ESPECIAL GGN: O que os dados de desemprego mostram sobre o Brasil atual

Total de pessoas desocupadas e fora da força de trabalho chega a 14,377 milhões de trabalhadores; subocupação mantém ritmo de crescimento

Foto: Reprodução

Jornal GGN – Os dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que as autoridades deverão ter atenção daqui em diante para que o impacto no médio e longo prazos seja menos intenso do que o vem sendo desenhado.

Por exemplo: no quadro abaixo é possível ver que a população economicamente ativa (PEA) durante o terceiro trimestre de 2020 aumentou em 3,132 milhões de pessoas em relação ao período dezembro-2019/primeiro bimestre de 2020, antes da pandemia de covid-19, elevando a população em idade de trabalho para 175,121 milhões de pessoas.

Do total de pessoas em idade de trabalho, 96,556 milhões compõem a força de trabalho (9,496 milhões a menos ante o cenário pré-pandemia), mas 82,464 milhões estão efetivamente ocupados (11,246 milhões ante o começo deste ano).

Desta forma, o total de pessoas sem trabalho (efetivamente desocupadas ou que fora do mercado de trabalho) representa 52,9% desse total, ou 92,657 milhões de pessoas – um acréscimo de 14,377 milhões de pessoas ante o visto no quadro pré-pandemia. E o encerramento do pagamento do auxílio emergencial, projetado pelo governo Jair Bolsonaro para ocorrer em dezembro – deve impulsionar esses dados nos próximos meses.

A subocupação

Transpondo essas informações para um cenário mais recente, a subocupação atingia 25,6 milhões de pessoas no trimestre fevereiro/março/abril, mas esse número disparou por conta da pandemia e, entre julho e setembro, chegou a 30,3 milhões de pessoas.

O gráfico abaixo mostra um crescimento expressivo da subocupação dos trabalhadores, principalmente depois que a flexibilização dos direitos trabalhistas foi autorizada pelo governo do então presidente Michel Temer, em 2017.

É possível ver uma curva de crescimento mais acentuada na subocupação em todos os dados de 2020, principalmente nos meses de março/abril e maio, e em maio/junho/julho – ou seja, quando as medidas de isolamento social eram mais rigorosas do que o visto atualmente, e em meio aos pagamentos das primeiras parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 pelo governo federal.

A composição do emprego

Praticamente todos os setores da economia brasileira reduziram a oferta de trabalho, mas o segmento de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas foi o mais afetado pela pandemia da covid-19, com perdas na ordem de 2,607 milhões de empregos.

Fatores como a restrição de circulação, que comprometeu a demanda por motos e carros de passeio, e a queda das exportações podem ser apontados como influência para tais números – dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam queda acumulada de 30,4% no ano até novembro para a produção de veículos, enquanto o tombo nas exportações chega a 34,2%.

Outros setores da economia que fecharam milhões de vagas ao longo da pandemia foram os segmentos de alojamento e alimentação, com um corte de 1,767 milhão de vagas, seguido pela área de serviço doméstico (-1,588 milhão de vagas), indústria geral (-1,583 milhão), outros serviços (-1,119 milhão).

De acordo com o IBGE, o setor de construção demitiu 902 mil pessoas entre o início da pandemia e o cenário atual, seguido pelo segmento de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, onde 710 mil trabalhadores perderam o emprego.

Os menores cortes foram apurados na agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, onde 90 mil foram demitidos, e na administração pública em geral, com 13 mil demissões. Nestes segmentos em especial, pode-se interpretar que os números não foram piores por conta da exportação de itens básicos (impulsionada pela alta do dólar) e pela demanda por profissionais de saúde para lidar com a pandemia.

Gráfico 01 – As vagas fechadas durante a pandemia

Mesmo demitindo mais de 2,6 milhões de pessoas, são as montadoras e o seu ciclo de produção e comercialização que continuam a empregar mais pessoas no país – conforme o gráfico abaixo, 15,246 milhões de pessoas estão trabalhando na área, ante 17,853 milhões antes da pandemia.

Gráfico 02: A composição do mercado de trabalho brasileiro pré e durante a pandemia

Os subempregados e desalentados

As chamadas zonas cinzentas da força de trabalho mostram um quadro tão dramático quanto o visto nos índices objetivos. Como é possível ver no gráfico abaixo, a desocupação e subocupação das pessoas aumentou de 17,8 para 21 milhões de pessoas desde o início do Covid. A subutilização – que identifica os trabalhadores que vivem de bico – saltou de 20,3 milhões para 30,3 milhões.

Segundo o IBGE, o percentual de desalentados na população na força de trabalho ou desalentada (5,7%) ficou estável ante o trimestre anterior, enquanto o número de empregados sem carteira assinada no setor privado (9 milhões) aumentou 4,3% (mais 374 mil pessoas) frente ao 2º trimestre. O número de trabalhadores por conta própria (21,8 milhões) variou 0,6 (mais 119 mil) contra o trimestre anterior.

 

Com colaboração de Tatiane Correia
Luis Nassif

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