Apreensão de carros de Collor não é justificada no inquérito de Janot

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O documento orienta as diligências e ações da Polícia Federal para a investigação do envolvimento do senador no esquema de corrupção da Petrobras
 
 
Jornal GGN – A operação da Polícia Federal realizada nesta terça-feira (14), com buscas e apreensões em órgãos públicos e nas residências e empresas dos políticos investigados no esquema de corrupção da Petrobras, gerou um total de R$ 4 milhões, US$ 45,7 mil e 24,6 mil euros detidos, além do recolhimento de oito veículos, sendo cinco carros de luxo, obras de arte, joias, relógios, HDs, mídias e documentos. Três desses carros eram de Collor. No inquérito enviado ao STF, entretanto, as denúncias contra o senador não indicam lavagem de dinheiro por meio de bens, mas desvios por depósitos e transferências.
 
O ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) foi um dos indicados na lista do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, que teve pedido direto de abertura de inquérito. A solicitação do mandado de busca foi encaminhada na última sexta-feira (10) ao delegado da Polícia Federal, Thiago Machado Delabary, que comanda as operações da Lava Jato que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF). Na terça, a equipe foi às residências de Collor em Brasília e Alagoas, além da TV Gazeta, afiliada da Rede Globo que tem como sócio o parlamentar. 
 
Foram levados uma Ferrari 458 Italia, um Porsche Panamera Turbo e uma Lamborghini Aventador da Casa da Dinda, famosa mansão de Collor em Brasília. 
 
Para justificar todos os bens apreendidos na operação, Rodrigo Janot publicou, em nota, que as medidas eram “necessárias ao esclarecimento dos fatos investigados no âmbito do STF, sendo que algumas se destinaram a garantir a apreensão de bens adquiridos com possível prática criminosa e outras a resguardar provas relevantes que poderiam ser destruídas caso não fossem apreendidas”.
 
O objetivo elencado pelo MPF era, além de “resguardar provas relevantes”, também congelar bens obtidos a partir de prática criminosa, como a lavagem de dinheiro, por exemplo. Esse crime aplica-se, entre outros, às obras de arte, uma vez que o dinheiro desviado teria sido trocado pelos objetos como forma de limpar o montante de corrupção.
 
Contudo, as palavras de Janot no inquérito contra Collor (Inq. 3883), enviado a Teori Zavascki no STF, não asseguram a necessidade de apreender os automóveis. Nele, o procurador expõe que as suspeitas de desvios de dinheiro ocorreram via transferência direta das quantias e lavagem por empresas terceiras. Não é mencionada a presunção de lavagem de recursos por bens materiais (como nos casos de obras de arte de alguns réus da Lava Jato, ou os próprios carros).
 
No documento, Janot justifica, por exemplo, a ida da equipe policial à filial da Rede Globo. A Gazeta de Alagoas teria recebido depósitos de desvios que tinham Collor como destinatário final. 
 
 
O procurador-geral ainda oferece argumentos para o levantamento do sigilo do processo, para a inquirição do senador para que apresente a sua versão sobre os fatos, que já foi realizada no dia 29 de junho, e para a apreensão, também já concluída, de comprovantes de depósitos ao parlamentar na empresa GFD Investimentos.
 
 
Rodrigo Janot lembrou, inclusive, que para adotar mandados “mais invasivos” de buscas de provas para a possível prática de remessas ao exterior, seria preciso “melhor detalhamento e averiguação”. E não há qualquer menção à necessidade de apreensão dos automóveis.
 
 
A decisão em conjunto da PGR e da PF sobre o objeto dos mandados realizados nesta terça pode ter apresentado novas diligências e motivações, desde que o inquérito original foi enviado ao STF, em março deste ano. Tais possíveis mudanças, contudo, não foram divulgadas pelos órgãos.
 
Procurada pelo Jornal GGN, a Procuradoria Geral da República informou que não se pronuncia além do que já foi manifestado pelo procurador Rodrigo Janot. 
 
***
 
Leia o inquérito 3883, contra Fernando Collor, enviado pela PGR:
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

20 Comentários

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  1. Ontem, antes mesmo da

    Ontem, antes mesmo da publicação dessa informação sobre o inquérito eu já havia afirmado que a apreensão dos veículos era para a PF aparecer no noticiário e render manchetes. Não deu outra. A vaidade dos policiais federais, dos procuradores do MPF e de alguns juízes, assim como a sanha persecutória dessas autoridades e da mídia comercial a figuras políticas, NÃO têm limites.

  2. Mas peraí, que raio de imagem

    Mas peraí, que raio de imagem o JN botaria no ar para “ilustrar” a operação da PF ??

    É assim que funciona: Suspeitos pobres são esculachados em programas policialescos vespertinos.

    Suspeitos ricos e que não fazem parte da “patota” são mostrados algemados ou tem exibidos montanhas de dinheiro empilhadas cuidadosamente em uma mesa para serem fotografados ou tem suas propiedades exibidas com destaque na nossa impoluta mídia.

    Mais importante do que a justiça é o show e a manipulação que se pode fazer com essas imagens e suspeitas.

    Brasil, il, il….

     

    1. Eu digo  mesma coisa de outro

      Eu digo  mesma coisa de outro modo: inimigos sociais nos programas de polícia; inimigos políticos no horário nobre.

  3. O caso contra Collor ja caiu

    O caso contra Collor ja caiu aos pedacos cedo assim?!?!?!

    A aprehensao dos carros nao foi justificada por uma razao muito simples:  nao havia prova nenhuma exceto as palavras do delator.

    (E…  de novo…  Nos EUA ambos aprehensao de carros e processo sem prova previa seriam atos ilegais e invalidariam o processo inteiro.)

  4. Num momento tão delicado em

    Num momento tão delicado em que os operadores do direito deveriam ser mais e mais conscienciosos diante de qualquer possibilidade de excesso parecem querer mais e mais fazer pose de valentes; bem no estilo Eliott Ness tupiniquim teleguiado

  5. O mundo muda mas a falta de

    O mundo muda mas a falta de carater das pessoas continua a mesma…rs

    Quem diria que em um blog de esquerda haveria tanto choro por empreiteros serem filmados algemados, e politicos poderosos tendo bens apreendidos…

    rs

     

    Obs: Obvio que a legalidade deve ser observada porem a gente sabe que a questão aqui não tem relação com legalidade e sim com afinidade ideologica.

     

      1. Kkkkkkk na mosca. O infeliz é
        Kkkkkkk na mosca. O infeliz é tão Imbecil que a preocupação dele não é o tema do post. Mas sim ficar trollando os comentaristas. Vá entender a razão de vida desses malucos
        Nóia perde….

  6. Não nos esqueçamos que um dos

    Não nos esqueçamos que um dos ministros da Suprema Corte é primo do ladrão do Brasil quando eleito Presidente,em comunhão com a bandida zélia, e nada mais se disse, senão livrá-lo de todos os processos.

    1. E o pior
      é que vamos ter que esperar que todo este po seja consumido e metabolizado para que certas pessoas superem o surto, se é que o conseguirão.

  7. Color  comprovou que os

    Color  comprovou que os veículos apreendidos pertencem a pessoas jurídicas,portanto, não eram passíveis de declaração à Justiça Eleitoral. E agora? Arbitrariedade ou incompetência?

    E,para engrossar o caldo, a PF,estava a serviço do Procurador Geral da República,isto é, a PF agiu como  braços e pernas da autoridade coatora: Janot!

  8. PF midiática e estúpida.

    Não tenho nenhuma simpatia por mas ação    policialesca nas  câmeras da globo me causam horror. Típica das SS de Hitler.  

  9. Estão fazendo tanta merda

    Estão fazendo tanta merda nessa lava jato que vai acabar o judiciário, MP, e a PF ficando desmoralizados e os corruptos impunes.

  10. Que absurdo imaginar que os

    Que absurdo imaginar que os carrões do Collor possam ter sido comprados com dinheiro de corrupção!

    Qualquer hora, alguém neste blog vai sugerir arrecadar dinheiro p/ ajudar o Collor contra as injustiças desse país.

     

  11. Duas matérias no DCM

    Duas matérias no DCM fizeram-se repensar sobre a defesa de Collor. As duas sobre os carros do senador. Uma discorre sobre o que os carros de Collor falam sobre o Brasil, a outra é da revista Congresso em foco que denuncia as dívidas com IPVA dos carros apreendidos, que estão no nome de uma empresa de Collor e outra de amigos do senador e que estariam sob suspeitas de serem fachada para movimentações de dinheiro ilícito. Na realidade, são duas radiografias do poder político e de empresas no país. Isso tudo me fez lembrar do apartamento de Miami comprado por um ex-presidente do STF em nome de uma empresa criada  especialmente para efetuar a compra. E a sede da empresa era um apartamento funcional. O que mais isso diz sobre o Brasil? Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra. O que fica para nós, pobres mortais é que está tudo junto misturado ou tudo misturado junto. Nem fábula de Esopo nos salva.

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