Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Um golpe contra o povo e contra a democracia, por Aldo Fornazieri

Um golpe contra o povo e contra a democracia

por Aldo Fornazieri

Uma farsa dantesca, uma hipocrisia medonha, um cinismo indescritível. Eis a síntese do que se viu no dia 17 de abril de 2016 na Câmara dos Deputados. O que os deputados golpistas autorizaram foi a cassação de 54 milhões de votos, a cassação da soberania popular para que um grupo de corruptos assalte o poder sem voto e sem legitimidade. O que se viu foi a farsa de abrir caminho, em nome do combate à corrupção, para que um denunciado de ter recebido cinco milhões de reais em propina se torne presidente do Brasil. O que se viu foi a hipocrisia de, em nome da moralidade, permitir que o maior corrupto do Brasil se torne o primeiro na linha de sucessão da presidência da república. O que se viu foi o cinismo de deputados acusados de corrupção declararem votos em nome da salvação do Brasil do mal da corrupção. Este espetáculo de degradação da política, de degradação da dignidade do Brasil, sequer escapou ao New York Times que estampou em sua capa: “Gang de ladrões vai julgar Dilma”. Em nome de Deus, da família e da pátria e blasfemando contra Deus, conspurcando as suas famílias e pisoteando a pátria e a Constituição essa gang de ladrões fez suas declarações de voto.

O que se viu foi uma Câmara dos Deputados, que tem 7% de avaliação positiva, falar em nome do povo cassando o voto do povo. Foram 367 punguistas anulando 54.501.118 votos. Não há nenhuma acusação razoável contra a presidente Dilma e há cerca de 300 deputados enredados com questões judiciais. Não há democracia sem respeito à soberania popular.

Houve uma clara e criminosa ruptura da ordem democrática e institucional. Ruptura construída paulatinamente, pelo juiz Moro, pelo Ministério Público Federal, pela Política Federal e pelo Supremo Tribunal Federal que prevaricou ao permitir que Eduardo Cunha comandasse esse processo inescrupuloso de violência contra a democracia. O que se viu foi a desavergonhada declaração de votos de deputados do PSDB e de outros partidos de oposição clamando pela responsabilidade fiscal quando votaram  nas pautas-bomba de Eduardo Cunha aumentando o déficit público no momento em que o Brasil precisava reduzi-lo. Como podem esses todos arvorar-se salvadores do Brasil quando agiram justamente para quebrar o Brasil?

O PT e o governo devem um pedido de desculpas à sociedade

Como pode essa gang de ladrões aliar-se à Fiesp que clama para não pagar o pato quando se sabe que quem paga o pato da Fiesp, dos bancos e do agronegócio é o povo pobre do Brasil que paga muito mais impostos que os ricos? Como pode o governo do PT ter sido tão ingênuo ao conceder mais de R$ 400 bilhões em incentivos e subsídios às elites possuidoras para ser traído por elas? Como pode o governo do PT ter se aliado aos partidos conservadores das elites abandonando o povo para ser traído por ministros do próprio governo na véspera e durante a votação do golpe?

Como pode o PT ter se enganado, imaginando que podia contar com o beneplácito das elites; que podia beber os vinhos caros com as elites; que podia exibir-se com os ternos importados junto às elites; que podia frequentar os hotéis e restaurantes luxuosos para congraçar com as elites? O PT foi aceito enquanto enchia os bolsos das elites com a farra das commodities. Nesse meio tempo, os movimento sociais se tornaram incômodos para os petistas nos governos; as sandálias da humildade foram jogadas no lixo; a estúpida arrogância do poder mesquinho entumecia o peito de parlamentares e dirigentes petistas; o conhaque de alcatrão de São João da Barra foi substituído pelo whisky envelhecido. Mas quando os governos petistas não tinham mais o que entregar à elite branca, endinheirada, de mentalidade escravocrata, machista, racista e homofóbica, o PT recebeu um senhor golpe. Somente nesse momento se lembrou de recorrer ao povo – mas tardiamente. Já passou da hora de o PT e do governo pedirem desculpas à sociedade pelos seus erros e pelos seus desvios

Sem pacto e sem transição transada

Quando veio a conta da farra fiscal em favor das elites, essas não quiseram pagá-la. Propuseram que o governo do PT pendurasse a conta nos ombros dos trabalhadores. O governo ficou paralisado: não fez nem uma coisa e nem outra. Não teve coragem de cobrar a conta  a aqueles que mais ganharam.

Com um roteiro golpista e conspirador Temer e o PMDB construíram um programa de ataque aos direitos trabalhistas e sociais, de quebra da previdência, de entrega de áreas da economia de conteúdo nacional ao capital estrangeiro, de associação subordinada aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos. Essas são algumas das razões do golpe.

Mas se o PT e o governo foram humilhados e derrotados, se a Constituição foi rasgada e se a democracia foi violentada, paradoxalmente, essa crise toda produziu algo positivo. Novos movimentos sociais surgiram, uma juventude combativa se pôs nas ruas, milhares de debates foram realizados e esses novos movimentos e essa nova esquerda construíram pontes de unidade com os movimentos sociais que estavam paralisados, sob a cômoda condição de governistas. As manifestações do “não vai ter golpe” se equipararam às manifestações pró-golpe e isto fez com que nas redes sociais houvesse uma virada contra o golpe.

Duas frentes progressistas e de esquerda se formaram – Povo sem Medo e Frente Brasil Popular – e passaram a atuar em conjunto. É preciso avançar na reorganização dos movimentos sociais e políticos numa ampla frente progressista para enfrentar as novas etapas do golpe. O mais provável é que esse processo deságue na proposição de novas eleições gerais.

Mas o que esses movimentos políticos e sociais aprenderam nesse curto espaço de tempo é a necessidade de construir e preservar a autonomia em relação a qualquer governo. Para quem quer conquistar direitos e construir políticas públicas sociais é mais importante estar nas ruas, nas periferias, nas organizações sociais, culturais e sindicais do que estar nas secretarias e nos ministérios dos governos.

Esses novos movimentos não devem e nem podem fazer nenhum pacto. Os pactos, as “transições transadas”, na expressão do Raimundo Faoro, sempre foram enganosos para o povo e para os movimentos sociais. Mudanças efetivas nunca se consumaram no Brasil, pois as elites se apossaram das ideias de mudança para manter o status quo. É o que se vê novamente neste momento. Em nome do combate à corrupção quer-se um retrocesso da democracia, dos direitos sociais, dos direitos civis e dos direitos políticos. Movimentos de repressão e de perseguição à lideranças de movimentos sociais já estão em andamento. O povo não pode enganar-se e nem ser enganado mais uma vez com pactos ilusórios.

Se o governo Temer vier, será preciso agir para derrubá-lo, pois será um governo ilegítimo produzido por um golpe antidemocrático. Não se pode dar nenhuma trégua a um governo dessa natureza. A ideia da “unidade nacional” nada mais é do que uma máscara para jogar o peso do ajuste nos ombros dos trabalhadores e para sacrificar os programas sociais. As elites estão quebrando a ordem democrática e constitucional. Não merecem nenhuma confiança e nenhuma trégua.

Neste 17 de abril de 2016, o sol enganou o dia e a lua enganou a noite. Não poderá ser lembrando com um dia ensolarado e como uma noite enluarada. Foi um dia trevoso, cinzento para a história do Brasil. Felizes os portugueses que comemoram o mês de abril como um mês de libertação. Nós, brasileiros, teremos que lembrar o mês de abril como o mês da vergonha, da farsa, da hipocrisia e do cinismo.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

21 Comentários

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  1. O Sr. aldo Fornazieri falou

    O Sr. aldo Fornazieri falou na ruptura democrática e constitucional, construída pelo juiz Sérgio Moro, MPF, PF e pelo Supremo, que prevaricou ao permitir que Eduardo Cunha comandasse esse processo. 

    Queria saber por que em todo o texto esse Senhor não fez a menor alusão à Globo, ou à midia em geral, se sem ela, certamente,  parte substancial de tudo que vimos assistindo teria sido evitado?

    Será que é porque ele hoje é funcinário da Globo?

  2. A Luta continua companheiro…

    O Governo tem que ter a audácia e coragem de atravessar o lamaçal da desordem colonialista que o Brasil está atolado. O PT não teve isto. Vejo esta ruptura, golpe, traição como o primeiro passo para o país se erguer contra os colonizadores.

    Não será agora neste proximo governo ou o outro que entrar, mas a história estará aí para ser contada e aprendida.

     

  3. “Como p[ô]de o PT ter se

    “Como p[ô]de o PT ter se enganado”

    Duas coisas explicam esse engano.

    A primeira, bastante óbvia, é o abandono do marxismo.

    Até as pedras sabem que o funcionamento do capitalismo é cíclico, que sempre depois de um período expansivo vem uma crise recessiva.

    Mas quando começa um período de expansão capitalista, as pedras são as únicas a não esquecer essa verdade óbvia. Da extrema-esquerda à extrema-direita, todos os atores sociais, empresários, trabalhadores, políticos, militantes, rapidamente se convencem que “desta vez é diferente” e que a expansão durará para sempre.

    A esquerda, principalmente a esquerda no governo, é talvez quem mais se ilude com isso. Além da psicose “natural” que afeta a todos, há também a lógica da política imediatista, que manda a esquerda se arrogar uma “competência” política e administrativa que ninguém tem, para capitalizar politicamente a onda de bem-estar. Daí o capitalismo global entra em crise e os dirigentes da esquerda nacional nos dizem – e, pior, acreditam – que ela não vai chegar aqui, ou que vai chegar em forma de “marolinha”.

    É falta de Marx na veia.

    A segunda é o presidencialismo e a preferência do PT pelo presidencialismo, na ilusão de fazer reformas “a partir de cima”, bypassando o legislativo. No regime parlamentarista, a queda de um governo é um processo normal, que não exige maiores explicações: o governo deixou de ser representativo, cai, sem necessidade de criminalizações. No presidencialismo, o governo não cai a não ser que seja criminalizado ou que haja uma ruptura completa da institucionalidade. Se não cair, vira um “pato manco”, como dizem os americanos – o que pode ser extremamente prejudicial para a gestão da economia.

    E para piorar, o PT optou pelo presidencialismo como forma de impor reformas a partir de cima, mas depois se deixou ficar refém do legislativo: é o tal do “presidencialismo de coalizão”. Em vez de tirar a consequência lógica de sua preferência pelo presidencialismo – governar mesmo contra o parlamento, por decreto, e escorar-se na pressão popular para resistir ao legislativo, o PT comportou-se como se estivéssemos no parlamentarismo, buscando compor maiorias na Câmara e no Senado, não através do embate político que convencesse os parlamentares a se alinharem ou pelo menos não se oporem, por receio de perder eleições, mas através do conchavo e das concessões às demandas de deputados e senadores.

    É por isso, Aldo, que o PT pôde se enganar tanto.

    1. Uma observação importante:

      Uma observação importante: quem escolheu o sistema presidencialista não foi o PT, mas os eleitores brasileiros, no plebiscito de 1993.

      Imaginem o que seria do Brasil com um sistema parlamentarista, tendo como representantes no sistema bicameral os parlamentares da qualidade que vimos estrelar o circo de horrores deste domingo?

  4. “Como pode o PT ter se

    “Como pode o PT ter se enganado, imaginando que podia contar com o beneplácito das elites; que podia beber os vinhos caros com as elites; que podia exibir-se com os ternos importados junto às elites; que podia frequentar os hotéis e restaurantes luxuosos para congraçar com as elites?”

    O PT nunca imaginou isso, caro Aldo. Tanto que Lula não tem apartamento em Paris, nem construiu aeroporto privado com dinheiro público.

    Imaginou, sim, e creio que imagina até agora, ser possível governar sem beber vinhos caros, sem usar ternos importados e sem frequentar hotéis e restaurantes luxuosos. O PT imagina que é possível governar de uma forma diferente da que as elites têm de governar. Talvez a alguns pareça muita ousadia imaginar que é possível governar sem vestir o figurino da elite, mas, acredite, há quem não só imagina como viabiliza governos assim, sem corrupção da coisa pública, sem travestir-se, baseando-se estritamente na CF e nas leis infraconstitucionais.

    Talvez seja possível gerir o que é público sem se deixar corromper pela iniciativa privada. (E aqui tanto faz se a iniciativa privada ocupa cargo público ou não.) Pelo contrário, mantendo-a sob estrito controle para que não meta a mão grande no que não é seu e sim de uma entidade que alguns não conseguem nem imaginar que exista: a coisa pública. Já imaginou?

    1. Não adianta; esse professor,

      Não adianta; esse professor, assim como o Judiciário, elegeu o PT como culpado de tudo. Assim é mais fácil para a razão prostituta: apontar o dedo. Como disse uma comentarista, críticas para a mídia ele não faz.

      1. Apenas mais um da casa grande!

        Cansei de ler os textos do Aldo por aqui. É sempre mais do mesmo, a sensação final em todos é a culpabilização   “daquela piranha pelo estupro sofrido”.

        E ele se coloca como um ser superior, que vê de fora, de cima pra baixo, os “erros do PT”, puro exercício de arrogância, desvinculado da realidade política, da conjuntura e da hediondez dos nossos parlamentares

  5. Olha, professor, com todos os

    Olha, professor, com todos os erros do PT ainda cantaria a canção de Gonzaguinha: “Começaria tudo outra vez, se preciso fosse…” E sabe por quê? O PT é dos poucos partidos que fazem ainda autocrítica. E ainda agradeço ao PCdoB, ao PSOL, à Rede, ao PDT (excluindo os traidores) e a todos os generosos dissidentes que souberam honrar o voto democrático e a democracia, o maior compromisso de todos os compromissos. Quanto à indignação contra a farsa do dia 17 de abril de 2016, estou inteiramente de acordo.

  6. Cadê a reação?

     “Mas quando os governos petistas não tinham mais o que entregar à elite branca, endinheirada, de mentalidade escravocrata, machista, racista e homofóbica, o PT recebeu um senhor golpe.”

    Eh, e podem esperar que o golpe sera repetido no senado e encerrado no STF. O resto sera a historia que um dia contarão sobre o que se passou neste 2016.

  7. Sr. Aldo Fornazieri, o senhor

    Sr. Aldo Fornazieri, o senhor vai ou não vai responder ao comentário de Maria Rodrigues sobre ter poupado não só a Globo, mas toda a mídia monopolista e golpista, em seu texto, de serem participantes ativos na formulação e execução do golpe? Foi um lapso ou não?

  8. Dizer que o PT abandonou o povo já é demais

    Ao buscar apoio dos empresários o PT pensou no emprego e na governabilidade. Se foi traído é outra história. Agora, dizer que o PT abandonou o povo já é demais. Basta ver como os deputados e senadores do PT votam no Congresso pra provar que o partido tem honrado o povo brasileiro, exemplo disso foi a tal pauta-bomba do Cunha rechaçada pelos petistas. Detalhe: não sou filiado ao PT.

  9. A impressão foi a de uma

    A impressão foi a de uma final de copa e que houve um vencedor, mas não era uma disputa e ninguém ganhou ( é preciso ser muito ingenuo para não sacar que o resultado foi armado, a qual preço ?? ) o Brasileiro não ganhou, os que votaram nas eleições nos 1º e 2º turnos, nem os que votaram na Dilma ou Aécio nem ao menos os brancos e nulos ganharam, hoje o sentimento do Brasil que estava a favor do impeachment deve ser de vitória, porém com um gostinho amargo no final da garganta e pensando: eliminamos uma tirana ! de um partido tirano ! através de tiranos com sorrisos cínicos bem sabemos…mas tinha que ser feito uma vozinha lá no fundo estava me dizendo que teria que ser assim…. perguntando-se: quem é Michel Temer ? será que…? será ? será…será…será… uma pequena minoria ganhou, de resto perdemos todos !! perdemos nosso tempo e como palhaços ficamos nas filas, ao sol, deixamos de passear ou viajar para votar nas ultimas eleições e para que ?? além do mais como nunca antes no Brasil brigamos uns com os outros, viramos a cara com amigos queridos, com familiares, discutimos, debatemos, estragamos festas e o voto não serviu, o dito povo não serve e talvez não servirá mais é apenas massa de manobra boneco de ventríloquo nas mãos de poderosos o parlamento resolveu e talvez resolvera tudo daqui p/ frente quem entra ou sai do poder, ontem muitos dos que votavam falavam em “nome de Deus”, escutar aquilo me dava vontade de vomitar !! fala sério, Deus é o que o povo precisa se apegar e esperar que exista um, porque no ser humano não da para se confiar ou acreditar.

  10. Joio e trigo

    O que o PT parece querer fazer é separar a elite política (altos cargos públicos)  da elite econômica (endinheirados). Um terno ou um vinho de boa qualidade são pontos de intersecção entre essas duas elites, mas pouco ou quase nada mais há em comum entre essas duas.

    Quem mistura as duas quer corrupção.

  11. Enfim, análises que
    Enfim, análises que demonstram que passou da hora do conflito, por completa impossibilidade da “casa grande ” ceder, nem mesmo respeitar as urnas.

    O murismo caiu.

    Análises “equidistantes” não mais terão credibilidade.

    O “novo” passa obrigatoriamente pelas interrelações e envolvimento das partes.

    Para se praticar o “novo” há que se entrar nos jogos.

    Tempos de Matrix.

    De envolvimentos e de emoções.

    Equidistância e racionalidade ficam para trás.

    É tudo isso que se vê na sociedade. O que se viu no congresso.

    Levou vantagem os que se entregaram antes, às emoções.

    Entendem, agora, o que é antipetismo?

    Espero que outros excelentes analistas sigam o exemplo do autor do texto.

  12. aprimeira  párte do artigo

    aprimeira  párte do artigo serviu como um ótimo desabafo…

    mas depois, a mesmice de sempre…culpar as vítimas do golpe,

    sem incluir a manipuladora do golpe, a globo…

    o lula pode ser considerado um dos maiores estadistas dos

    últimos tempos justamente porque conseguiu manter

    a estabilidade democrática nesse longo ´período…

    é hora de ouvir mil pérdões do chico –

    te perdoo por te trair!!!!

  13. Penso que o grande erro foi

    Penso que o grande erro foi não ter estado mais com os livros de História ao lado. Sempre, sempre, sempre, as elites traíram……Somos obrigados a jogar o jogo mas, precisamos sempre lembrar dos ensinamnetos da velha senhora História.

  14. Um bom artigo, certamente.

    Um bom artigo, certamente. Ainda assim ele exibe aquela técnica manjada que critico sempre: ‘uma no cravo, outra na ferradura’. A obsessão não é minha, mas dos intelectuais esquerdistas, que se tornaram  reféns dessa técnica-clichê.

    Uma discussão que esses intelectuais deveriam fazer envolve os seguintes tópicos:

    1 – Conseguiria o PT eleger Lula, caso mantivesse a filosofia de não fazer alianças?

    2 – Se chegasse ao poder de forma isolada, conseguiria Lula governar? Ou seria deposto no primeiro ano de mandato?

    3 – O episódio batizado de “mensalão” por bob jeff e pelo PIG foi a primeira tentativa de derrubar Lula e aniquilar o PT. Estivessem Lula e o PT isolados, resistiriam a um ataque golpista naquela época e naquelas circunstâncias?

    4 – Para que não fossem abatidos antes mesmo de disputar as eleições de 2002, Lula e o PT foram obrigados a fazer concessões á direita oligárquica e plutocrata, com aquela famigerada ‘carta aos brasileiros’. O articulista considera que o PT, Lula e Dilma fariam mais pelo Brasil se mantivessem o rigor inicial, não se aliassem a nenhum partido de centro e assim não conseguissem eleger o presidente da república ou se o conseguissem, esse presidente fosse deposto no início do mandato, por falta de apoio parlamentar?

    Passados 13 anos de governos encabeçados pelo PT, os erros e desgastes acumulados que isso acarreta, fica muito fácil e cômodo fazer críticas ao partido e aos seus líderes. Difícil mesmo é fazer uma análise razoável, ponderada, conseqüente, levando em conta a realidade polítco-institucional brasileira, estabelecida pela CF/1988. Esse modelo com presidencialismo de coalizão, em que o partido que elege o presidente não tem direito a um número fixo de cadeiras no parlamento, aliado a ao multipartidarismo descontrolado (hoje são quase 40 siglas, a maioria de aluguel), torna o País simplesmente ingonvernável, caso não se façam alianças. E o espectro do parlamento (sobretudo o atual) é extremamente conservador, reacionário, retrógrado, além de ser o mais corrupto de que se tem notícia. Além da inabilidade política que a caracteriza desde sempre, Dilma está sendo abatida exatamente porque não cedeu a tudo que a plutocracia representada nesse parlamento tem exigido dela.

    5 – A reforma política não foi lembrada pelo articulista; e no primeiro governo de Lula, o momento mais propício, o governo petista não se empenhou em implementá-la. Depois de 2006 ela se mostrou inviável, dada a piora da qualidade da representação parlamentar.

    Participei de manifestações pela democracia, no Rio de Janeiro. Nelas eu vi pessoas de todas as idades, cores, raças e classes sociais; minorias e maiorias representativas da população brasileira estavam ali. Na de ontem, na Lapa, considerei os participantes apáticos, com baixa qualidade de argumentação e com uma politização inadequada. Quando os parlamentares hipócritas invocavam Deus e a família para justificar o voto a favor do golpe, alguns blasfemavam contra Deus, contra as religiões e os que nelas acreditam. Esse fanatismo ao avesso – de que o ateísmo intolerante é o máximo exemplo – é tão deletério quanto o ódio fascistóide da extrema direita, que prega a intolerância, a violência e o aniquilamento dos que considera ‘inimigos’.

    6 – Por fim, devo dizer que muitos dos intelectuais esquerdistas usaram a técnica que citei no início como uma espécie de ‘salvo-conduto’ que lhes garantiria espaço para divulgação de artigos nos veículos da grande mídia. Somente há cerca de um mês alguns acadêmicos tiveram a coragem de se negar a conceder entrevistas e materia de estudos, para jornais, rádios, TVs, portais e outros veículos da chamada ‘grande mídia comercial’. Esse sono profundo dos intelectuais e acadêmicos também contribuiu para que a tardia reação do campo popular das Esquerda não fosse suficiente para barrar o golpe em sua fase inicial.

    A única certeza que temos agora é que com o governo ilegítimo da dupla criminosa Temer-Cunha as crises política, institucional e econômica vão se agravar.

    PS: espero que este comentário não seja censurado, como aconteceu com outros que postei. Sugiro, também, que o articulista escreva sobre o papel das instituições MPF, PF, PJ (pricipalmente sérgio moro e ministros do STF) para a aplicação do golpe de Estado, sem esquecer do alto comando internacional (NSA, CIA, Pentágono, Dep. de Estado dos EUa, etc.)

     

     

     

     

  15. Vergonha

    Dia 17, poucos dias antes de 21 de ABRIL, dia de TIRADENTES, que a gente comemora como dia do HERÓI.

    Mais uma traição. Agora são 367 “JOAQUIM SILVÉRIO DOS REIS”.

    Que VERGONHA.

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