Crise na Venezuela: América Latina e Brasil deveriam liderar saída pacífica, não EUA, diz professor de Oxford

“Seria mais fácil para os venezuelanos - e até para Rússia e China - aceitarem uma negociação liderada internamente, entre países latino-americanos", ponderou

Jornal GGN – “Se o presidente fosse Lula ou Dilma, certamente seria mais fácil para o Brasil assumir essa liderança, porque Maduro aceitaria essa intermediação”, a análise é do professor da Universidade de Oxford David Doyle, especialista em relações internacionais da América Latina, feita em entrevista à BBC News Brasil.

“O risco é Maduro dizer que Bolsonaro é muito similar a Trump ou que age conforme os interesses dos Estados Unidos”, completou. Mesmo assim, o especialista acredita que o governo Bolsonaro deveria articular uma estratégia para liderar as negociações para uma saída pacífica à crise da Venezuela, mas na condição de um país da América Latina, e não como um aliado dos Estados Unidos.

“Se os Estados Unidos se envolvem, isso pode gerar resistência de Maduro e levantar questionamentos de Rússia e China”, explica. O professor pontua que uma negociação liderada por países latino-americanos, sem a participação de Trump assegura uma resolução mais rápida e sem uma escalada que pode levar a um conflito bélico.

“Nas últimas duas décadas, as maiores ameaças à democracia – em Honduras, no Paraguai, nos atritos entre Colômbia e Equador, ou no Peru após Fujimori – foram gerenciadas por países da América Latina. Seria mais fácil para os venezuelanos – e até para Rússia e China – aceitarem uma negociação liderada internamente, entre países latino-americanos”, ponderou.

A forma como os países da América Latina têm se movimentado em relação a crise venezuelana vêm mostrando que essas nações querem afastar a interferência externa. Prova disso, pontua Doyle, foi a decisão mais recente do Grupo de Lima ao rejeitar o uso da forma militar externa na Venezuela. Na reunião, o vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence, reiterou a fala de Donald Trump de que uma intervenção militar no país não estava descartada.

Nova forma de Guerra Fria

“Acho que estamos vendo, mas eu hesito em dizer, uma nova forma de divisão de Guerra Fria. Há uma divisão cada vez maior entre os Estados Unidos e Rússia. E a China operando uma estratégia até certo ponto independente. Acho que a Venezuela está se tornando um palco de disputa entre duas grandes potências (EUA e Rússia). É uma forma de Vladimir Putin demonstrar a sua vontade de se opor aos poderes do Ocidente, de construir alguma forma de apoio político e demonstrar musculatura”, analisa Doyle.

O pesquisador lembra, entretanto, que ainda na eleição à Presidente, Donald Trump prometeu retirar tropas americanas de solo estrangeiro, afirmando que o país “não seria mais a polícia global”.

“Então, é contraditório até que ele considere algum tipo de intervenção na Venezuela”, completa Doyle arrematando que, ao abordar a crise da Venezuela, Trump busca alcançar o apoio do eleitorado.

“É uma forma de se aproximar de sua base eleitoral e de atender às demandas de parcela do eleitorado- aqueles que são de segunda ou terceira geração de americanos de origem latina. Esses grupos têm sido cruciais apoiadores do Partido Republicano na Flórida”, pontua o pesquisador.

Ele acrescenta que, embora Trump tenha afirmado não descartar o uso da força militar contra o governo Maduro, ficaria “muito surpreso se os EUA mandaram tropas para a Venezuela”.

Saída à Venezuela e à imagem negativa do governo Bolsonaro

Doyle projeta como saída mais eficiente à crise Venezuelana uma negociação com o governo Maduro, garantido ao líder e a membros do seu governo dinheiro e segurança jurídica e física em troca de renunciar o poder.

“Nessas circunstâncias, os líderes fazem um cálculo racional de custo e benefício. Qual seria o custo de renunciar em relação aos benefícios? O custo de deixar o poder, para Maduro, envolve principalmente a possibilidade de ser preso e processado”.

Além disso, a remoção forçada do presidente venezuelano poderia levar a uma guerra civil, “o que seria terrível”, reitera Doyle. Assim, a segunda opção estaria na “equação de custo-benefício, garantindo que, se Maduro permitir uma transição, o custo para ele não seja tão alto”.

“O núcleo duro dos apoiadores de Maduro ainda sentiriam que sofreram um golpe ou que tiveram sua liderança roubada. E, obviamente, teríamos membros da oposição que defendem algum tipo de justiça restaurativa pelos danos da administração de Maduro. Então, é muito difícil saber”, avalia.

Já, para o governo Bolsonaro, liderar o diálogo para uma saída pacífica à crise do país vizinho seria uma “oportunidade, se quiser demonstrar suas credenciais em política externa”.

“Elas já estão sendo questionadas, especialmente depois de Davos, quando ele usou apenas sete minutos para falar quando tinha 45 minutos. A suposição que se faz é de que ele não tem uma verdadeira estratégia de política internacional. Lula tinha uma política de relações exteriores clara de que o Brasil deveria assumir uma liderança ideológica, numa época em que havia muitos governos de esquerda na América do Sul”, compara completando, em seguida, acreditar que essa seria a oportunidade para Bolsonaro em três pontos:

“Primeiro, para mostrar ao mundo que ele tem algum tipo de política externa; segundo, para mitigar temores de países vizinhos em relação a ele, demonstrando que pode ser uma liderança internacional e não algum tipo de populista demagogo. Acho que seria também uma forma de demonstrar legitimidade perante grupos no Brasil que ainda se opõem fortemente ao seu governo”. Clique aqui e leia a matéria da BBC News Brasil na íntegra.

Nesta terça-feira (26), a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou a primeira pesquisa sobre início do governo mostrando que a gestão Bolsonaro tem 39% tem avaliação positiva e 19% negativa. Outros 32% não souberam ou não quiseram responder.

A título de comparação, a pesquisa em início de mandato de Dilma, o primeiro governo teve 49% de avaliação positiva. Já os primeiros e segundos governos Lula tiveram 57% e 50%, respectivamente, de avaliação positiva.

A avaliação de início de gestão de Bolsonaro é apena melhor do que a de Michel Temer (11%) e do que o segundo mandato de Dilma (11%).

Redação

6 Comentários

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  1. Esse professor não tem ideia de quem seja o coizo. Oportunidade de mostrar ao mundo que ele tem algum tipo de olítica externa? Esse cara não viu quem ele pôs nos ministérios? O coizo não sabe nem o q está fazendo na Terra.

  2. E sinceramente, olha só o a condição que um americano tem de palpitar sobre o assunto.

    “Doyle projeta como saída mais eficiente à crise Venezuelana uma negociação com o governo Maduro, garantido ao líder e a membros do seu governo dinheiro e segurança jurídica e física em troca de renunciar o poder.”

    Porque só os americanos tem nobres ideais. Latinos só querem dinheiro, poder e ficar livres da cadeia.

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