A centralização chinesa confronta o capitalismo norte-americano

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Foto: Agência Xinhua

O expressivo crescimento chinês ao longo dos últimos anos tem gerado uma série de debates entre acadêmicos sobre como um país que, em pouco mais de 50 anos, conseguiu se consolidar como a segunda maior economia global e com prognósticos estáveis e positivos para os próximos anos.

E um dos pontos para que isso fosse possível é a grande presença do Estado na economia, o que é completamente oposto ao modelo liberal-capitalista empregado em países como os Estados Unidos, como explica o investidor sino-brasileiro Lawrence Pih em entrevista exclusiva ao programa TV GGN Nova Economia.

De acordo com Lawrence Pih, não se pode tentar entender a China sem a perspectiva histórica das dinastias, e dos ciclos de crescimento, prosperidade, declínio e colapso. “A cada ciclo, se espera que os governos se orientem e aprendam com os ciclos passados. Agora, a China tem uma visão cíclica da história, enquanto o Ocidente tem uma visão linear – que foca no presente recente, enquanto a China enfoca em histórias, ciclos, dinastias”.

“O objetivo de qualquer modelo econômico é trazer bem estar para a população, ao povo, e no sistema chinês a estabilidade é muito importante, simplesmente para a sua história também”, explica Pih. “E por isso sim, (o modelo chinês) foca bastante no aspecto de estabilidade econômica e política e social para que o país pode continuar crescendo”.

Pode-se dizer que, dentro desse contexto, o modelo centralizador foi fundamental para a China estabelecer as bases para seu avanço econômico. Graças à presença do Estado, o país conseguiu estruturar grandes empresas em setores como infraestrutura, tecnologia e siderurgia.

“Agora, (a economia chinesa) está se orientando para a construção de tecnologia de informática, transmissão de dados. Estamos em outra fase da evolução e isso foi possível dentro do modelo, ao meu ver, de meritocracia também”, diz o investidor. “É difícil implementar essas medidas em um regime centralizado como é a China sem o conceito de meritocracia”.

Segundo Pih, foi nesse sentido que o presidente chinês Xi Jinping se orientou para combater a corrupção, já que “meritocracia e corrupção são contraditórias”.

“A China conseguiu, com esse modelo centralizador, onde o Estado é presente, orientar a economia de forma que você conseguiu extrair da pobreza quase 800 milhões de pessoas”, afirma Pih. “A renda per capita aumentou de US$ 176 nos anos 60/70 para US$ 14 mil. Houve um crescimento vertiginoso e o salário aumentou 17 vezes nas últimas décadas”.

Antagonismo com os Estados Unidos

De acordo com Lawrence Pih, atualmente a China é a segunda maior economia do mundo em termos de dólares – um parâmetro que ninguém dá muita importância, pois “o que é importante é a paridade de compra, o que se pode comprar com a moeda local de cada país”.

Com isso, “vejo que a China está com uma economia 20% maior do que a dos EUA hoje, e a renda per capita é bem menor do que a dos EUA, talvez um quarto dos EUA, porém aumentando”, ressalta o investidor, lembrando que o potencial de crescimento estável chinês está em torno de 5 a 5,5% ao ano, enquanto o dos EUA  é de 1 a 1,5%.

As contradições entre China (mais centralizada) e Estados Unidos (considerada mais aberta) devem gerar problemas futuros na visão do investidor. “Vejo contradições estruturais no modelo capitalista, ela é altamente concentradora, ela tem falhas intrínsecas de um acúmulo que não é distribuído e, eventualmente, leva a um tipo de pressão e desordem social”, diz Pih, ressaltando que dificuldades geopolíticas não devem ser descartadas.

“Ao meu ver, coloco a rivalidade, o confronto e a concorrência China/Estados Unidos em cinco estágios: no inicio foi cooperação, depois foi coexistência, depois concorrência, rivalidade e confronto. Acho que, infelizmente estamos no quarto estágio – estamos no estagio de rivalidade e eu infelizmente também acho que um eventual confronto virtualmente inevitável (…)”, afirma.

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Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. Sempre que se diviniza a tal meritocracia me dá um frio na espinha. É apostar demais na robotização das pessoas; e isso só traz desgraças na forma de violência quando o modelo apresenta fissuras. Nazificação.

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