“Não temos medo nenhum”, diz Greenwald sobre ameaça de investigação da Polícia Federal

'Há notícias de que Moro está investigando e ele nunca negou. Ele quer que fiquemos com medo e apreensão. Não temos medo nenhum. Continuamos publicando depois disso', afirmou jornalista

Jornal GGN – O diretor do site The Intercept Brasil, Glenn Greenwald participa nesta quinta-feira (11) de uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O jornalista foi convidado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para falar sobre os vazamentos de conversas entre o ex-juiz e atual ministro Moro, o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, e outros procuradores, pelo aplicativo Telegram.

A sessão acontece desde as 10h da manhã. Quando questionado sobre a denúncia de que o ministro da Justiça estaria usando órgãos do estado, como Polícia Federal e Coaf para investigar contas suas e de jornalistas do Intercept, Greenwald classificou a ação de Moro como atentado à liberdade de imprensa.

“Há notícias de que ele está investigando e ele nunca negou. Isso mostra a mentalidade do ministro. Ele quer que fiquemos com medo e apreensão. Não temos medo nenhum. Continuamos publicando depois disso. Vamos continuar publicando”, completou.

O jornalista voltou a confirmar que recebeu o material sobre a troca de mensagens do Moro, quando juiz na 13ª Vara de Curitiba, com procuradores da Lava Jato por uma fonte anônima que não quer ser revelada. Moro e os procuradores acusam que há o envolvimento de hackers, mas não conseguiram comprovar esse tipo de ação criminosa e se recusaram a entregar os celulares para a perícia na Polícia Federal.

Greenwald destacou sobre o direito da fonte de manter anônima que a Constituição Federal e o Código de Ética dos Jornalistas garantem o sigilo no jornalismo.

“Eu li a Constituição brasileira que protege e garante exatamente o que estamos fazendo e confio muito nas instituições brasileiras para aplicar e proteger esses direitos. O clima que o ministro está tentando criar é de uma ameaça à imprensa livre”, completou o jornalista que também é advogado.

Ele disse que ficou chocado a primeira vez que leu o material sobre as conversas pela primeira vez.

“Eu tinha nas minhas mãos a evidência mostrando que o tempo todo Sergio Moro estava não só colaborando com os procuradores, mas mandando na força-tarefa da Lava Jato”, contou.

O jornalista notou na sessão a baixa presença de senadores, lamentado por isso. “Eu gostaria muito de discutir frente a frente essas acusações falsas que eles estão espalhando quando não estou presente e esta é uma oportunidade para discutir essas acusações na minha cara, para examinar se elas são falsas ou verdadeiras, mas infelizmente eles não estão aqui para fazer isso”.

Sobre as acusações de estar a serviço de partidos de oposição ao governo Bolsonaro, o Greenwald pontuou que é ‘jornalista, não político’.

“Eu sou jornalista, não sou político. Não tenho fidelidade com qualquer partido. Publicamos artigos criticando partido de direita e de esquerda, inclusive o do meu marido [David Miranda, do PSOL-RJ]. Somos independentes. Estamos defendendo os princípios cruciais e fundamentais para uma democracia: a imprensa livre”.

Entenda

O portal The Intercept Brasil divulga desde o dia 9 de junho uma série de reportagens – algumas delas em parceria com outros jornais, como a Veja e a Folha de S.Paulo – mostrando que enquanto juiz, Moro atuou colaborando com o trabalho dos procuradores da Lava Jato, especialmente Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, combinando, até mesmo estratégias de comunicação.

O princípio da imparcialidade do juiz é uma exigência do Código de Ética Da Magistratura, que no capítulo III, artigos 8º e 9º, destaca:

“O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”. E, ainda que “ao magistrado, no desempenho de sua atividade, cumpre dispensar às partes igualdade de tratamento, vedada qualquer espécie de injustificada discriminação.”

Glenn Greenwald é vencedor do prêmio Pulitzer de 2013, por ter revelado o esquema de espionagem em massa dos EUA com base em vazamentos feitos por Edward Snowden. O Pulitzer é o maior prêmio que um jornalista pode receber no mundo.

*Com informações da matéria de Rodrigo Baptista da Agência Senado

Redação

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