalismo se vive tão bem assim.

        É apenas uma opção. E não há apenas duas, Capitalismo e Comunismo, há infinitas possibilidades e variações, limitadas apenas pela nossa prática. Questão de ir tentando… Como disse Millôr, “o cara que inventou o alfabeto era analfabeto”.

  12. Acho que são as caças às

    Acho que são as caças às bruxas, somadas às outras medidas antipáticas tão badaladas que vão produzir revoltas na população, mesmo nessa que ainda nem sabe o que poderá acontecer com sua vida num futuro próximo. 

    Temer sabe, e já li coisa do gênero, que ele pode, muito mais que qualquer presidente, ser o mais desagradável, se, em princípio, não está visando se candidatar a nada. Aí, a gente pode pensar também se, em não pensar em se candidatar, ele não pensa, então, em por emenda constitucional dilatar seu mandato, e a gente ter que suportar esse cara de pau por mais tantos outros anos.

    Com ese conresso que está aí tudo é possível.

  13. Por incrível que pareça, 2017

    Por incrível que pareça, 2017 pode ser um ano muito pior do que esse. Será uma guerra suja, pois gente como Serra fará de tudo pra conseguir ser presidente por via indireta – afinal esse é a única maneira de ele chegar lá. Uma eleição indireta será a cereja do bolo (fecal) de um dos períodos mais negros, pior do que em 64, pois naquele período ficou claro que tratava-se de um grupo (os miliares) que chegou ao poder rasgando a lei. Agora, é um golpe feito ‘na lei’. Talvez o próximo passo nesse círculo do inferno de dante é a adoção do parlamentarismo. E aí se um primeiro ministro ficar um ano no cargo, será muito.

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