Ações preventivas e emergências climáticas
por Romeu Simi Júnior* e Luís Antônio Waack Bambace**
A ministra Marina Silva na TV falou que estamos em um novo normal, que não é mais possível usar fogo como ferramenta básica no campo, que as mudanças climáticas vieram para ficar e que a mata que antes não pegava fogo, tornou-se altamente inflamável, principalmente nos períodos secos. Aí se vê um brigadista no Pantanal quase na margem de um rio de porte combatendo o fogo com soprador. Tem água perto, mas ele não tem como atravessar o fogo para ir até lá, barcos demoram mais para chegar ao local do fogo que os helicópteros que levaram os brigadistas. Um sufoco, mas será que daria para prevenir um acidente destes de algum modo, impedindo a secura da vegetação junto a margem de um grande rio? Será que indo além, não se teria como garantir de algum modo uma zona de refúgio para os animais da região. Mata úmida não pega fogo. Dá para ter zonas de refúgio e contenção de incêndios via irrigação com barcos, caminhões-pipa, gotejamento, ou qualquer outro meio? Dá para ter represas subterrâneas de areia muito porosa, tampadas que armazenem água para irrigações de proteção contra fogo? Entre o coitado soprando perto do fogo, e uma onda de choque de explosivos, que empurre o material da frente de chama para longe de material que ainda não pegou fogo, qual é melhor? E se a bomba ficar dentro de uma esfera com água, e ao explodir graças a rastilho de propagação rápida aceso pelo fogo, espalhar água e soprar para longe do fogo o oxigênio. Um lado rígido bloqueia onda e outros itens, outro não rígido direciona rompe e por ele passa o material. A névoa de água evapora rápido e esfria tudo, o vapor de água leve gera ascendente, retira oxigênio da zona em combustão. Começou a ser feito em 2011 no exterior. Desde 1947 o exército americano e o departamento de incêndios dos USA contém incêndios com cordões explosivos que geram zonas similares a aceiros. Canos enterrados podem receber explosivos via bombeamento só na hora que eles forem necessários. Cordões de materiais explosivos novos foram desenvolvidos nos Estados Unidos para serem desenrolados só na hora H, um cordão detonado gera um aceiro de 3 metros, 4 deles 12 metros. A Austrália experimenta canhões com tiros de festim, para que as ondas de choque deles façam as chamas recuarem.
O solo seco é bem mais denso que a água, e se o agregado de solo e umidade do solo tiver mais de 20% de água em peso, as plantas ficam verdejantes, e praticamente imunes ao fogo. A palhada do plantio direto reduz perda de umidade e nutrientes do solo, mas pode queimar. Precisa-se mudar seu manejo? Enterrada o que acontece? Enterrada com bicarbonato revestido em filme de silicato de potássio protege a lavoura? O bicarbonato aquecido vira gás e quebra o filme de silicato, fazendo o papel de pó químico. E as bolinhas ficam inertes em qualquer outra situação. No que se refere ao plantio direto, Peche Filho do IAC recomenda: manter a cobertura vegetal viva ou a palhada de forma uniforme, evitando acúmulos excessivos que possam atuar como combustível, de modo a ter quantidade de palhada suficiente para proteger o solo, mas não em volumes que possam aumentar significativamente o risco de incêndio; realizar a trituração ou corte da palhada em momentos oportunos, para reduzir a massa seca que pode servir como combustível sem comprometer os benefícios de cobertura do solo; quando necessário, em áreas de alto risco, incorporar parte da biomassa ao solo para reduzir o risco de incêndio, mas mantendo o plantio direto; implementar uma rotação de culturas que inclua espécies com menor risco de incêndio, alternando com culturas que deixam resíduos mais inflamáveis; selecionar espécies de cobertura que possuam maior umidade na biomassa ou que tenham baixa inflamabilidade para reduzir o risco de propagação de incêndios. Mas infelizmente estas diretrizes não são seguidas pela maioria dos agricultores. Fora fazer arruamento de aceiros e molhar o solo antes de incorporar a palhada, ou periodicamente.
Hoje muito agricultor derruba a mata ciliar, assoreando rios, para ter mais área para plantar, aí na seca, sem mata que possa servir de barreira o fogo se alastra mais facilmente. Será que o próprio agricultor que tem meios de irrigação não faria o trabalho de garantir que a mata ciliar ficasse sempre úmida se mais conscientizado? Será que não caberia uma política federal de apoio as prefeituras para garantir matas ciliares preservadas e irrigadas na seca, para conter a expansão das chamas e abrigar animais, preservando a vida? Não caberia uma rede de canais com mata ciliar para bloquear fogo em propriedades rurais? Qual o impacto disto? Já se usa cerca viva para outros fins, porque não para conter fogo?
Rodovias não deveriam ter aceiros telados em ambas as suas margens para impedir que materiais em chama carregados pelo vento pudessem passar pelos aceiros aumentando a ameaça aos veículos e a chance do fogo passar para o outro lado da estrada. Aceiros telados assim não conteriam incêndios causados pelas bitucas de cigarro dos motoristas? Sem passar da tela, a bituca não chega na vegetação e não causa incêndios, que impedem a visibilidade na estrada.
Utilidade tem relação para Raiffa com a probabilidade de eventos. Um meio de combate a incêndio só é útil se não houver o incêndio, mas comprado já tem custos. Se o custo de compra for menor que a probabilidade do incêndio ocorrer multiplicado pelo dano do previsto caso o incêndio ocorra, a lógica diz que se tem de comprar ou implementar o sistema de proteção. Os 181 mil hectares de cana queimados em São Paulo recentemente geraram um prejuízo de 1,8 bilhão de reais, e ainda queimaram 100 hectares de cafezais, prejuízo de 1,4 milhão, outro tanto de milho, de soja … De grão em grão o prejuízo aumenta. Quando a chance de não ter fogo era baixa, não se justificava um alto investimento em equipamentos de controle de fogo nas matas e lavouras, mas agora o risco subiu, e eles e a pesquisa em novos métodos de controle e prevenção de incêndio se tornaram imperativos. Aí um barco subindo o curso de água rápido, e descendo com a correnteza devagar com barqueiro e controlador do canhão de água gasta no máximo de mão de obra com encargos R$ 120,00 a hora, tem baixo custo de combustível, e assim não gasta 140 reais a hora, e irriga se fizer uma margem por vez 10 hectares de faixa de margem de 35 m de largura por aplicação, ou 20 se o curso de água for estreito, caso a porosidade do solo seja a mesma de uma plantação de eucalipto. Assim, tem-se de 7 a 14 reais por hectare nesta condição. Se o terreno for menos poroso, anda-se mais depressa jogando menos água. Assim dificilmente o custo por aplicação vai passar de 28 reais por hectare. A questão é quantas aplicações se faz na seca, mas mesmo 5 aplicações, máximo de 140 reais tem um custo pequeno perto do custo de um hectare de cana, 100 mil reais, e mesmo os 4300 reais de um hectare de pasto. Vale a pena fazer 5 aplicações se chance de incêndio for maior que 3,2% se cada hectare de mata ciliar proteger um hectare de pasto, mas protege bem mais na realidade.
Falam em drones, robôs e tantos outros meios, será que com novos métodos de combate, como os cordões explosivos, não se pode usar robôs para sua instalação em emergência? Será que com detetores locais e drones autônomos com 300 litros de água cada, ou outro meio ainda mais eficaz, não se controla o fogo antes dele crescer. Sei lá se tanques de nitrogênio líquido de guardar sêmen não podem ficar em drones e jogar sacos plásticos com nitrogênio líquido nas chamas tão logo o incêndio comece?
O fato é que o combate a incêndios vai ter que melhorar muito, para compensar o aumento de riscos de incêndios decorrente do aquecimento global. Quão pior na Amazônia, Pantanal, Cerrado, Canaviais, Cafezais e tudo o mais será uma nova estação seca e suas queimadas?
Está na hora de se definir políticas públicas muito mais efetivas para a contenção de fogo no campo. A iniciativa do Plano Clima no Brasil Participativo foi interessante, mas sua divulgação não foi ideal. Assim parece que não se tem propostas eficazes em muitas das áreas relevantes, como fogo, uso de usinas reversíveis para redução de sangria de represas ou armazenamento de energia solar para o período noturno (que reduzem drasticamente a necessidade de termelétricas), o uso de biocombustíveis em geração elétrica, eventualmente em motores a biogás de alto rendimento (acima de 40%) com geradores lineares sem virabrequim, e por aí vai. Precisa de uma nova rodada, com melhor divulgação, ou talvez rodadas setoriais com vistas a cada tema, fogo, energia e por aí vai. Mas independentemente do plano participativo, tem de se implementar políticas públicas mais efetivas na proteção contra fogo no país com urgência.
*Romeu Simi Júnior é Arquiteto e Urbanista – FAU USP. Especialização em sensoriamento remoto na Universidade das Nações Unidas – UNU. Assistente Técnico de Promotoria do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Urbanismo e Meio Ambiente da Procuradoria Geral de Justiça do MPSP. (Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento aplicado ao controle de meio ambiente).
**Luís Antônio Waack Bambace é Eng. Mecânico, PhD em Aerodinâmica Propulsão e Energia.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
Leia também:
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.