A realidade econômica do Brasil de Bolsonaro na ONU não é a mesma dos brasileiros

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A economia de Bolsonaro não é a mesma das casas brasileiras. Confira o que ele disse na ONU e os dados reais

Foto: Jorge Araújo/Fotos Públicas

A economia do Brasil vista por Jair Bolsonaro não é a mesma sentida nas casas brasileiras. Na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça (20), o presidente brasileiro narrou um cenário positivo de “plena recuperação” econômica, com baixo desemprego, baixa inflação e pouca pobreza.

O GGN apurou cada um dos dados econômicos discursados por Bolsonaro na ONU e trouxe os dados reais. Confira:

– O Brasil chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação.

Informação retirada de contexto. Apesar de, efetivamente, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ter crescido 1,2% no segundo trimestre, em comparação ao trimestre anterior, a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de um aumento de 1,7% no PIB brasileiro em todo o ano, tornando o Brasil o 4º pior país do G20 em previsões futuras.

Além disso, o desemprego no país segue em alta e a situação de pobreza e fome também.

– A pobreza aumentou em todo o mundo, no Brasil ela já começou a cair de forma acentuada. A estimativa é que 4% das famílias brasileiras estejam abaixo da linha da pobreza.

A informação está parcialmente incorreta. A expectativa de 4% de pobreza atingindo as famílias brasileiras é de um estudo verídico do Ipea. Entretanto, a expectativa difere do que vem mostrando os dados reais até agora.

O “Mapa da Nova Pobreza” do FGV Social, com base nos dados do IBGE, mostra que a pobreza aumentou durante a pandemia no Brasil, saltando para 62,9 milhões de brasileiros em 2021, que são 29,6% da população – números distoantes da expectativa de 4%. Somente nas regiões metropolitanas, 19,8 milhões estão na linha da pobreza e mais de 5 milhões na extrema pobreza, segundo o “Boletim Desigualdade nas Metrópoles” da PUC-RS.

Ainda em 2022, a fome aumentou no Brasil, com 33,1 milhões de brasileiros não tendo o que comer hoje. Somente 4 entre 10 famílias conseguem o acesso pleno à alimentação atualmente, segundo pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

– O desemprego caiu 5 pontos percentuais.

A informação é falsa. A nível nacional e de forma generalizada, o desemprego reduziu de 11,1% para 9,3% no segundo trimestre de 2022, segundo o IBGE. Isso significa uma queda de 1,8 ponto percentual e não de 5, como disse Jair Bolsonaro. Além disso, a taxa de desemprego no Brasil teve essa pequena redução em 22 estados brasileiros. Outros 5 mantiveram o mesmo índice de desocupação.

Por fim, o desemprego se manteve acima da média para as mulheres, pretos e pardos, e o chamado subemprego aumentou 4,8%, com recorde de informalidade no país desde 2015, atingindo mais de 13 milhões.

– Reduzimos a inflação com a estimativa de 6% ao ano.

A informação foi retirada de contexto, aparentando ser uma notícia positiva, o que não é. De fato, os economistas do mercado financeiro reduziram de 6,40% para 6% a estimativa de inflação para este ano.

Entretanto, a estimativa não é positiva e ainda está acima da meta esperada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3,5%, aceitando uma variação de 2% a 5%. O próprio Banco Central já admitiu que este ano vai estourar o teto da meta, assim como ocorreu em 2021.

– Temos deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto.

A informação foi retirada de contexto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) efetivamente caiu nestes meses, mas Jair Bolsonaro não informou que, em julho, foi a primeira vez em dois anos de seu governo que houve o recuo de 0,68% nesta taxa. Em agosto, houve nova queda -chamada deflação- de 0,36%.

E, de forma geral, no ano de 2022, o IPCA acumula alta de 4,39% e de 8,73% nos últimos 12 meses, o que é um índice negativo – o 4º pior dos países do G20, perdendo somente para a Turquia, Argentina e Rússia.

Além disso, o IPCA só apresentou queda nestes meses devido à redução nos preços do combustível e energia. Os preços dos alimentos e serviços, que impactam diretamente o consumidor, seguem em alta.

– O preço da gasolina caiu 30%, o preço da energia elétrica também teve queda de 15%. Tudo isso sem interferência estatal.

A informação está parcialmente incorreta e retirada de contexto. Ambas decisões são políticas de Estado, o que torna falsa a informação de que não houve “interferência estatal”. E os preços da gasolina e da energia reduziram pela retirada de impostos, aprovada pelo Congresso Nacional. Assim, sem os deputados e senadores, a medida não seria efetivada.

Por fim, a redução do ICMS do combustível tem prazo de validade, assim como Auxílio Brasil e outras políticas econômicas adotadas por Jair Bolsonaro em ano eleitoral. Pelo projeto de lei sancionado por Jair Bolsonaro (acesse aqui), os impostos -alíquotas da Contribuição para o PIS/Pasep, Cofins e Cide- sobre a gasolina foram zerados somente até o dia 31 de dezembro de 2022.

Leia mais – Assembleia da ONU: Fake News e o uso eleitoral de Jair Bolsonaro

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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