Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.

A diplomacia brasileira aos 180 dias do III Governo Lula reforça interesses do Brasil na Europa, por Regiane Nitsch Bressan

A viagem de Lula à Europa reitera a importância ao Brasil em retomar seu papel estratégico no tabuleiro internacional.

Ricardo Stuckert – PR

A diplomacia brasileira aos 180 dias do III Governo Lula reforça interesses do Brasil na Europa

por Regiane Nitsch Bressan

A visita de Lula à Europa foi marcada por múltiplas tarefas –  desde atividades oficiais e reuniões com diferentes lideranças, amistosos encontros, além do discurso no show “Power of Planet” para milhares de jovens na França. Sua presença foi sempre regada por discursos que intentam alavancar o Brasil na arena dos temas contemporâneos internacionais e governança global.

Iniciada na Itália, a viagem de Lula proporcionou encontro com o sociólogo italiano Domenico de Masi em Roma, seguido de um encontro com o papa Francisco pela defesa de temas sociais e paz no mundo, mas evitando o tema árido da Guerra na Ucrânia.

Na sequência, os encontros oficiais tomaram a agenda de Lula, que engajou o Brasil na defesa do meio ambiente, em uma tentativa clara de facilitar a consecução do acordo entre União Europeia e Mercosul.

Em Paris, foi realizada a Cúpula pelo Pacto Financeiro Global, com os presidentes da África do Sul, Congo, Cuba, Haiti e da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, além do presidente do BID. A reaproximação com a África e encontro com diferentes lideranças, colaboram com a inserção do Brasil na nova governança global. Ademais, reforçaram o entusiasmo pelo retorno de relações prósperas do Brasil com os países africanos, mirando convênios e investimentos brasileiros no setor de obras no continente.

A Cúpula teve como objetivo discutir a reforma de instituições internacionais, como o FMI e Banco Mundial, além do engajamento contra as mudanças climáticas e a pobreza. Ainda que a Cúpula tenha discutido a reforma da arquitetura financeira mundial mirando o combate à desigualdade econômica e problemas ambientais, foi palco de frustração por nações emergentes. Havia uma promessa anterior pela liberação de US$ 100 bilhões por ano pelos países ricos aos países em desenvolvimento para o enfrentamento das mudanças climáticas, o que não vem acontecendo.

As articulações políticas na França foram relevantes discutir o processo de implementação do acordo de livre comércio entre os dois blocos. Reiteradas vezes, Lula criticou às novas exigências ambientais impostas pelos países europeus, repetindo a importância do combate às diferentes desigualdades entre as sociedades, mas sem deixar de mostrar esforços brasileiros pelo meio ambiente. O anexo ao tratado impõe sanções ao descumprimento do Acordo climático de Paris, sendo interpretado por Lula, como ameaça ao parceiro estratégico. Aliás, Lula reiterou ao presidente francês, que o Brasil considera inaceitável o adendo que modifica o acordo assinado em 2019.

Por sua vez, Macron alegou que a ratificação desse acordo tangencia problemas de diferentes ordens do comércio internacional, como dumping, diferenças entre os direitos trabalhistas e uso indiscriminado de uma série de pesticidas, autorizados pelo governo de Bolsonaro, que são proibidos na Europa. Agravando as dificuldades nas negociações, os países europeus defendem a histórica Política Agrícola Comum que subsidia a produção agrícola do continente, enquanto o Brasil não deve permitir o avanço de outro tem espinhoso, as compras governamentais.

Lula também esteve com Mélenchon da França Insubmissa, partido de esquerda que lidera uma coalizão que inclui socialistas, ecologistas e comunistas. Houve empenho expressivo por parte do Brasil em calibrar os interesses dentro do acordo, o qual voltará a ser discutido no encontro entre União Europeia e a CELAC em julho na Bélgica.

Ainda que enfrente uma série de desafios, a viagem de Lula à Europa após quase 180 dias de seu governo, reitera a importância ao Brasil em retomar seu papel estratégico no tabuleiro internacional. Além disso, evidencia a potencialidade do presidente Lula em dialogar com múltiplos interlocutores, reforçando o prestígio brasileiro no cenário externo. Por fim, o Brasil não deixa de lutar pelos seus interesses, mirando crescimento econômico aliado com proteção ambiental e combate à desigualdade. Isso se faz com diálogo, negociação e boa diplomacia.

Regiane Nitsch Bressan – Professora do Curso de Relações Internacionais, UNIFESP. Professora do Programa Interinstitucional (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas. Doutora e Mestre em Integração da América Latina, USP. Membro do Observatório de Regionalismo, GRIDALE, FOMERCO e CRIES. Email: [email protected]

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