Vamos falar sobre o Nego do Borel – parte 2, por Luis Nassif

Testosterona ou bebedeira não podem ser atenuantes para crimes dessa natureza. Retifico o que escrevi. Mas, sem dúvida, são enormes agravantes para apurar a responsabilidade da emissora

Vamos aos resultados de uma discussão saudável.

Fiz uma provocação pelo Twitter, sobre o linchamento do Nego do Borel, acusado de estupro de vulnerável: uma modelo que estava alcoolizada, sem condições de se defender. Tudo no programa A Fazenda, da TV Record.

No artigo coloquei que, centrando todas as acusações no rapaz, escondia-se a culpa maior a) Da emissora e das demais que recorrem a esse tipo de programa; b) Da União e das autoridades que permitem esses abusos em uma concessão pública; c) do Ministério Público por não atuarem um programa em que há a degradação das pessoas. E mencionei o fato de se colocar um jovem cheio de testosterona em um ambiente sexualizado, com consumo de álcool, sendo induzido à “pegação”, que é o objetivo do programa.

As reações foram interessantes.

Uma minoria concordou em discutir a responsabilidade de emissora, da União e da mídia. A maior parte se mostrou indignada pelo desvio de foco. Preferiu continuar se concentrando no Nego do Borel, protestando com minha menção ao testosterona e à bebedeira como atenuantes do suposto crime cometido.

Aí se dá algo curioso. De fato, testosterona ou bebedeira não podem ser atenuantes para crimes dessa natureza. Retifico o que escrevi. Mas, sem dúvida, são enormes agravantes para apurar a responsabilidade da emissora, da União e demais instituições, permitindo shows escabrosos dessa natureza.

Mas a celebração do linchamento prescinde de complicadores que possam diluir o alvo principal escolhido. Quando é um alvo, forma-se o consenso. Quando se apontam outros personagens, complica-se a análise, o que atrapalha o sentimento primal do linchamento.

Eu poderia ter invocado a condição dele, de negro, para sofrer um julgamento mais severo que a de um branco. Mas não entrei por ai: crime é crime; se praticou o crime (o que se saberá depois das investigações), que seja punido.

LEIA A PARTE 1:

Vamos falar sobre o Nego do Borel, por Luis Nassif

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Nassif, acho que você deve aos seus leitores assíduos, entre os quais eu me incluo, uma revisão profunda da posição subjacente ao seu primeiro artigo nesse tema no GGN. Tal posição parece-me remeter à visão mais retrógrada de que são as circunstancias que fazem o estuprador. Não, Nassif as circunstancias podem permitir o estupro mas o estuprador já tem que estar nelas. Nessa toada voc corre o risco de concluir que a culpada é a Dayane que ficou bêbada e não quis transar.

  2. Nassif tentando discutir um tema dificil. O cara ainda por cima não ajuda o argumento. A mãe dele deu parte do sumiço e o moço foi “localizado” num motel com 2 mulheres.
    Não sou moralista, mas vamos combinbar que o cara tem problemas no que envolve sexo. Melhor buscar ajuda pois a ladeira e grande e ele começou a desce-la

  3. Nassif, eu entendi o que você quis dizer: Vocês deixou claro no primeiro texo “se ele cometeu estupro de vulnerável, deve ser punido”. E mesmo quando você falou sobre atenuantes, não quis falar em inocência, mas sim destacar que, a culpa que deve recair no Nego do Borel é menor que a culpa que deve recair nas emissoras envolvidas. Já hpouve um estupro no BBB da Globo. Agora, um estupro na Fazenda da Record. Isso não é coincidência. Que o estuprador precisa ser punido, ninguem quesiona isso. A questão é que tem mais culados que sempre escapam impune. Globo e record estão ajudando a provocar estes crimes, ao criar todo um clima e situaçao e depois, quando tudo dá errado, fingem que são pobres inocentes, e se jogam do lado dos linchadores (para não virem a ser linchados tambrém, que é o que mereciam). Repitto: Já houve esturo no BBB e na Fazenda e isso não é coincidência, é resultado de gente brincando com fogo de forma irresponsável…

  4. Ninguém está pedindo linchamento de ninguém. A gente tá é cada vez com menos paciência em te ver tratando o Nego do Borel e a administração da Prevent Sênior como se fossem a versão atual do japonês da Escola de Base. Não ê a mesma coisa, veja se acorda !!!

  5. Nassif quer equiparar Nego do Borel e a administração da Prevent ao japonês da Escola de Base. Está totalmente equivocado, são coisas completamente diferentes. Ninguém quer linchamento, apenas não gostamos que fique tirando o foco deles, eles são os protagonistas desses escândalos !!

  6. Essa discussão me fez lembrar de um filme estrelado por Jane Fonda, ganhador do Oscar de 1970, e que no Brasil recebeu o nome de A noite dos desesperados. Lá, miseráveis contratados para dançar até a exaustão em concursos durante a Grande Depressão. Aqui, miseráveis contratados para expor a intimidade até o limite do impensável. E tudo sob o aplauso da turba, do baronato da mídia e dos anunciantes. Tristes tempos…..

  7. Nassif entendo parte de sua colocação, logo concordo em parte. Mas é incrível como algumas pessoas perderam a capacidade de ler algo em que discorda. Se há algo que gosto no Nassif é sua capacidade de instigar pensamentos, assim o que poderia passar despercebido, vira ponto de atenção. Para crimes há leis e leis constumam ter atenuantes. Outro ponto interessante é quando você coloca que essas emissoras estão criando ambientes para criminosos agirem. Sabendo que estupro é um crime sério e com consequências graves, quem ver um crime e não age para a evitá-lo, é conivente? E quem cria o ambiente para que ele ocorra também?

  8. Acho que tem um ponto de vista que alguns no outro post abordaram de maneira implícita e eu gostaria de explicitar.Acho que vivemos tão imersos numa realidade virtual(tv e internet) que acreditamos em tudo que vemos na telinha, esquecemos que, na tv, tudo é “mise en scène”…nada é real/factual a 100%, tudo é observado, administrado e dirigido, 24h por dia, “levantar bandeira”, nesta situação em particular, é correr risco de ser desmentido pelos fatos no futuro…Quanto as responsabilidades, se provados os fatos , concordo com o Nassif, a direção do programa e a emissora são cúmplices…

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