Decisão natural de nova PGR vira suspeita de favorecimento a Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Marcos Corrêa/PR
 
Jornal GGN – A decisão da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, de permitir que o presidente Michel Temer preste depoimento sobre o inquérito do Porto de Santos, em que é acusado, passou de despacho atendendo aos devidos processos legais e constitucionalidade de procedimentos para ser vista como uma iniciativa de favorecer Temer.
 
A interpretação que foge de contextos e de pré julgamentos partiu da imprensa, nesta segunda-feira (02), quando Dodge forneceu a possibilidade de depoimento não somente ao peemedebista, como também aos demais oito investigados do mesmo inquérito. 
 
O despacho foi referente à investigação de irregularidade em um decreto da área portuária, assinado em maio deste ano, que teria beneficiado a empresa Rodrimar. A suspeita é de que houve corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo esta medida do governo.
 
A apuração, até então sob o comando de Rodrigo Janot, começou com a interceptação telefônica do ex-deputado e ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures, conversando com o subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, pedindo para acrescentar no decreto uma norma para beneficiar empresas que obtiveram concessão de portos antes de 1993, como é o caso da Rodrimar. O executivo da empresa, Ricardo Mesquita, também aparece conversando com Rocha Loures, articulando a edição do decreto.
 
Mesquita, Gustavo e Loures também são investigados, assim, como Antônio Grecco (dono da Rodrimar), João Batista Lima Filho (coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo, sócio da Argeplan), José Yunes (ex-assessor de Temer), Ricardo Saud (ex-executivo da JBS, atualmente preso) e Edgar Safdie (dono de empresas, muitas vinculadas ao setor imobiliário).
 
Iniciando a coordenação dos autos deixados por Janot, Dodge adotou um procedimento comum nesta fase do inquérito: ouvir os alvos da investigação durante a instrução penal. Além disso, a nova PGR pediu o levantamento de diversas informações, como o registro de doações da Rodrimar e empresas e empresários relacionados a Michel Temer e ao PMDB.
 
Solicita, ainda, dados do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil com os nomes dos integrantes do grupo que atuou junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) sobre a atualização da legislação no setor portuário, o texto do decreto enviado pelo ministro dos Transportes, Maurício Quintella, e as atas das reuniões de trabalho desde maio de 2016.
 
Entretanto, apesar de obviamente natural, o procedimento foi interpretado como quase um favorecimento ou decisão amigável da nova procuradora-geral à Michel Temer. “Dodge pede para ouvir Temer em inquérito do porto de Santos”, noticiou a Folha nesta segunda. 
 
Na noite desta segunda, Temer endossou o viés iniciado pelos jornais e, sem se preocupar de que a nova procuradora-geral da República está nas miras de observações por ter sido nomeada por ele, elogiou a decisão de Dodge. Nas redes sociais, o mandatário afirmou que Raquel fez “o que sempre pedimos”: “Permitir que pudéssemos nos manifestar previamente no procedimento, respeitando o Estado Democrático de Direito”.
 
Criticando Janot, com o claro objetivo de desqualificar a denúncia de autoria do ex-PGR, Temer: “É assim que se faz Justiça: com prudência e responsabilidade, ouvindo todas as partes envolvidas. (…) Muito bom que a PGR agora tenha uma nova postura, sem querer parar o Brasil com denúncias vazias e irresponsáveis”, publicou no Twitter.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Para ‘MT’, Raquel Dodge está no colo, assim como Dilma

    Quando, em parceria com Eduardo Cunha, com o próprio ex-PGR (que agora ‘MT’ finge considerar desafeto) e outros “impolutos” da política, como Geddel Vierira Lima, Moreira Franco, Eliseu Padilha e Henrique Edaurdo Aves, Michel Temer disse que a Presidenta Dilma estav no colo dele, ou seja, que a quadrilha peemedebista poderia roubar à vontade, pois ele, MT, podia garantir que a Presidenta não tinha forças para barrar o esquema da quadrilha.

    O cargo de PGR depende de indicação política e Raquel Dodge foi nomeda por Michel Temer, que ao contrário do Ex-Presidente Lula e da Presidenta Dilma Rousseff não se deixa levar pelo republicanismo ingênuo e suicida. Michel temer JAMAIS nomearia Raquel Dodge para PGR se ele não tivesse se comprometido a aliviar a barra para o ocupante da presidência da república. MT sequer tinha obrigação de escolher algum dos procuradores que integravam a lista tríplice corporativa do MPF. Corrupto profissional da velha política MT não nomearia Raquel dodge apenas para contrariar Rodrigo Janot.

    Percebo a blogosfera progressista um tanto perdida ao analisar os esquemas e consórcios estabelecidos pelos golpistas (PIG/PPV, ORCRIMs judiciárias, alto comando internacional, oligarquias escravocratas, plutocratas, cleptocratas, privatistas e entreguistas, FFAA, etc.). Nodia 18 de maio, Luís Nassif e outros analistas eleogiaram o núcleo brasiliense da Fraude a Jato e o próprio Rodrigo Janot. Nem a Globo nem qualquer veículo do PIG/PPV jamais quiseram derrubar MT qe as quadrilhas que o aapóiam eacompanham. A PGR e outras ORCRIMs judiciárias – que ajudaram a colocar no governo federal MT e as quadrilhas políticas que o apóam e acompanham – JAMAIS quiseram derrubar Michel Temer. O DoJ, a CIA, o FBI, a NSA, a NRO e outras agências e departamentos de espionagem e investigação dos EUA (que constituem o alto comando interancional do golpe) JAMAIS quiseram derrubar Michel Temer e as quadrilhas que o apóaim e acompanham, pois estes são prepostsos dos chefes estadunidenses.

    Considero otimismo precipitado ou ingenuidade avaliar as ações de Raquel Dodge ao longo de apenas duas semanas à frente da PGR como ela estivesse apenas atuando de forma natural e no estrito cumprimento da Lei e das funções atientes ao cargo. É cedo para avaliar (posita ou negativamente ) as ações de Dodge à frente da PGR. Prudência e canja de galinha não fazem aml a ninguém. Do ponto de vista formal, Raquel Dodge agiu corretamente, reconheça-se. Mas é preciso ter cautela, pois os que deram o golpe ainda precisam de MT e quadrilha para terminar o desmonte o Brasil.

  2. A prescrição…

    A prescrição e o esquecimento são caminhos longos, a serem pacientemente pavimentados.

    A razia do erário e das riquezas nacionais acontece nesse meio-tempo…

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